12 de fevereiro de 2007

Domingo implacável

Domingos são uma merda. Sinceramente, em toda a minha vida, não me lembro de nenhum final de domingo que tenha sido bom. Quando namorava à distância, os domingos significavam despedida. Agora é a mesma coisa: quando visito minha família (o que sempre me garante momentos muito agradáveis), é no domingo que tenho que voltar.

Na verdade, domingo é um dia legal até às 18h. Sim, exatamente este horário. As manhãs de domingo são maravilhosas, mesmo quando chove. Manhãs de domingo me lembram minha infância, quando eu ainda não dormia enquanto elas - as manhãs de domingo - aconteciam. Acordava e via o Globo Rural, depois ia na banca perto de casa a pé comprar um jornal, um gibi ou figurinhas. Depois vinha o farto almoço com a família toda, um cochilo ao som da narração daqueles documentários de vida animal da Cultura e o futebol. Depois do futebol, começa a tristeza.

Atualmente, mesmo não vivendo mais com minha família, ainda preservo as sensações. Gosto das manhãs de domingo, tento sempre fazer um almoço legal para mim mesmo e ainda cochilo no sofá enquanto o programa da TV tenta me mostrar como os elefantes são inteligentes ou como as chuvas de verão são importantes para a savana africana.

Hoje, eu estava disposto a acabar com esse tabu e fazer do meu domingo um domingo feliz. Bom, eu juro que tentei. Acordei cedo para a hora que fui deitar no sábado, fui à feira, comprei legumes e frutas; limpei a casa (naquelas, naquelas), dei uma boa arrumada na bagunça e ouvi música. Vi TV, fiz o almoço, enfim, tudo estava normal.

Nem a derrota do Corinthians para o São Paulo me fez mal, porque senti que o time não poderia ter feito mais do que fez mesmo. E, de qualquer forma, o Palmeiras está fudido também. Então, sem problemas (nessas horas eu sempre arrumo argumentos convincentes para provar a mim mesmo que não sou fanático por futebol). Até o final de tarde colaborou - foi nublado, escuro e fresco, ao contrário daquele sol desgraçado que teima em não ir embora no horário de verão. Terminado o jogo, aquela sensação começou. "Droga, lá vou eu novamente pensar em quantos comprimidos serão suficientes para uma morte rápida e indolor", matutei.

Mas, antes que eu pudesse levantar e pesquisar "suicídio" no Google, decidi ir ao cinema. Peguei a programação e escolhi "À Procura da Felicidade". Amigos já haviam me sugerido e eu achei o título bem sugestivo. Rapaz, que escolha acertada eu fiz. Um belo filme. Se trata da típica história da redenção após uma vida de merda - puro clichê do cinemão americano - mas a forma como se conta a história, inspirada em fatos reais, é bem convincente.

O filme também serviu para eu colocar o Will Smith no mesmo patamar do Jim Carrey ou do Adam Sandler - um ator que pode ir além dos estereótipos criados para ele na carreira. Bom, nem é preciso dizer que chorei igual uma menina espinhenta abandonada pelo parceiro na porta do baile de formatura. O final é bem emocionante mesmo.

Não, não, isso não piorou meu domingo. Apesar do filme ser triste (de certa forma, vejam e vocês entenderão), foi um ótimo entretenimento. Voltei para casa, vi mais TV e agora estou aqui. Ninguém me ligou (não à noite). Também não liguei para ninguém. Penso que amanhã termina as férias da minha chefe maldita. Me desespero. Faltam perspectivas, falam soluções. Não sei não, mas começo a achar que o problema não está com os domingos.

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