18 de março de 2007

De volta para o futuro

Tomei um susto hoje a hora que liguei a TV. Percebi que a maioria - quase todos - os canais da minha TV a cabo estavam desativados. Aí lembrei da moça que me vendeu o pacote ter disto alguma coisa sobre algum prazo de três meses para alguns canais. Mas, sinceramente, não sabia que seriam tantos.

Digo que levei o susto porque há duas semanas esperava por este sábado na TV. Às 18h, o telecine cult ia passar a maratona "De Volta Para o Futuro", os três filmes numa pancada só. A cerveja e aperitivos já estavam garantidos, era um evento que não poderia perder. Por isso estava tão apreensivo enquanto apertava o botão de canal rumo à casa dos 60. Felizmente - e eu realmente agradeci aos céus por isso - toda a rede telecine continuava lá.

Às 18h, lá estava eu, a postos. Agora são 0h12, e o terceiro filme acabou faz uns 15 minutos. Acho que foi a primeira vez que eu vi a a série pra valer, com toda minha atenção voltada aos detalhes de cada filme. Continuo achando a trilogia fantasticamente absurda de boa, mas pude notar uma série de probleminhas - nada que para mim, repito, comprometa a qualidade e capacidade de entretenimento da obra.

Primeiro, o roteiro desrespeita largamente o princípio "Corra Lola Corra", da teoria do Caos, aquela que diz que cada pequeno passo que damos gera uma influência em todo o universo. Tudo está conectado, e nossas ações têm conseqüências. Uma volta no tempo por si só seria algo que alteraria tudo de forma gigantesca, mesmo que não fizéssemos absolutamente NADA no passado.

Também há várias pequenas alterações no argumento para que o roteiro maluco possa de cumprir. Por exemplo, no segundo filme, o que tem a ver o Doc levar o McFly pro futuro só pra resolver o problema com o filho dele? Ele mesmo não poderia ter resolvido tudo sozinho? Não, ele precisava criar toda uma situação para o Biff voltar para o passado e entregar o Almanaque de esportes para ele mesmo - e, é claro, no mesmo dia em que o raio cai e toda a merda no primeiro filme acontece.

Também dá para notar uma diferença grande entre os três filmes - o segundo é o melhor, eu já achava isso e hoje pude confirmar minha opinião. O terceiro é mais "pop", com o roteiro mais meloso e umas frases mais de efeito, parece ter sido feito exclusivamente para atrair público mesmo. E tem um fim bem forçadinho, não tinha nada a ver a namorada do Marty pegar o fax onde estava escrito "Você está despedido" e perguntar ao Doc por quê aquilo tinha acontecido. Será que ela era tão burra de não imaginar? Mas é claro, o Doc precisava de uma deixar para soltar que o futuro está em branco, e é feito por cada um de nós.

Não dava para cobrar nada diferente de um filme do Spielberg feito para as massas mesmo. E, embora eu esteja falando mal, vou comprar os filmes em DVD para meus filhos poderem assistí-los um dia desses. No futuro, claro.

28 de fevereiro de 2007

Noite fria

Estava deitado no sofá quando um vento frio da noite entrou pela janela e encontrou meus pés. Na hora, tive uma lembrança única. De uma noite em São José do Rio Preto, em um dia perdido no mês de maio do ano passado.

Naquele dia, o énimal me visitou. Durante o dia, aproveitei minha hora de almoço e fui buscá-lo na rodoviária. Estava sol, mas uma brisa fria soprava e o céu era azul. Um daqueles dias que eu sempre gostei. Busquei-o, levei-o até minha casa e fomos almoçar com mais dois amigos de Londrina que coincidentemente também moravam em Rio Preto - sendo que um deles trabalhava comigo.

Voltei ao trabalho, e Daniel para seus compromissos - verdadeiros motivos de sua visita à cidade. Na volta, à noite, fomos ver "Capote" no cinema. Um cinema antigo, daqueles que ficam no centro da cidade, perdidos como o tempo. E, aparentemente, como nós naquele dia. Chegamos antes do previsto e passamos em um supermercado ali perto. Compramos alguma coisa para comer e nos sentamos em uma escada de uma loja (ou coisa parecida) perto do cinema.

É a este momento que o vento no meu pé diretamente me remeteu. Àquele frio. Não nos víamos havia um bom tempo - mais de oito meses, acho eu. Naquele dia, conversamos. Sobre coisas que hoje já nem têm mais tanto valor, mas que naquele momento eram bastante importantes para nós dois. Alguns dos problemas abordados naquela noite passaram. Outros não. Para combatê-los, uso agora a mera lembrança daqueles minutos frios.

Um dia memorável. Obrigado, énimal.

26 de fevereiro de 2007

Tudo sobre

Hoje, tomei uma das decisões mais importantes (e acertadas) da minha vida. Às 22h em ponto, precisei escolher entre assistir os filmes "Sr. e Sra. Smith" e "Tudo Sobre Minha Mãe", que passariam em canais diferentes na TV, e no mesmo maldito horário.

O dedo no controle estava nervoso, e oscilava entre os canais. Indeciso entre o blockbuster com a gostosa da Angelina Jolie e o independente com a gostosa da Penélope Cruz. Parou no segundo. "O pseudo espanhol. Droga", pensei.

Uma hora e 40 minutos depois, mais ou menos, estava em êxtase, e pensei que Brad e Angelina eram nada mais que lixo puro. O Almodóvar é mesmo foda. O cara tem a manha. Bolei uma analogia meio besta que justifica a fodidez do filme que acabei de ver. Vamos lá.

Às vezes, no trabalho, fico o dia inteiro apurando informações para uma reportagem que promete ser bastante grande. Quando chega o fim do dia, os planos mudam e ela vira um texto pequeno. É preciso, então, condensar tudo o que foi apurado naquele espaço: números, argumentos, declarações, pontos de vista. Sempre quando isso acontece, acabo ficando um pouco frustrado, porque tenho a impressão de que o trabalho final nunca fica bom.

Com o "Tudo Sobre Minha Mãe", Almodóvar conseguiu atingir a perfeição em contar uma história cheia de nuances em uma hora e 40, um "texto pequeno" para os padrões do cinema - gastam muito mais tempo para mostrar efeitos especiais por aí. Ademais, nunca imaginei que me veria chorar diante de uma cena que mostra um pai travesti aidético conhecendo seu filho.

Agora, estou um pouco incomodado, mas com uma sensação boa, de alguém que sabe que acabou de ver uma grande obra - e pode senti-la e compreendê-la em toda sua magnitude. Pseudo isso, né? É. Nem só de Penélope Cruz se faz um bom filme do Almodóvar.

15 de fevereiro de 2007

Sobre minha mãe

Minha mãe é tão foda, tão foda, mas tão foda mesmo, que se eu fosse falar tudo o que gostaria sobre ela, morreria de emoção.

12 de fevereiro de 2007

Memória

No caminho de volta do trabalho para minha casa, tive uma idéia realmente brilhante para um post. Mas a esqueci, completamente. Deve estar afundada na minha memória, brincando com a lembrança de um amor inexistente e sendo observada pela lembrança do medo de pular do balanço no parquinho.

Droga, jamais vou me perdoar por deixar isso acontecer.

Olhem a letra!

OK, é só o começo dela:

I look in the mirror
To see what my hair is doing
Is it kind of skywalker
Or kind of stupid?
But that's not the real
Reason I'm looking
I need a reminder of what I'm doing
I need a reminder that I'm human

"Eu olho no espelho
Para ver como está meu cabelo
Se está do tipo Skywalker
Ou do tipo idiota
Mas esse não é o real motivo
Pelo qual estou olhando
Eu preciso de uma lembrança
Sobre o que estou fazendo
Eu preciso de uma lembrança
De que sou humano"

(Tradução: Google Ferramenta de Idiomas e minha mesmo)

Descoberta redentora

Retiro (quase) tudo o que disse no post abaixo. Despretenciosamente, coloquei um disco do Nada Surf ("Weight is a Gift, de 2006) para tocar no winamp e descobri uma delícia: "In the Mirror". Fico meio frustrado em imaginar quantas músicas como essa estão perdidas nos meus arquivos de mp3. Mas, com certeza, dormirei um pouco menos triste que há cinco minutos atrás. Melhor ir dormir logo, então.

Domingo implacável

Domingos são uma merda. Sinceramente, em toda a minha vida, não me lembro de nenhum final de domingo que tenha sido bom. Quando namorava à distância, os domingos significavam despedida. Agora é a mesma coisa: quando visito minha família (o que sempre me garante momentos muito agradáveis), é no domingo que tenho que voltar.

Na verdade, domingo é um dia legal até às 18h. Sim, exatamente este horário. As manhãs de domingo são maravilhosas, mesmo quando chove. Manhãs de domingo me lembram minha infância, quando eu ainda não dormia enquanto elas - as manhãs de domingo - aconteciam. Acordava e via o Globo Rural, depois ia na banca perto de casa a pé comprar um jornal, um gibi ou figurinhas. Depois vinha o farto almoço com a família toda, um cochilo ao som da narração daqueles documentários de vida animal da Cultura e o futebol. Depois do futebol, começa a tristeza.

Atualmente, mesmo não vivendo mais com minha família, ainda preservo as sensações. Gosto das manhãs de domingo, tento sempre fazer um almoço legal para mim mesmo e ainda cochilo no sofá enquanto o programa da TV tenta me mostrar como os elefantes são inteligentes ou como as chuvas de verão são importantes para a savana africana.

Hoje, eu estava disposto a acabar com esse tabu e fazer do meu domingo um domingo feliz. Bom, eu juro que tentei. Acordei cedo para a hora que fui deitar no sábado, fui à feira, comprei legumes e frutas; limpei a casa (naquelas, naquelas), dei uma boa arrumada na bagunça e ouvi música. Vi TV, fiz o almoço, enfim, tudo estava normal.

Nem a derrota do Corinthians para o São Paulo me fez mal, porque senti que o time não poderia ter feito mais do que fez mesmo. E, de qualquer forma, o Palmeiras está fudido também. Então, sem problemas (nessas horas eu sempre arrumo argumentos convincentes para provar a mim mesmo que não sou fanático por futebol). Até o final de tarde colaborou - foi nublado, escuro e fresco, ao contrário daquele sol desgraçado que teima em não ir embora no horário de verão. Terminado o jogo, aquela sensação começou. "Droga, lá vou eu novamente pensar em quantos comprimidos serão suficientes para uma morte rápida e indolor", matutei.

Mas, antes que eu pudesse levantar e pesquisar "suicídio" no Google, decidi ir ao cinema. Peguei a programação e escolhi "À Procura da Felicidade". Amigos já haviam me sugerido e eu achei o título bem sugestivo. Rapaz, que escolha acertada eu fiz. Um belo filme. Se trata da típica história da redenção após uma vida de merda - puro clichê do cinemão americano - mas a forma como se conta a história, inspirada em fatos reais, é bem convincente.

O filme também serviu para eu colocar o Will Smith no mesmo patamar do Jim Carrey ou do Adam Sandler - um ator que pode ir além dos estereótipos criados para ele na carreira. Bom, nem é preciso dizer que chorei igual uma menina espinhenta abandonada pelo parceiro na porta do baile de formatura. O final é bem emocionante mesmo.

Não, não, isso não piorou meu domingo. Apesar do filme ser triste (de certa forma, vejam e vocês entenderão), foi um ótimo entretenimento. Voltei para casa, vi mais TV e agora estou aqui. Ninguém me ligou (não à noite). Também não liguei para ninguém. Penso que amanhã termina as férias da minha chefe maldita. Me desespero. Faltam perspectivas, falam soluções. Não sei não, mas começo a achar que o problema não está com os domingos.

11 de fevereiro de 2007

Espelhos

Sempre fui meio que fascinado por espelhos. Quando era criança, lembro-me com perfeição de quando pegava um pequeno espelho retangular com a moldura alaranjada da minha mãe e o posicionava perpendicularmente abaixo de meus olhos. Desse modo, tudo o que eu via era o reflexo do teto na minha frente. E assim ia andando pela casa, "tropeçando" em lâmpadas e dando risada de mim mesmo e daquela fantasia toda.

Outra coisa que adorava fazer era abrir as duas portas laterais do armarinho espelhado do banheiro e olhar, de soslaio, o "túnel" infinito de espelhos que se formava. Igual a embalagem da farinha fáctea, um pedaço do espaço continuum ali, no meu cotidiano.

Hoje, fui à agência dos Correios e presenciei outro fenômeno interessante relacionado a espelhos. Estava sentado quase que de frente para uma grande coluna espelhada, enquanto esperava minha vez de ser atendido. No espelho, eu via refletida a entrada da agência. Atrás da coluna, havia os guichês de atendimento. Eu olhava as pessoas passando atrás da coluna e "sumindo" no mundo paralelo de dentro do espelho.

Até que o extraordinário aconteceu. Uma moça foi caminhando, por trás do espelho e, no exato momento em que sumiu atrás da coluna, foi "substituída" por uma senhora mais velha no mundo do espelho. A sincronização foi perfeita. Confesso que fiquei impressionado, a ponto de me levantar da cadeira e verificar se a moça realmente estava atrás da coluna. Estava, é claro.

Vou dormir ainda me perguntando: em que mundo estaria eu?

8 de fevereiro de 2007

Caixinha de surpresas

Uma semana com derrota do Palmeiras (para o Ituano!!!) e goleada do Corinthians não poderia ser mais feliz. Obrigado, futebol.

7 de fevereiro de 2007

Braço a torcer

Excluindo-se todo o disco do Nirvana, a melhor adaptação para algo acústico já feita na história da humanidade é de "Diversão", dos Titãs.

Não há dúvidas, não há dúvidas.

Hai-kai finalizador

Que sirva de lição:
Jamais escrever estrofe
Com visita no porão

6 de fevereiro de 2007

Soneto do espanto consentido

Olhem, já sou contente
No correr de cada dia
Descubro, de repente
Que sei escrever poesia

Tentava fazer o verso
Quando notei abismado
Que algo estava imerso
E queria vir desatado

Sem pensar ele saiu
Nem mesmo usou o bidê
Pari-o sem dó no frio

E se querem saber a razão
Me perdoem o clichê:
Mas dêem asa ao coração!

Caminho

Pé na frente
Pé atrás
Como fuga
De Alcatraz.

Junto idéias
Penso nelas
Pensam em mim?
Que! Balelas.

Dardos voam
Eu me abaixo
Seria bom voar,
Eu acho.

A esquina
Oh, querida
Quem me dera
Fosse a vida.

5 de fevereiro de 2007

Descrevendo cores

Como profissional do texto, eu quebro o galho. Quero dizer, sou obrigado a escrever textos técnicos, diariamente e numa quantidade absurda (sexta-feira foram 19, sem contar e-mails com solicitações para assessorias de imprensa e o malogrado retorno, a desgraça do jornalismo da empresa onde trabalho).

Tenho plena consciência de que meu texto é bom para o que faço, mas isso realmente não significa muita coisa. Não há quase mérito nenhum em saber escrever um bom texto para jornal, porque isso é pura técnica e qualquer um que seja um pouquinho esperto pode aprender em pouco tempo. O difícil no jornalismo é apurar a informações, encontrar as pessoas certas para falar, saber onde colocar cada idéia. Escrever é a célula do trabalho, e a escrita sua ferramenta básica.

Mesmo assim, dá pra ficar feliz porque tem muito retardado por aí que não sabe alinhar sujeito e predicado e quer ser jornalista. Pobres infelizes. Você pode ter as melhores fontes, os melhores contatos e as melhores pautas, mas sem saber escrever não é ninguém no jornalismo - impresso, é bom que se diga.

Bem, retornemos ao ponto central do post. Dia desses, li a coluna do Ávaro Pereira Júnior sobre o OK Computer, do Radiohead, onde ele dizia que o disco é uma rara obra de "intelectualismo popular" (não sei se foi esse o exato termo que ele usou). Ele queria dizer que o álbum é riquíssimo em idéias, e refinado, mas conseguiu ser entendido pelas "massas" (esse conceito é bem relativo, mas não vou prolongar a discussão sobre ele). Por ora, direi apenas que concordo com ele, apesar de ter algumas restrições à idéia toda. No artigo, ele dizia que o maior desafio para jovens artistas é fazer uma obra como OK Computer, que conquiste pela inteligência e não pela obviedade.

Pois bem. Esses dias aí eu li "O Perfume", best-seller de 1987 do escritor alemão Patrick Süskind e que acaba de virar filme pelas mãos de seu patrício Tom Tykwer (Corra Lola Corra). Fiquei realmente impressionado com o texto, principalmente nas partes em que o autor descreve... odores. É realmente impressionante. Nunca fui bom em cheiros, e desconheço qualquer perfume que não seja meu desodorante, mas consegui sentir exatamente os cheiros que ele descrevia.

Juntando, tudo isso: a prisão à técnica do jornalismo, o intelectualismo popular de OK Computer e o texto sensitivo d'O Perfume, propus um desafio a mim mesmo: descrever cores. Como seria possível, por exemplo, explicar para um cego de nascença o que é o amarelo? Verde? Azul? Cinza? Usar a palavra não vai adiantar nada. Ao mesmo tempo, o nome de cada cor parece ser o único elemento que temos para explicá-las.

As cores são o maior exemplo de laconismo em toda o léxico humano. Não existem sinônimos, nem nada que possa descrevê-las melhor que seu próprio nome. Por isso, ao tentar descobrir um desafio para o desprendimento do meu texto, acabei, sem querer, descobrindo uma bela analogia para o impossível.

Talvez descrever cores me ajude a entender porque o mundo está tão monocromático.

1 de fevereiro de 2007

New York, New York

"Hell, I still love you, New York" (Ryan Adams)

Bom, tudo bem. Valeu.

29 de janeiro de 2007

Adendo

Esse meu último texto ficou realmente ruim. Insegurança, insegurança. Melhor nem tentar mais.

Dúvidas

Parei uns minutos para olhar a cidade da minha janela. Nossa, essa é uma frase horrorosa para começar um texto, não? Mas vai essa mesma na falta de outra melhor. Ou na falta de outro assunto melhor. Puxa vida, adoro fazer isso. Escrever o que vem na cabeça, sem seguir ordens, sem ter que alinhar idéias, sem ter que seguir padrões. Há quanto tempo não fazia isso. Então, voltando. Da janela, dá para ver uma porção de outras janelas, acesas e apagadas. Fico realmente pensando quem pode estar dentro de cada um dos apartamentos que elas (as janelas) tentam exteriorizar. As janelas são isso: objetos que tentam, quase sempre em vão, levar para fora o que está dentro de cada parede que as cercam. No meu caso, funciona às vezes. Mas hoje, não. Me senti realmente como um estrangeiro: não pertenço a nada, a ninguém, não tenho motivação, não me orgulho, quase não rio como antes. Aquela risada de verdade. Sempre achei esse distanciamento o máximo, importante e salutar. Agora, já não sei mais. Tenho saudade de me apegar, e de sentir que alguém está apegado a mim. Claro, eu sei que essas pessoas existem. Mas estão todas distantes, e períodos prolongados de distância geram dúvidas, incertezas e insegurança. Muita insegurança. Amanhã tentarei de novo - e quem sabe dessa vez a janela possa me ajudar.

16 de janeiro de 2007

Touro dos Canaviais

Nesta quinta-feira, o Sertãozinho faz sua estréia na 1ª divisão do Campeonato Paulista, contra o São Paulo, aqui mesmo em Sertãozinho. Digo aqui porque a cidade é quintal de Ribeirão Preto. Será o único time da região a disputar o campeonato.

Eu também farei minha estréia como repórter esportivo. OK, não se trata exatamente de uma estréia, já cansei de cobrir jogos de futebol. Mas nunca o fiz com um time da primeira divisão de campeonato algum. Com credencial e tudo, usarei até aqueles coletes amarelos legais que repórteres usam no campo.

Me lembro de quando assistia o Campeonato Carioca, nos idos da década de 90, com o grande Januário de Oliveira mandando ver no microfone. Olhava aquele batalhão de homens de colete, gravadores e microfones em suas mãos, fios pra tudo quanto é lado. Alguns anos depois e pronto: sou um deles.

Estou nervoso. Jamais fiz um vestiário. E tenho grandes responsabilidades: serei o responsável pela cobertura nacional do jornal em jogos de times grandes em Sertãozinho. Ou mais, se a equipe se destacar e for, quem sabe, para as cabeças do campeonato. Portanto, a partir de hoje, torçam pelo Sertãozinho, por favor. Eu mesmo sou Sertãozinho desde pequeno. Só contra o Corinthians que não, claro. Mas contra o Palmeiras... Ah, esse eu vou querer ver ser esmagado. Time do inferno.

Um problema do "padrão jornalístico" (pfff...) de onde trabalho é não poder usar os apelidos dos times. "Timão" é uma exceção. O resto não pode. Ainda bem que aqui é meu blog e eu posso o que eu quiser: boa sorte, Touro dos Canaviais. Seu destino neste campeonato será parte íntima de meu destino profissional.

Sutilezas

It was bad, but well better of what I thought. It is incredible to say this, but it seems that I always lived a needy stagnation. I ever knew, in the deep way, that it was not nothing of this. Not a big deal. But now I obtain really to feel this. Not, this is not good. It remembers that new challenges appear for the front, good to me worse, limpid and clear, ready to be transposed. Or to transpose me.

It is cool not to have more than to fight against chemical reactions in my brain. It is bad to have that to fight with my thoughts, my crazy metaphysics that now writes this fucking pessimist text, and tomorrow, when I wake up, will be whistling and realizing, exactly, as the world is good and as it is cool to live.

I am thankful for my job. And I am worried about this, because it does not have to be normal to find a thing good a thing that makes me so bad. Badly or not, it serves to distract me, to occupy, and even though to entertain me. It serves to make me feel stronger than every fuckin' body. Losers, all losers. I am working where I am. Feel it, suckers.

Today I heard a music that did not hear has much time: “Use Me”, of the Bill Withers. My God, so much memories. I thought about so many people, people that I could have better “used to advantage”. I have a regret, big regret, for many things: that I made, that I did not make, that I will make, that I will not make.


My zodiac said today: “Take care of your relations and, if you will be entering in a dispute, do it full of well paved faith and decisive action, without handshakes. Without this, your astral will not go to feel itself satisfied and renewed. Change of plans soon.” I was to the dictionary to see what it meant “dispute”. It is this same: fight, rupture. I do not want a dispute. Not, not exactly. This strategy is for weak ones. I do not want more weak being. I never did. Never. And also I do not know as a dispute can leave me with the “renewed astral”. Thing crossbow to say.

I think about Marcela's faith. I think about my own faith, and, suddenly, I feel the skin from my face move. It is a smile. I think about what I will be next 10 years. I think about the problems that had have 10 years ago. They are nothing today, nothing. They will never be.

7 de janeiro de 2007

Um dia comigo mesmo

O dia de hoje foi especial. Não me lembro de ter tido um assim em toda minha vida. Agora que ele já acabou (há mais de uma hora e meia), constatei que passei-o completamente comigo mesmo. Só comigo.

Não tive nenhum contato social. Exceto, claro, o "bom dia" para o porteiro, as inúmeras "olá, cabo-soldado-sargento X, alguma novidade essa noite?" da ronda no jornal e meu papo diário com a pediatra que cuida da menina anencéfala em Patrocínio Paulista (ela está virando minha amiga já).

Fora isso, isolamento total. Falei com minha irmã pelo telefone e com o fotógrafo do jornal também, mas não foram grande coisa. Estou falando de um contato pessoal, ter alguém para conversar ao menos (tenho que me contentar em conversar com meu blog - que é meu, ou seja: ainda assim converso só comigo mesmo. Vejam só que loucura!). E nem falo de companhia amorosa, não mesmo.

Isso foi só uma constatação, não uma reclamação. Ainda não.

2 de janeiro de 2007

Procura-se uma grande reportagem

Pessoas são como pautas jornalísticas. Todas têm uma carapaça, um ponto inicial, mas quando desvendadas e aprofundadas, questionadas e investigadas, se tornam outra coisa.

Se fosse escrever reportagens meramente sobre as pessoas que conheço, algumas se tornariam notas de rodapé. Outras, módulos 200 (um pouco mais importantes, mas ainda assim irrelevantes). Algumas seriam matérias intermediárias, no meio da página e com três colunas, quem sabe com uma linha fina. Outras ainda poderiam ser abres de página, importantes para aquele dia, mas depois desaparecem e pode ser que não voltem nunca mais.

Porém, haveria aquelas que seriam capa, com remissão para um abre de alguma página ímpar interna, e que até mereceriam ser manchetes. Mas calma, não se engane: estas ainda poderiam não ser grande coisa. Teriam um grande destaque em um só dia, e nada mais.

As realmente relevantes seriam aquelas que rendessem capas continuamente, por mais de uma semana de preferência (num processo que conhecemos como "suitar" o assunto). E depois de um ano ainda continuassem rendendo abres esporádicos, matérias intermediárias de vez em quando, notas de rodapé com certa freqüência. Até novas capas e manchetes.

Já encontrei todas elas por aí. Suitar uma pessoa, para mim, é bastante fácil. Difícil mesmo é fazer de mim uma própria suíte.

1 de janeiro de 2007

Meu ano novo

Sentado na mesa, tentando cortar aquele pedaço de carneiro assado sob olhares questionadores, preferi não pensar no que exatamente estava fazendo ali - e principalmente PORQUE estava ali. Meu ano novo estava mesmo fadado ao fracasso. Já nasceu errado, o coitado.

Estava tudo planejado: ia ficar em casa, beber uma cidra sozinho e ver filmes na TV, mas não. Eu insisti em deixar de ser eu mesmo, quis ir até onde eu nunca tinha ido. De última hora, arrumei um esquema para passar o réveillon em um badalado baile de um clube da cidade, com uma (agora) grande amiga como acompanhante. Deu tudo errado: nos barraram no baile, não literalmente, mas veladamente, e tivemos que nos virar com outras opções.

Eu nem sabia que haviam outra opção, mas havia. Fomos parar na casa de um casal de amigos dessa minha amiga, que mora com sua humilde família em um belo apartamento em algum lugar que eu não sei mais onde é. Lá estavam o casal (que acabou de ter um filho), os pais e a vó do rapaz. Ah, e sua cachorra, Nina.

Aí chegamos no carneiro. Se pensasse realmente no sentido daquilo, ganharia uma depressão eterna. Fui para a sacada, vi a queima de fogos e aí sim aquela nostalgia, aquele sentimento estranho que sempre vem nos anos novos, chegou. Pensei na minha mãe, no meu pai e nas minhas irmãs. E que estava ali, na verdade, porque tinha medo de ficar sozinho (logo eu) nesta data lazarenta.

Quando me virei para o interior do apartamento novamente, fui cumprimentado pela avó da família, dona Ercília. Deve ter uns 85 anos. Eu disse a ela: "obrigado pela recepção, foi um prazer conhecer a senhora." Ela sorriu, virou a cabeça para trás - num daqueles gestos que parecia dizer exatamente o que ela de fato disse: "imagine, filho". Tocou sua mão sobre meu braço direito, que a terminava de abraçar.

Assim eu queria que fosse meu primeiro texto do ano: tão terno, sentimental, e ao mesmo tempo indiferente, quanto aquele toque.

PS: Obrigado, Fernando Sabino.