30 de julho de 2010

Ih, lá vem

Pronto, fodeu: comecei a me preocupar demais com o blog e a gastar mais tempo pensando nele do que ele merece.

O primeiro reflexo disso é que ele vai mudar de nome.

Já não era sem tempo.

Em breve. Ou não.

27 de julho de 2010

Possessões noturnas (ou sobre minha melhor consulta com o dr. Google)

Não me lembro quando começou, acho que foi quando morava em Rio Preto (2006). Mas pode ter sido antes. O nome é paralisia do sono, mas isso eu só fui descobrir depois.

É assim: você está dormindo, e de repente acorda. Mas não consegue se mexer. Então pensa: "bom, devo estar dormindo, isso é um sonho." No fundo, você sabe que não é. Enquanto isso, ouve barulhos (na maioria das vezes, comigo, são sons fortes, como se uma britadeira estivesse dentro da minha cabeça) e até vê coisas (já vi luzes, sombras, formas desconexas, enfim). É assustador.

Pelo que pude entender do que já li por aí, nosso sistema nervoso envia um comando para os nervos que paralisa os músculos durante certas fases do sono, e a paralisia ocorre justamente quando a consciência desperta, mas o comando continua a ser enviado.

Na primeira vez que aconteceu, depois que acordei, de manhã, me lembrei do fato e resolvi ignorá-lo, tamanha era minha preocupação com a bizarrice daquilo tudo. Então aconteceu outras vezes, sempre em um curto espaço de tempo (até mesmo em uma viagem de ônibus, uma vez) e eu resolvi buscar ajuda.

Neurologista? Não. Ia acabar fazendo um eletro, uma tomografia, ele certamente ia associar aquilo às minhas crises de epilepsia do passado e eu ia ter que tomar um belo tarja preta - tô fora. Psiquiatra? Psicólogo? Podia ser, mas eu precisava de algo bem mais prático e confortante. Uma religião, talvez?

Apelei para a mescla entre religião e ciência: o deus Google, arauto dos desesperados, ícone maior da sabedoria humana na pós-modernidade.

Lá, aprendi que a paralisia do sono é considerado um distúrbio leve de sono (leve porque não afeta diretamente a vida do indivíduo, como a narcolepsia ou o sonambulismo), e que sabe-se muito pouco sobre suas causas (estresse pode ser uma delas - jornalismo, oi?). Cerca de 50% da população teve ou vai ter ao menos um episódio durante a vida.

Este quadro se chama "O Pesadelo", de John Henry Fuseli, e todo mundo o utiliza para ilustrar a paralisia do sono (então eu vou usar também)

Mas o melhor ainda vem: a paralisia do sono tem uma ligação profunda com a cultura de vários povos, já que é sempre associada a possessões demoníacas, ligações com espíritos e até abduções por ETs (cientistas acham que boa parte dos relatos noturnos sobre fatos como esses se devem à paralisia do sono). No Brasil, existe uma personagem do folclore para o distúrbio, a Pisadeira.

Em uma comunidade do Orkut (não vou linkar porque já saí dela e estou com preguiça de procurar de novo), aprendi inclusive dicas de como se livrar das crises - se concentrar para tentar mexer o dedão do pé, por exemplo.

Em outro site, eles ensinam que a paralisia do sono é a porta de entrada para o tal do sonho lúcido, um tipo de sonho que você pode controlar. "Massa", pensei, "quando tiver isso outra vez vou pensar na Scarlett Johansson e Penelope Cruz em uma praia deserta".

O grande problema é que a paralisia do sono sempre te pega de surpresa, e sempre assusta - a não ser que você tenha crises todos os dias e já esteja acostumado com elas, o que eu acho que, aí sim, seja um problema que necessite de tratamento médico.

Curiosamente, depois que me informei, as ocorrências cessaram por um longo período, até que eu tive uma no último fim de semana. Vi uma luz meio opaca na porta do meu quarto, enquanto uma turbina de avião girava a mil a alguns centímetros dos meus ouvidos; tentei gritar e me virar na cama - tudo em vão.

Scarlett Johansson? Penelope Cruz? Fica para a próxima, quem sabe.

18 de julho de 2010

Reabilitando Luís Manzoli

Tinha quase me esquecido porque meu avatar no MSN é um auto-retrato (foda-se os dois "r", este blog só segue as novas normas da língua portuguesa que acha interessante) do Neil Swaab.

Até que hoje fui organizar os links ali do lado direito e voltei a dar uma sapeada pela página do Mr. Wiggles.

Tem que clicar pra ver maior - e saber um pouquinho só de inglês

Gênio.

14 de julho de 2010

Obra demoníaca

Já comentei com vocês que minha família veio me visitar no feriado.

Minha sobrinha está para fazer um aninho, e a mãe dela (minha irmã) trouxe o DVD da "Galinha Pintadinha", que ela adora, para distrai-la caso precisasse. Infelizmente, precisou.

A obra é nacional, elaborada pela Bromélia Filminhos, de Campinas. O site oficial da bagaça resume a obra como "animações com as músicas do cancioneiro popular brasileiro que educam e divertem as crianças". É exatamente isso.

É claro que não é algo que eu, ou qualquer outro leitor deste blog, colocaria em sã consicência para assistir não fosse por causa de uma criança. E seria bem tolerável, para dizer o mínimo.

Não fosse a Mariana.



Ouvi isso aí UMA VEZ no fim de semana todo. Na noite de domingo para segunda, quando fui acordado no meio da madrugada pela crise de rinite (oi, amiga!), a música estava na minha cabeça, e juro que isso me irritou a ponto de atrapalhar a volta do meu sono.

Na segunda, terça e hoje, lá estava ela, a Mariana, com seu sorriso largo, ocupando um espaço imenso na minha cabeça, alinhada à inesquecível canção como trilha sonora. Até que eu me toquei: eu precisava ouvir a música de novo. E, ao fazer isso, veio a surpresa: uma sensação de prazer, de alívio, como numa sessão de sadomasoquismo.

A Mariana é auspiciosa: fez mal ao se instalar, mas agora que já me transformou, precisa ser alimentada. E, é claro, divulgada.

Me desculpem, amigos. É bem mais forte que eu.

Essa aí é a Maitê, com o tio coruja

13 de julho de 2010

A gente só queria um hamburguer

Na quinta-feira à noite, fui com minha mulher ao The Fifties, rede de lanchonetes com ar retrô (como o nome sugere) que inaugurou bem recentemente sua unidade em Ribeirão Preto, no RibeirãoShopping.

Chegamos no lugar às 20h20, pegamos a senha e fomos orientados a esperar "uns 10 minutos" até conseguirmos uma mesa - algo bem normal, ainda mais para uma nova lanchonete em Ribeirão (o povo daqui adora uma novidade, né?). Me lembro bem do horário porque olhei no relógio para ver quanto tempo esperaríamos.

Bom, esperamos bem menos que isso, e certamente antes das 20h30 estávamos acomodados com o cardápio na mão, em uma daquelas mesas onde um dos assentos é um sofá apoiado na parede (minha mulher adora isso). Um casal que nos deu espaço para sentar enquanto esperávamos pela mesa do lado de fora entrou em seguida e ficou na mesa logo ao lado.

Fizemos nosso pedido: uma coca, um suco de laranja, uma porção de "onion rings" e dois lanches. O casal ao lado fez o pedido quando o garçon trouxe nossas bebidas - você deve estar se perguntando "nossa, que povo enxerido, fica reparando no que o vizinho de mesa faz, é?", mas é que o espaço entre as mesas não é assim tão vasto, e fica impossível não reparar. E isso nem é uma crítica. Ainda.

Assim que chegou nossa cebola, pedimos uma porção de maionese para acompanhar (lá é TUDO cobrado separado - inclusive na montagem do hamburguer). E aí começou nosso tormento. Se me permitem dizer, a cebola estava excessivamente encharcada com óleo. Bem diferente da servida na Duets, por exemplo. Posso estar sendo cricri demais, mas enfim, é algo que não pretendo pedir de novo (se um dia voltar lá).

A maionese nunca veio. Os lanches, idem. O casal ao lado estava termimando de comer, tinha recebido a porção de molho barbecue e já estava com o cardápio em mãos para escolher a sobremesa. Eu e minha mulher lá, parados, com uma porção de cebola pela metade, uma lata de coca vazia e um copo de suco idem.

Neste ínterim, ouço um estampido e gritos atrás de mim. Minha mulher se assustou: um globo de uma lâmpada que pendia do teto caiu e, diz ela, por muito pouco, não acertou um rapaz que saboreava seu delicioso hamburguer com gostinho de anos 50. O troço caiu atrás dele, no topo da cabeceira do sofá onde estava sentado. Os funcionários se olhavam com uma cara tipo "WTF?".

Lá pelas tantas, um cara que parecia ser o gerente com um ritmo meio frenético passou pela mesa perguntando "e aí, tudo certo por aqui?" e se foi antes de ouvir direito minha resposta, resmungando, de saída, algo como "OK, vou verificar". Minha mulher começou a se impacientar e pediu para irmos embora. Eu argumentava: "Meu, isso aqui não é McDonald's, vamos esperar mais um pouco", talvez ainda iludido pelo desejo estomacal de comer um belo hamburguer.

Às 21h04, ainda às moscas, minha paciência também acabou. Chamei o garçon, pedi que cancelasse os lanches e que trouxesse a conta com o que fora consumido. Ele não fez isso. Se mandou para a cozinha e, às 21h09, voltou com nossos lanches (que, vale ressaltar, não tinham nenhum ingrediente estrambólico em sua composição). Eu disse: "Amigo, eu pedi o cancelamento e a conta. A maionese também não veio até agora, de qualquer forma... Quarenta minutos é muito tempo".

Ele balbuciou um "sim senhor" e trouxe a conta. E teve a pachorra de COBRAR OS 10% pelo serviço. Fiz questão de não pagar a taxa e me fui. Ninguém veio falar comigo, perguntar o que houve, dizer que sentia muito, talvez explicar que era um lugar novo e que estava em fase de adaptação... Nada disso. Nossa saída do The Fifties foi como nossa permanência no lugar: éramos invisíveis.

Dizem que o hamburguer de lá é bom. Mas juro, eu não estou mais disposto a experimentar. Neste caso, infelizmente, a primeira impressão foi a que ficou.

11 de julho de 2010

Potencial inexplorado

E então minha mãe veio me fazer uma visita no feriado.

A presença de minha mãe (e minhas irmãs, meu cunhado e minha sobrinha, que a acompanharm, neste caso), sempre garantem bons momentos - mas não é este o assunto deste post.

Ela me trouxe um presente, dois na verdade. Um é um desodorante - ela sempre me dá desodorantes, por que será? O outro é uma pasta com algumas coisas de meu passado, poucas coisas, fotos tiradas na escola, lembranças do Catecismo (sou praticamente um beato!) etc.

Parece que a gente é velho (estou com 29), mas só 12 anos me separam do colegial. Parece muito, mas não deveria ser. Quer dizer, tem gente por aí com 70 e poucos que se lembra bem do que fez na adolescência. Eu tenho alguma dificuldade em me lembrar BEM do que aconteceu naquela época, embora saiba reconhecer meus amigos e professores, lembrar seus nomes e a maioria dos acontecimentos daquele período.

Mas não consigo atribuir fatos a datas, ou descrever exatamente como era um típico dia na minha vida em 1998. Nem da Copa do Mundo daquele ano eu não consigo me lembrar!

Bom, agora eu descobri porquê. Eu provavelmente estava estudando.

Clica aí se você quiser ver maior

Certamente grande parte do monte de fórmulas, macetes e datas históricas foram substituídos ao longo dos anos, em meu cérebro, por uma série de inutilidades, lixo da cultura pop, sequências de notas de músicas em cifras para violão ou a série de botões para soltar um hadduken no Sreet Fighter, entre outras coisas. Por isso eu não me lembro.

Eu realmente deveria usar meu potencial para construir pontes, fazer leis ou descobrir a cura do câncer, mas cá estou eu, diariamente tentando encaixar títulos de 40 caracteres em espaços onde cabem 30. De vez em quando, com um trocadilho. Uau.

PS: Notem que a única nota "vermelha" é um honroso 5,5 em Educação Física, o que deixaria orgulhoso até o nerd mais estereotipicamente elaborado do planeta. E, mesmo assim, eu dei um jeito de me recuperar e fechar o ano com um 10.

28 de junho de 2010

Mitos do jornalismo

Todo jornalista adora o que faz - É um pensamento bem lógico, como um silogismo: "Pessoas trabalham porque gostam ou por dinheiro / Jornalistas ganham pouco e trabalham muito / Logo, jornalistas trabalham porque gostam." Mas, infelizmente, é mentira. A maioria dos jornalistas não faz ideia do que vai encontrar pela frente quando assinala a opção da lista de inscrição do vestibular, e o faz apenas porque acha tudo ligado à profissão muito legal, cool e superbacana. Quem, depois de passar por quatro anos de faculdade, ainda insiste na lida e não arruma marido/mulher ricos, com certeza chega no primeiro dia de trabalho e pensa: "caralho, que merda fui fazer da minha vida?". Esse pensamento vai segui-lo para sempre, simplesmente por preguiça e medo de mudar. Jornalistas são grandes conformistas e acham que não sabem fazer mais nada da vida - talvez porque pensam que sua profissão é boa demais para ser trocada por outra, vai saber. Jornalistas não se submetem à rotina massacrante e sem-graça de salários ridículos porque gostam do seu trabalho, porque na verdade, eles o ODEIAM. E todos eles sabem disso. Aquela satisfação que eles sentem quando emplacam uma machetinha, ou quando dão um furinho na concorrência é só um escape, uma fuga do contexto, um alento, a rosquinha do Homer Simpson, uma falha na Matrix, o doce para o rato no labirinto do laboratório. É uma profissão ardilosa.

Parágrafo único - Você pode virar um William Bonner e ganhar dinheiro pacas, mas ainda assim será um jornalista. Pense nisso.

Jornalista sofre - OK, isso não é um mito, é verdade. Mas eu não entendo porque tem jornalista que ADORA proferir aos quatro ventos que trabalhou demais, escreveu cinco abres com duas subs e uma arte cada, que ficou no pescoção até as 4h da madrugada, que está trabalhando há 30 dias sem folga... Eu mesmo já fui assim. Oras! Se a profissão que você escolheu é uma bosta e você é um fracassado, não tente fazer com que as pessoas tenham pena de você por isso! Não tá gostando sai dessa, cara! Ou então, se quer sofrer de verdade, vá carpir terreno ganhando salário mínimo, vai! Fica aí com a bunda na cadeira ouvindo iPod, ganhando jabá e ainda acha que a vida está ruim, é?

Jornalista é jornalista "24 horas por dia" - Deve ter gente que é mesmo. Eu, graças a Deus, não sou. Nem preciso ser. Até porque é preciso, sei lá, dormir, né? Pelo menos. Tem um pessoal por aí que leva isso tão a sério que acaba levando para a redação hábitos que deveriam deixar só em casa - como produzir merda, por exemplo. Acho que a maioria dos jornalistas que dizem isso o fazem porque acham bonito mesmo. Com um salário de miséria, é como se fosse um diferencial: "minha profissão é tão nobre que não posso desligar por nenhum momento". Grande vantagem!

Jornalista é estressado - É comum associar a imagem do jornalista a café e cigarro. Eu acho que é exatamente por isso que a maioria dos jornalistas bebe café e fuma. Uiuiui! Jornalista A-DO-RA ficar estressado! Faz parte do glamour da profissão. Mas, na verdade, grande parte dos profissionais que conheci ao longo de minha curta carreira são bem sossegados e gente boa. Os mais nervosos são assim não por causa do jornalismo, e aposto que também seriam esquentadinhos se fossem médicos, economistas ou faxineiros.

Jornalista sabe (ou precisa saber) de tudo - Ahan! Essa é uma máscara dos jornalistas que já caiu faz tempo perante a sociedade. Jornalistas são notoriamente conhecidos como os "especialistas em generalidades", aqueles de tudo sabem um pouquinho. Mas é bem pouquinho mesmo. Leem só as manchetes, e mesmo quando se aprofundam por algum tempo em alguma história, ela logo é substituída por outra, quando não por algum assunto de interesse do próprio jornalista (que, vale lembrar, é uma pessoa). Jornalismo é um trabalho, catzo! Ou alguém acha que os jornalistas chegam em casa e pegam um belo livro para ler sobre dengue, a crise da saúde pública ou as nuances da balança comercial? Exceção, claro, para os jornalistas especializados (quem?) - mas estes, coitados, só sabem mais um pouco sobre algo que só a minoria quer saber.

Jornalista é bem informado - É uma variante do item acima. No churrasco com a família, chega o amigo do tio: "Você é jornalista, né? É verdade que o Dunga vetou a entrevista exclusiva com a Fátima Bernardes?". Sei lá eu, oras! Não estava lá! Ou então, no jantar com um amigos, tem sempre um jovem advogado ou alguém que mexe com negócios, um yuppie: "Ih, rapaz, se o dólar continuar caindo assim o mercado não aguenta! Não é, Luís?" Tento encontrar a piada na pergunta, mas eles falam sério. E eu pensando só no próximo lançamento para o Wii...

21 de junho de 2010

Como joga esse time do Dunga!

Brasil x Costa do Marfim, 20 de junho de 2010, domingo. Seguem alguns comentários que ouvi durante a partida e após o fim dela, ao vivo ou em Twitter e afins:

"Esses negão aí (Costa do Marfim) correm bem mais que os brasileiros."

"Tomara que o Elano tenha quebrado a perna (após receber falta criminosa e ter marcado um dos gols do jogo) para ficar fora da próxima partida."

"Ah, mas esse gol até minha vó fazia (sobre o gol do Elano)."

"O gol do Luis Fabiano foi um golaço. Mas também, contra a Costa do Marfim..."

"Precisa usar a mão pra marcar contra a Costa do Marfim?"

"O jogador da Argentina pediu música do The Killers no Fantástico. O Luis Fabiano pediu Exaltasamba. Somos mesmo melhores em tudo"?

Fazer piada é uma coisa, eu sei. Mas eu não consigo entender porque há tanto pessimismo, tanta autodepreciação em torno da seleção brasileira.

Na seleção, há muito espaço para críticas, principalmente nas atitudes do Dunga e até mesmo na qualidade técnica de alguns jogadores. Mas há muito exagero.

E a única explicação que eu vejo para isso é a mesma da qual todos acusam o Dunga: rancor. Rancor da imprensa por fechar os treinos, blindar entrevistas e evitar a troca de informações de bastidores. Rancor da torcida por não ter levado o Ganso, o Neymar e o Rui do Chapéu.

Você pode adorar o Ganso e o Neymar, mas o fato deles não terem sido convocados não torna seus substitutos (no caso, Julio Baptista e Grafite) automaticamente uns imbecis.

É como aquela coisa do crítico de música: não é porque você não gosta de determinada obra que ela é ruim. Aceite isso. Seria muita arrogância, né? Se você acha que tal jogador é ruim, me dê argumentos que sustente sua tese. Errou um passe? Perdeu um gol? Bom, isso tudo já aconteceu com Ganso, Neymar e até com Pelé. Se não gosta dele, é outra coisa.

Da mesma forma que não gostar do Dunga não tira o crédito de todo o trabalho dele (ele foi o capitão do tetra, porra!) e de toda sua equipe.

Infelizmente, criou-se a ideia geral de que ser crítico, ser "do contra", é sinal de inteligência, de "personalidade".

Os resultados de Dunga e de sua equipe até agora estão aí, inquestionáveis. E eu nem digo que quem fala mal à toa desse time não entende nada de futebol, porque eu também não entendo. É pura questão de confiar e torcer, se ligando nos pontos fortes (eles existem). Com essa seleção aí nem precisa tanto esforço.

Se o Brasil ganhar a Copa (eu acredito que vai - e apenas acredito, sem me basear em elemento científico nenhum), com certeza vamos ouvir "ah, o nível da Copa estava muito baixo, só assim mesmo." E essas mesmas pessoas, daqui a alguns anos, se esquecerão de tudo isso e dirão, orgulhosas: "como jogava aquele time do Dunga!"

Eu prefiro fazer isso agora.

3 de junho de 2010

Sobre não fazer nada

Nos meus bons tempos de faculdade, no final de mais uma rodada de War II (sim, sou nerd) madrugada adentro, alguém reclamou que não teria tempo de dormir para a aula (cof, cof) do dia seguinte.

Aí um amigo veio dizendo que uma pesquisa comprovou - como eu não sei - que, a cada hora menos que o necessário que determinada pessoa dorme, ela perde 15 minutos de vida. Um outro amigo, que realmente deveria investir na carreira de stand-up comedy, completou: "Ah, mas aí você ganha os 45 minutos em que ficou acordado, né?"

Foi uma piada, mas o fato é que eu penso assim.

Dormir é o ápice do ostracismo humano. Como não? "É importante para o organismo, descansa. Recarrega as baterias." Sim, claro. Mas produzir mesmo, ninguém está produzindo nada.

Nem os sonhos a gente controla! Respiração? Pfff... Se colocarem veneno no ar, morreremos, tamanha nossa falta de controle da situação - afinal, não podemos fazer NADA a respeito de qualquer coisa que seja.

Mas calma. O presente post não é uma ode à hiperatividade ou a defesa daquela coisa idiota de que #dormirehparaosfracos. Só acho que, se for para fazer nada, que seja com estilo. E acordado.

Acontece que minha definição de fazer nada é bem ampla. Desde muito cedo, e sei lá como, aprendemos que temos que estudar, trabalhar, criar filhos e morrer.

Pois bem: para mim, o que não está relacionado a isso é fazer nada. Cinema + jantarzinho no sábado à noite? Descanso (mesmo com todo o trabalho que dá para arrumar vaga no estacionamento). Almoço intercalado durante dois períodos no trabalho? Tortura medieval. É mais ou menos assim.

A solução aparente seria transformar o trabalho em NADA, mas isso é impossível. E eu não acredito naqueles que dizem: "nossa, adoro meu trabalho".

Você pode integrar o elenco fixo de filmes pornô com a Scarlett Johansson, ou ser degustador de cervejas tchecas, mas sempre vai ter um dia em que vai acordar e pensar: "estou de saco cheio disso aqui! Quero fazer nada!" Como dizem, tudo que vem em excesso faz mal - e o trabalho obviamente se inclui nessa categoria.

Ultimamente, tenho pensado cada vez mais em como seria legal ter mais tempo para fazer nada. Não sei qual religião diz que o paraíso é aquilo que a gente quer que ele seja, mas eu acredito nisso. E quero que o meu seja um monte de nada.

Até lá, vou tentando a sorte na Mega-Sena.

PS: Descobri que esse blog agora tem audiência, já que foi linkado pela Gabriela e consta na lista de favoritos da Marina. Vou tentar tomar vergonha para melhorar um pouco tudo isso aqui. Obrigado, meninas!

6 de maio de 2010

Meus vinte e poucos quilos

Então é isso. Em pouco mais de um ano, emagreci 20 quilos.

Eu me lembro de ser gordo desde criança. Hoje sei que o que incomodava mesmo eram umas certas gorduras localizadas nas laterais do abdômem (que, é claro, ainda existem). Na adolescência, a falta de atividade física e comida em total descontrole me fizeram um gordo propriamente dito. Mas nunca me preocupei com a balança, saúde ou afins. Nem me pesava. Mas, é claro, me achava inadequado. A coisa continuou degringolada com o início de minha profissional, que estimula o sedentarismo.

E assim foi, basicamente, até o ano passado. Em um belo dia do feriado de Carnaval, fui com minha então noiva comprar o terno que usaria no meu casamento. O maior número da loja ficou apertado em mim. Essa situação, aliás, que não era nada nova em lojas de roupa, mas naquele contexto me serviu de alerta: "Taí a oportunidade". Antes de mudar para uma loja do Gordo Elegante ou coisa que o valha, comprei o terno daquele jeito mesmo e parti determinado a entrar nele até setembro, quando seria o casamento. Eu tinha seis meses.

Minha primeira atitude foi procurar um médico. Cardiologista. Uma grande figura. Expliquei que queria começar a fazer alguma atividade física, ele fez um check-up (não me lembrava de ter feito algum desses até então) e, milagrosamente, meus exames deram tudo OK. Pressão, glicemia, colesterol. Ufa, pelo menos isso.

Entrei, então, para a academia. Ni primeiro dia, subi na balança: 108. Alguns meses antes, quando morava em Jundiaí, me lembro de ter ido a uma farmácia e inventado de me pesar. Deu 113. Então até que estava no lucro. Naquele momento, no entanto, meu IMC ultrapassava a marca dos 30, o que caracteriza a obesidade. Ninguém me chamaria de obeso, acho, mas com certeza me apontariam como referência em uma aglomeração de pessoas: "O banheiro fica ali atrás daquele gordo", ou então "Ah, não conhece o Luís? É aquele gordo..."

A experiência na academia durou pouco. Com incentivo zero e péssimas experiências passadas, não foi pra frente. Fiquei dois meses, acho, mais faltando do que indo, e saí de lá do mesmo jeito que entrei. Com umas gramas a menos, talvez. Então apelei aos químicos. Procurei uma endrocrinologista que me receitou a sibutramina. Era o que eu queria. Afinal, precisava emagrecer rápido (o objetivo mesmo era entrar no terno). O remédio funcionou maravilhosamente, mas até hoje me pergunto se era mesmo efeito dele ou do meu psicológico a falta de fome à noite, horário que sempre foi crítico para minhas aventuras gastronômicas.

Tive o bom senso de usar a sibutramina para mudar alguns de meus hábitos. Passei a acordar cedo (o remédio que tirava o sono mesmo) e a comer melhor (tomar café da manhã, hábito que não cultivava, salada no almoço, lanche leve à noite). Às vezes, não comia nada à noite. Ou comia bolachas. Como estava acordando cedo, passei a fazer caminhadas, se não diárias, quase isso. Me lembro de alguns amigos que me diziam: "esquece, caminhada não emagrece nada!" Pois bem: em quatro meses, perdi 12 quilos. Fui a 95: foi com esse peso que eu casei.

Minha médica dizia que eu poderia continuar tomando a sibutramina até por mais dois anos, se eu quisesse, mas eu não queria. Uma porque o objetivo já estava cumprido, outra porque eu não queria mais ficar me entupindo diariamente com uma substância esquisita e, principalmente, porque o diabo do comprimido FODEU com meu intestino. Sim. O que antes funcionava perfeitamente bem, com produção diária de cocô à vontade, parou. Efeito colateral, dizia a médica. Acontece em alguns casos.

Cheguei a ficar quatro dias sem ir ao banheiro, o que para mim era uma situação desesperadora e inimaginável. E altamente prejudicial também: eu ficava pensando naquele monte de comida acumulado dentro de mim e via minha barriga com o triplo do tamanho real (paranoia total). Quando voltamos da lua de mel, eu e minha mulher, nossa primeira atitude foi entrar na academia. Meu medo era, sem o remédio, voltar a engordar.

Procuramos uma academia bacana, anti-traumas, e deu certo. Felizmente, também consegui manter os hábitos adquiridos na época da sibutramina, e não sofri do chamado "efeito sanfona". Ainda acordo cedo, ainda como direito. Meu intestino ainda falha: contra isso, tomo um suplemento de fibras receitado por um proctologista (sim, eu fui a um).

Na academia, já consigo correr por 30 minutos seguidos (dependendo da animação do dia - assunto para um outro post). Hoje, fiz minha segunda avaliação: 88 quilos, menos porcentagem de gordura, mais músculo. Minhas roupas velhas estão largas. Muitas eu já dei. As que minha mulher me forçou a comprar mais "na medida" estão OK hoje.

Mas ainda assim me considero longe do ideal. Ideal? Não sei mais o que é isso. Ainda tenho barriga, tenho as tais gorduras, mas me sinto bem. Às vezes. Se fico um dia sem ir à academia, logo penso: "merda, engordei uns dois quilos hoje", mesmo comendo pão integral com alface e queijo branco na janta, arroz e frango grelhado no almoço e banana no café da manhã. Para ajudar, sempre tem o churrasco da família, a cerveja com os amigos, o lanche com a patroa para fugir do trivial, a feijoada do sogrão: comer é uma atividade social, e não apenas fisiológica (e disso tudo, nesse tempo todo, eu não abri mão).

Vou continuar com tudo, claro, mas talvez agora não me exija mais tanto. Emagrecer é difícil. A gente se cobra, encana, acha que não está bom, continua se vendo da mesma forma, estabelece metas inatingíveis.

Então, fica assim. A gente se vê nos 80, OK?

PS: O terno precisou ser ajustado. Para um tamanho dois números menor. E ficou sobrando.

19 de abril de 2010

Teoria do Caos no futebol

Antes de mais nada, aviso aos incautos que não sou físico e muito menos estudioso da Teoria do Caos. Sou um curioso, e tomei conhecimento dela da forma como costuma acontecer com meros mortais (meio nerds, é verdade): pela cultura pop.

Se você quer seguir o mesmo caminho que eu, assista aos clássicos da trilogia "De Volta para o Futuro"; "Corra, Lola, Corra" (o mais metafórico) ou "Efeito Borboleta" (o mais claro e direto). Eles te darão uma boa ideia do que trata a teoria.

Se você não quer ver os filmes antes de continuar lendo este post, tudo bem. Em linhas MUITO gerais, a Teoria do Caos diz que tudo, mesmo o acaso, é o resultado de ações combinadas. Ou seja: se você acorda e abre primeiro o olho direito, seu dia será de um jeito. Se abre o esquerdo, será de outro. E a tese vai além: diz que é possível calcular o resultado final de um conjunto de ações aleatórias em qualquer cenário (tem muita universidade séria financiando malucos pra descobrir como).

Enfim. Eu meio que acredito na Teoria do Caos. É bem óbvio que o futuro depende de nossas ações, e não me parece muito absurdo que dependa também dos atos que não controlamos. Ora, por que não? "Corra, Lola, Corra" expõe isso de forma magnífica (sério, se você ainda não viu esse filme veja agora ou dê logo um tiro em sua têmpora direita).


Caralho, o que diabos vai acontecer agora?


Pois então. Pensando em tudo isso, me incomoda deveras quando ouço comentaristas de futebol discutindo o que poderia ser se acontecesse tal coisa no jogo do dia anterior. É um maniqueísmo determinista completamente sem sentido e vazio.

Neste domingo em que escrevo, o Santos venceu o São Paulo na semifinal do Campeonato Paulista. O primeiro gol foi marcado pelo Neymar, com a mão. E ai vão os gênios: "Ah, mas mesmo se o juiz anulasse a jogada, o São Paulo não se classificaria, pois não marcou nenhum gol". Segundo a Teoria do Caos, se o juiz anulasse, ou mesmo se o gol tivesse sido marcado com os pés, ou no centésimo de segundo antes do que realmente foi, tudo poderia ser diferente. O São Paulo poderia ter feito quatro gols. Um meteoro poderia ter caído em campo. E na Tailândia poderia ter chovido canivetes. Sacaram o espírito?

E o mais legal: para o Neymar ter feito o gol com a mão, naquele momento da partida, uma série de coisas (não só no jogo, mas no universo todo) aconteceu EXATAMENTE COMO TINHA QUE ACONTECER. É loucura, eu sei, mas um dia alguém vai descobrir esse segredo e vai dominar o mundo. É nisso que acredito.

Aquela vontade

Às vezes, em várias situações, me dá uma vontade de produzir alguma coisa. Alguma coisa diferente do que usualmente faço. Exemplo: hoje, caminhando, vi luminosos em prédios que se sobrepunham e pensei: "se tivesse uma máquina fotográfica, faria uma foto; ela resumiria bem a urbanidade dessa parte da cidade."



Aí, enquanto a música acima tocava em meu fone de ouvido, eu pensei: "que música do caralho!". E me pus a imaginar o roteiro de um vídeo para ilustrá-la. Para poder executá-lo, com os meios disponíveis, poderia ser uma animação ou, no máximo, uma composição em slow motion. Na minha cabeça, saíram algumas ideias bacanas; e se eu tivesse como filmar de verdade (com atores etc.), seria melhor ainda.

Não tem um dia que eu não sente na frente do computador e pense: "hoje vou escrever aquele conto, ou aquela crônica, daquela ideia que tive outro dia". Ou: "hoje vou começar um romance". Nunca aconteceu.

Imagino que muita gente tenha vontades como essas. Alguns criam blogs, montam bandas, compõem músicas, desenham, fotografam.

Eu, não faço nada.

23 de fevereiro de 2010

A eternidade em 23 minutos

Acontece de repente, e muito de vez em quando. Ultimamente, tem sido muito raro. Nem lembrava quando tinha sido a última vez. Mas eis que eu estou, de novo, apaixonado por uma música.



É o seguinte. Conheci o Luna, autor da pérola (na maior das acepções da palavra) "23 Minutes in Brussels" em um show em Londrina, que, pesquisando no Google, descobri ter ocorrido em 28 de setembro de 2001. Naquela época, uma produtora da cidade, a Madame X, inundava as noites londrinenses com shows de grupos de lo-fi e afins. Eu não conhecia patavinas de Luna, mas fui. E foi bem divertido: vocalista blasé (numa definição positiva, acredite), baixista bonitona blasé ao quadrado, bateirista blasé ao cubo e um guitarrista que não tinha nada de blasé (era, inclusive, um sósia do ET do "Homens de Preto" - sério!). As músicas, desconhecidas, passaram; deu para repetir alguns refrões e tudo bem.

Depois, acabei comprando o CD do show que eles apresentaram - o "Luna Live" - em uma dessas promoções de discos da Trama. Conheci melhor algumas músicas, mas a verdade é que o Luna nunca figurou entre minhas bandas preferidas. E, com o passar do tempo e minha recente desilusão frente à música de forma geral, acabou esquecido no limbo da minha estante de discos.

Até domingo passado. Fui fazer minha caminhada/corrida (?) e me pus a escutar o disco no mp3 player (sim, mp3 player, é um genérico, eu não tenho iPod). Ouvi o disco quase inteiro, me lembrei de algumas músicas, por outras passei insolenemente, até que me deparei com uma bateria e um baixo convidativos. E logo depois uma guitarra displicente. E a bateria explodindo (no máximo que o lo-fi permite "explodir", claro). E a guitarra base, num timbre fantasmagórico. Fora o solo de longos minutos, como se fosse parte da rotina obrigatória de uma boa peça de lo-fi e space rock. "Meu Deus!"

"Left my hotel in the city", começa a música. "Hum, bacana". Ouvi inteira, e tudo bem. Domingo, procurei o vídeo dela no Youtube. E as letras. Ontem, no caminho para o trabalho, foi ela que escutei (levo apenas oito minutos para ir de minha casa até o trabalho; a música tem pouco mais de sete). Hoje, a mesma coisa. E aí, no final da tarde, me veio uma vontade irresistível de ouvi-la. Nunca fiz isso no trampo, mas botei o fone no ouvido esquerdo e mandei ver. A constatação: eu estava apaixonado.

"23 Minutes in Brussels" é absurda de boa. Mas tenho, também, plena convicção de que daqui a uma semana, ou menos, poderei não estar mais achando isso (assim como já aconteceu com tantas músicas pelas quais me apaixonei). Tudo bem, acontece.

Constatar a minha paixão (me deu vontade de usar aspas agora, mas seria um erro) me fez enxergar outra coisa: tenho um sentimento meio contraditório pelo fato de ter, por tanto tempo, alimentado meu "vício" (aqui sim) por descobrir bandas novas. Contraditório porque, não fosse por isso, eu jamais teria descoberto "23 Minutes in Brussels" e outras tantas pérolas perdidas por aí, mas também me parece uma tremenda perda de tempo ter corrido tanto atrás de tantas referências, dicas e etc.

Por isso eu dou risada de gente que se gaba por ter um zilhão de discos. Tipo de gente que eu já invejei. Essa que se gaba pelo "ter", mas que no fundo não sabe admirar de verdade o que possui. Quando muito, mal conhece o que lota suas prateleiras. É com descobertas como a de "23 Minutes in Brussels" que vejo que a música é uma experiência subjetiva, única e insubstituível. E aqui, mais que em qualquer outro contexto, qualidade vale muito mais que quantidade.

10 de janeiro de 2010

Em Prudente, o número 1 é mais embaixo

Ok, interrompo minhas férias internáuticas (no meio de minhas férias reais) porque o assunto pede urgência. Na verdade, eu adoraria ter um blog "sério", segmentado, não para viver disso - exatamente o contrário, a ideia é ter liberdade e tempo o suficiente para fazer o que bem entender -, mas sinto que seria legal tocar algum projeto com uma cara mais, digamos, profissional.

Enfim.

Se meu blog sério fosse sobre crítica gastronômica, eu teria arrumado um forte inimigo. Um inimigo número 1, eu diria.

Passando breve temporada em Presidente Prudente, cidade abençoada onde vive minha família, fui à pizzaria Número 1 ontem, com minha digníssima, cunhado, irmã, sobrinho e mãe. Já conhecia o lugar, sabia que a pizza era mais ou menos (digna, mas nada demais), mas a decisão acabou se mostrando um grande erro. O local estava abarrotado de gente. Fila quilométrica para pegar mesa, pessoas saindo pelo ladrão. Até que não demoramos tanto para conseguir um lugar, mas estava bom demais para ser verdade.

Meu cunhado precisou pedir uma cadeirinha especial para meu sobrinho (ele tem dois anos) para três garçons diferentes. Demorou uns cinco minutos até podermos fazer o pedido, que era bem simples: refrigerantes, cervejas e cinco rodízios. O primeiro pedaço demorou, sem dúvida, mais que cinco minutos para chegar. E se você pensa que isso é pouco tempo, e que estou reclamando de barriga cheia, me perdoe, mas você nunca foi a um rodízio de pizza decente.

Entre um garçom e outro, trancorria-se uma eternidade. A ponto de querermos ir embora. Como se isso ja não desabonasse o atendimento, um dos refrigerantes veio no copo sem gelo (apesar da ênfase no pedido) e um dos garçons derrubou um pedaço da pizza de alho na mesa quando foi servi-lo (foi alho frito para tudo quanto é lado - e ninguém sequer se deu o trabalho de limpar!).

Vale lembrar que o valor do rodízio é de R$ 17,50. Um absurdo pelo serviço porco, pelo local (que não oferece nada além de um galpão lotado de mesas, sem decoração especial ou algo que o valha) e pelas pizzas em si (contei cinco pequenas rodelas de palmito no pedaço da pizza desse sabor que me foi servido). Até na Cascata, em Ribeirão, com rodízio a R$ 9,90, arrisco dizer que tudo é bem melhor.

Na hora de pagar, pelo menos, a única coisa boa: o cara não teve a cara de pau de incluir os 10% da taxa de serviço. O que mostra que eles são ruins, mas ao menos têm autocrítica.

(Agora vem o momento "análise sócio-política regional" incitado pelo puro e simples sentimento do blogueiro de que este espaço é dele e ninguém pode impedi-lo de dizer o que ele quer)

O triste de tudo isso é que essa tal Número 1 é, de fato, uma das únicas (ao lado de umas outras, sei lá, três) opções em Prudente para se comer uma pizza. O lugar é assim e vai continuar assim. Meu cunhado mesmo disse "ah, é sábado, a gente veio tarde, lota mesmo, os caras não aguentam". Não aguentam? Ora! Que contratem mais gente! Ou limitem o número de vagas para os clientes - ah, é claro, isso os forçaria a buscar uma opção melhor, ou quem sabe, faria com que um deles mesmo abrisse sua própria pizzaria na cidade, não é mesmo?

Prudente é a capital de uma região pobre, esquecida e abandonada, pelo Estado e pelos seus próprios governantes. A cidade não se desenvolve por uma série de (des)interesses, mas para o pessoal de Sadovalina, Teodoro Sampaio, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Alfredo Marcondes e afins, comer uma pizza na Número 1 no sábado à noite equivale ao "teatro (cinema) - jantar (barzinho)" do paulistano suburbano. É o máximo visitar a metrópole.

Posso estar sendo irritantemente pedante? Posso. Mas sei que tenho um fundo de razão. Muita coisa aqui poderia ser melhor, mas não é simplesmente porque não precisa ser. Para a maioria das pessoas, está bom assim.

Como diz um trecho do hino da cidade, "qualquer raça do mundo/ que nela aportar /o labor e o amor profundo/ há de encontrar".

Labor e amor profundo sim, já bom atendimento em serviços vai ser difícil...

Como?

Na home da Folha Online em 10/01/2010:

Trinta e nove, 250, 11...

Como diria uma professora da faculdade, "precisão, percebe?"

22 de novembro de 2009

Andy e seus amigos

(ATENÇÃO: este texto contém spoilers. Mas é sobre um filme produzido em 1994, então acho que ninguém vai se importar)

Ok, ok: eu choro em filmes. Choro mesmo. Pra certas coisas, sou praticamente uma menina. Uma vez, chorei com uma matéria do Esporte Espetacular em que o jogador Rui (um carequinha apelidado de cabeção que jogava até pouco tempo no Fluminense - não vi mais ele) reencontrou seu pai. Pois é.

O primeiro filme em que chorei foi E.T. O que, na época, foi uma situação que se desenhou como um grande paradoxo para mim, já que eu morria (morria? a quem estou querendo enganar? eu ainda morro...) de medo de ETs. Depois, ainda criança, chorei com Meu Primeiro Amor, e eu tinha vergonha dos adultos que estavam por perto, então segurava as lágrimas o máximo que podia e depois, quando ia dormir, pensava de novo no filme e chorava de verdade.

Já crescido, um belo dia fui assistir Um Sonho de Liberdade em uma madrugada na Globo (acho que era Intercine). Acho que um cunhado meu havia indicado o filme. Nem é preciso dizer que chorei em bicas. Ao mesmo tempo em que achei o filme, naquele momento, um dos melhores que já tinha visto na minha vida. E é fuckin' fodidamente fantástico mesmo.

Como minha situação financeira na época era um lixo, e a própria situação tecnológica do mundo não era lá essas coisas (anos 90, gente!) , eu gravei o filme em VHS e assistia sempre. Uma vez, minha irmã gravou a novela por cima da cena final, em que o Red encontra o Andy na praia (ops, spoiler, foi mal) e eu fiquei deveras puto. O engraçado é que eu só comprei o DVD do filme há uns dois anos, em uma dessas promoções das lojas Americanas. Mas prossigamos.

O que quero dizer é que, mesmo tendo visto Um Sonho de Liberdade umas 30 vezes (esse deve mesmo ser o número correto, não é hipérbole), eu ainda choro. Mas ontem, ao assisti-lo mais uma vez (a primeira com home theater e TV LCD - tá pensando o quê?), percebi que é sempre uma cena diferente que me desperta o lado mocinha desamparada. Na primeira vez, chorei quase da metade toda do filme para o fim, desde quando o Brooks se mata. Com o auge, é claro, na expectativa gerada pelo possível suicídio do Andy. E sempre com os olhos marejadíssimos na épica cena da chuva (que é realmente uma cena muito bonita, cinematograficamente falando - tem contexto, trilha perfeita, luz, interpretação... congruência total de fatores).


Tomar banho de chuva, banho de chuva, ah, ah... ai ai ai ai ai ai ai ai ai aiaaiaiai


Dessa vez, o que me emocionou foi a parte pós-fuga do Andy, em que seus amigos estão na mesa comendo e se lembrando de suas façanhas na prisão. Quando o Red diz que está feliz por ele, mas que sente sua falta. O que isso me diz? Que eu sinto falta dos meus amigos? Que eu deveria tentar passar mais tempo com eles? Sei lá. Aí acho que já é muita viagem. Por ora, espero apenas uma boa oportunidade para que eu possa tomar meu banho de chuva...


PS: Aconteceu o que eu temia. Vendo o filme ontem, comecei a notar uma porção de "falhas". Frases muito melosas, cenas que não se encaixam (como diabos ele abre um buraco em um cano de ferro com uma pedra com espaço suficiente para ele mesmo passar em tão pouco tempo, meu Deus?)... É mais um ícone da minha juventude que aos poucos se esvai e perde sua majestade para comigo mesmo. Ficar adulto é uma bosta. Mas isso é assunto para outro post - ou não.

5 de novembro de 2009

O menino de Peshawar

Enquanto jornalista, sei que este é um grave defeito meu, mas a verdade é que eu não costumo dar muita bola para fotografias. Deve ter começado na faculdade: minha professora era péssima, o equipamento era sucata e meu interesse pelo assunto, que já era baixo, tornou-se nulo. E, para ser sincero, eu sempre tive um pouco daquele coisa de "jornalista de verdade apura informação, faz texto, não aperta botão". Para mim, em suma, foto sempre foi aquela ilustração que preenche o buraco na página para divertir os olhos do leitor. Pronto-falei.Mas é claro que com o tempo eu mudei essa visão, e hoje realmente sei que uma foto pode dizer o que nem mil páginas de jornal (e não palavras) poderiam descrever.

Bom, o mundo tem uma porção de coisas que eu não entendo, e uma delas é a bagunça toda dessa região chamada Oriente Médio (tomei a liberdade de incluir Afeganistão e Paquistão aí no balaio - nem sei se formalmente eles são considerados Oriente Médio, mas como brigam pacas e são em sua maioria adoradores de Alá, para mim está valendo).

Como leitor, e mais recentemente editor, eu sempre achei completamente banais qualquer informação como "número de mortos em atentado chega a X" ou "carro-bomba explode e mata Y no casa-do-caralho-quistão". Isso, é claro, ocorre em boa parte por culpa das agências internacionais, que no mais das vezes não fazem notícias, e sim atualização do placar de mortos do dia nos locais de conflito. Afinal, explicar tudo certinho dá trabalho, e uma boa quantidade de cadáveres na capa do jornal sempre chama mais a atenção. Contextualização de cu é rola.

O mesmo com as fotos. São sempre ruínas, ferragens de veículos, poeira, um pessoal queimado de sol e barbudo com umas túnicas esquisitas gritando... É tudo horrível, mas vamos admitir, gente: caiu tudo em uma terrível normalidade. Terrível mesmo. Para o leitor/espectador ocidental, que desaprendeu a refletir sobre as raízes do problema; para a imprensa, que repete a mesma fórmula sempre inquestionável de cobertura e, principalmente, para os desafortunados moradores das localidades atingidas, que têm suas vidas reduzidas a estatística e, quando muito, cenário de horror para deleite dos hipócritas de plantão.

Meu pensamento era esse, até que me deparei com a foto abaixo.



Foi na semana retrasada, quando estava editando a página de Mundo do jornal. É de um atentado na cidade de Peshawar, no Paquistão, que aconteceu em um mercado frequentado essencialmente por mulheres - no caso específico deste ataque, um carro-bomba foi explodido no momento em que muitas mães tinham acabado de pegar seus filhos em uma escola próxima e passavam pelo lugar para comprar alimentos para o jantar. A rigor, é mais uma foto da desgraça no Oriente Médio.

Mas para mim a foto pegou. Pegou fundo, de verdade. Pode ser parte do processo de emboiolagem pós-casamento, mas pegou. A criança no colo do pai é uma imagem já forte por si só, mas uma série de detalhes, que fui notando com a contemplação da foto, me derrubou. O principal deles é a sandalinha do menino - coloridinho, bem abotoado, uma sandalinha de criança. Teria sido amarrado por sua mãe? Teria sido comprado por quem? E o pior: cadê o outro pé? Se perdeu com a explosão, e pensar nisso para mim foi bastante aterrorizante. Quem teria coragem de explodir uma bomba perto de uma criança que usa uma sandalinha como essa?

O pai segura seu filho consternado, como se tivesse chegado tarde demais. Eu queria estar lá para dizer a ele que não tinha como chegar mais cedo, que ele não poderia ter feito nada, que aconteceu como tinha que acontecer, que foi um acidente inevitável. As pessoas em volta olham, e o que impera em seus olhares é a expressão de respeito e tristeza, acima da curiosidade.

A legenda que veio com a imagem, da agência France Press (o nome do fotógrafo, aliás, é A. Majeed) começava dizendo "Dead child...". Eu não queria ter lido isso. Nunca desejei tanto que uma informação estivesse errada, e que essa criança estivesse, de alguma forma, viva.

Eu sei que há muitas crianças que morrem por aí, de formas até piores, e vocês podem dizer que eu não reajo com elas assim como reagi com o menino paquistanês. Pois é. Culpem essa foto, feita em algum momento do final da tarde do dia 21 de outubro de 2009 na cidade de Peshawar, no Paquistão.

Dizem que o jornalismo tem o poder de mudar o mundo. Nem que seja um pouquinho, essa foto mudou o meu.

16 de outubro de 2009

Everyday is exactly the same

Hoje é um daqueles dias. Me dá vontade de abraçar o mundo. E de não dizer esses clichês idiotas pra expressar como me sinto.

Sei que isso tem um nome: ansiedade. Mas isso pouco importa. Dar nome às coisas não resolve nada. Tenho vontade de começar a escrever um livro. O meu livro. Um não, vários. Tenho vontade de sair correndo (não no sentido de fugir, nada disso, para me exercitar mesmo). Tenho vontade de ir atrás de vídeos legais no YouTube - e vou, mas, passados poucos segundos de cada um deles, abro outros (os relacionados) e quando vejo há uma porção de abas, muitos links abertos, nenhum fechado. Tudo incompleto.

Hoje é mais um daqueles dias. Eles se repetem bastante, ultimamente. Sinto falta de tanta coisa. Sinto que estou perdendo tempo, que o estou desperdiçando, que não estou sabendo viver. Não é uma sensação muito boa. Não, não tem nada a ver com o casamento - ele até que me ajuda pra caramba. É algo além disso, que corre em paralelo, e que parece ter estado sempre ali, escondido nos últimos anos (quando eu estava bastante ocupado com outras coisas), e que voltou com força total agora com a calmaria. Mente vazia, oficina do diabo.

Fico pensando que, se conseguisse canalizar toda essa energia em um talento, uma única ação, ou transformá-la em felicidade, estaria tudo resolvido. Tudo resolvido.

Droga.

22 de julho de 2009

O choro de Cristian

Até ontem, eu havia chorado apenas duas vezes com o futebol.

A primeira foi foi na Copa do Mundo de 1994, um torneio que eu me gabo de ter acompanhado integralmente. A final foi muito tensa, e quando o Brasil venceu eu subi para o terraço da minha casa e as lágrimas saíram como um impulso. O choro foi um alívio.

A segunda ocasião foi quando o Corinthians ganhou a Copa do Brasil de 1995, contra o Grêmio. O time gaúcho era muito badalado e quase ninguém acreditava que o Corinthians pudesse vencer (pelo menos era dessa forma que eu via a situação naquela época). A vitória (com um gol de Marcelinho Carioca no Olímpico), portanto, para mim, foi algo redentor; a sobreposição do mais fraco, do batalhador, contra o mais forte, o estabelecido. O choro foi um desabafo.


Até ontem.

Porque, ontem, André Santos e Cristian deram adeus ao Corinthians. "Oh, meu Deus, e daí, Luís? Não é o fim do mundo", dirão os incautos. De fato. Mas é uma pequena catástrofe para o atual contexto corintiano. Este time vem jogando junto desde o início de 2008, e todo torcedor corintiano que se preze acompanhou sua evolução, desde a humilhação pela passagem na Série B e a redenção (olha ela aí de novo) com as conquistas do Paulistão e Copa do Brasil 2009. Não há como não sentir a perda de jogadores tão importantes para a equipe.

No caso do André Santos a situação não é, digamos, tão grave. Ele mesmo e a diretoria já vinham falando de sua transferência há um bom tempo. E ele era bem mais "mala" em campo: adorava uma firula, era displiscente, perdia o foco com facilidade. O que, ao menos para mim, quase anula a importância dos 25 gols (alguns importantíssimos) que marcou em sua passagem pelo time.

Com o Cristian é diferente. O cara chegou desacreditado do Flamengo (foi dispensado pelo técnico Caio Júnior - quem?), demorou para se firmar como titular (eu mesmo, no começo, achava que o Fabinho não deveria dar lugar a ele nem aqui nem na China), mas de repente lá estava ele, sendo indispensável. Roubando bolas, fazendo coberturas, ligando contra-ataques, sendo preciso, dando passes e assistências. Foi constantemente acusado pelos adversários de ser agressivo demais, mas isso é conversa mole - ele de fato era, mas o soube ser na medida certa. E ainda bem que o Corinthians teve alguém como ele para cumprir esse papel (me lembro bem do jogo contra o Santos pela primeira fase do Paulistão, quando se gerou uma expectativa enorme para a estreia no Neymar e o Cristian foi lá e deu um belo tapa na orelha no moleque, que não fez nada durante o jogo todo - o Corinthians ganhou por 1 a 0).


Me emocionar com as imagens de Cristian se despedindo de seus colegas na sala de musculação ou não conseguindo segurar as lágrimas durante sua entrevista talvez fosse algo que eu não esperava (e certamente mostra um nível de fanatismo jamais obtido por mim pelo Corinthians - mas o time está em boa fase, então isso não é preocupante). É realmente surpreendente ver, nos dias de hoje, esse tipo de reação de um jogador que vai para a Europa (principalmente porque não há como desconfiar minimamente de qualquer tipo de "cena" por parte de Cristian), e me enche de orgulho o fato disso ter acontecido no Corinthians. Um choro de gratidão.

Até ontem, eu tinha três grandes ídolos no Corinthians: Ronaldo (o goleiro), Neto e Marcelinho Carioca.

Até ontem.

18 de abril de 2009

Ressuscitado

Pronto. Uma noite de insônia (a boa e velha ansiedade) e cá está o blog de volta.