13 de janeiro de 2011

Naturebas anônimos

Começou há uns dois anos, quando decidi que precisaria emagrecer: uma vitamina no café da manhã, um prato de alface antes do almoço, pão integral com queijo branco e peito de peru na janta.

Mas eu ainda tinha força de vontade, e alternava comidas de gente normal entre um ou outro trago do ópio da vida saudável: a feijoada no fim de semana era um oásis; qualquer coisa virava desculpa para aquele happy hour regado a cerveja e porções, quaisquer que fossem, desde que viessem encharcadas em gordura; o chocolate na gôndola do mercado não passava incólume.

Mas... o vício me tomou. E ao despertar de cada noitada no boteco era sempre invadido por uma vontade incontrolável de atacar uma bela tigela de banana com aveia. A coisa evoluiu a ponto de conhecer todas as principais bocas da cidade: Ponto do Açaí, Sibipiruna, Casa do Açaí, Laranja Lima, Mundo Light (filiais no Mercadão e Bernardino de Campos).

Ao cruzar os quiosques do Mercadão, antes eu só tinha olhos para queijos e doces caseiros. Agora, só consigo enxergar castanhas e frutas secas.

E o que começou com um simples alface, por influência dos amigos, acabou em substâncias bem mais pesadas: óleo de coco, linhaça dourada, quinua, sementes de girassol e, pasmem, barrinhas de gergelim. É, eu embarquei em todas essas.

Nenhum natureba resiste

Nas festas de fim de ano eu tentei um tratamento de choque. Achei que a época me favoreceria. Troquei as duas fatias médias de pão integral com duas pontas de manteiga sem sal do café da manhã por uma fatia generosa de chocotone; a cerveja voltou a circular abundante pela minha corrente sanguínea, e as frutas, só se fossem as cristalizadas do panetone ou as enlatadas na decoração do tender.

Tudo ia bem. Já podia sentir de novo o excesso de glicose nas minhas artérias, e os músculos definhando para dar lugar a porções recém-criadas de tecido adiposo. Até que nesta semana resolvi ir à feira para um teste final: passar indiferente às barracas para saborear aquele pastel frito na hora, pingando óleo.

Foi um erro. Não resisti ao jiló (estão uma beleza nessa época!), à cenoura, ao pimentão; às bananas, mangas e ao alface (o preço maior por causa das chuvas não é nada - a gente vende um relógio e está tudo certo). E o almeirão, então?

Enchi a sacola. O pastel? No fim do ano, talvez.