28 de junho de 2010

Mitos do jornalismo

Todo jornalista adora o que faz - É um pensamento bem lógico, como um silogismo: "Pessoas trabalham porque gostam ou por dinheiro / Jornalistas ganham pouco e trabalham muito / Logo, jornalistas trabalham porque gostam." Mas, infelizmente, é mentira. A maioria dos jornalistas não faz ideia do que vai encontrar pela frente quando assinala a opção da lista de inscrição do vestibular, e o faz apenas porque acha tudo ligado à profissão muito legal, cool e superbacana. Quem, depois de passar por quatro anos de faculdade, ainda insiste na lida e não arruma marido/mulher ricos, com certeza chega no primeiro dia de trabalho e pensa: "caralho, que merda fui fazer da minha vida?". Esse pensamento vai segui-lo para sempre, simplesmente por preguiça e medo de mudar. Jornalistas são grandes conformistas e acham que não sabem fazer mais nada da vida - talvez porque pensam que sua profissão é boa demais para ser trocada por outra, vai saber. Jornalistas não se submetem à rotina massacrante e sem-graça de salários ridículos porque gostam do seu trabalho, porque na verdade, eles o ODEIAM. E todos eles sabem disso. Aquela satisfação que eles sentem quando emplacam uma machetinha, ou quando dão um furinho na concorrência é só um escape, uma fuga do contexto, um alento, a rosquinha do Homer Simpson, uma falha na Matrix, o doce para o rato no labirinto do laboratório. É uma profissão ardilosa.

Parágrafo único - Você pode virar um William Bonner e ganhar dinheiro pacas, mas ainda assim será um jornalista. Pense nisso.

Jornalista sofre - OK, isso não é um mito, é verdade. Mas eu não entendo porque tem jornalista que ADORA proferir aos quatro ventos que trabalhou demais, escreveu cinco abres com duas subs e uma arte cada, que ficou no pescoção até as 4h da madrugada, que está trabalhando há 30 dias sem folga... Eu mesmo já fui assim. Oras! Se a profissão que você escolheu é uma bosta e você é um fracassado, não tente fazer com que as pessoas tenham pena de você por isso! Não tá gostando sai dessa, cara! Ou então, se quer sofrer de verdade, vá carpir terreno ganhando salário mínimo, vai! Fica aí com a bunda na cadeira ouvindo iPod, ganhando jabá e ainda acha que a vida está ruim, é?

Jornalista é jornalista "24 horas por dia" - Deve ter gente que é mesmo. Eu, graças a Deus, não sou. Nem preciso ser. Até porque é preciso, sei lá, dormir, né? Pelo menos. Tem um pessoal por aí que leva isso tão a sério que acaba levando para a redação hábitos que deveriam deixar só em casa - como produzir merda, por exemplo. Acho que a maioria dos jornalistas que dizem isso o fazem porque acham bonito mesmo. Com um salário de miséria, é como se fosse um diferencial: "minha profissão é tão nobre que não posso desligar por nenhum momento". Grande vantagem!

Jornalista é estressado - É comum associar a imagem do jornalista a café e cigarro. Eu acho que é exatamente por isso que a maioria dos jornalistas bebe café e fuma. Uiuiui! Jornalista A-DO-RA ficar estressado! Faz parte do glamour da profissão. Mas, na verdade, grande parte dos profissionais que conheci ao longo de minha curta carreira são bem sossegados e gente boa. Os mais nervosos são assim não por causa do jornalismo, e aposto que também seriam esquentadinhos se fossem médicos, economistas ou faxineiros.

Jornalista sabe (ou precisa saber) de tudo - Ahan! Essa é uma máscara dos jornalistas que já caiu faz tempo perante a sociedade. Jornalistas são notoriamente conhecidos como os "especialistas em generalidades", aqueles de tudo sabem um pouquinho. Mas é bem pouquinho mesmo. Leem só as manchetes, e mesmo quando se aprofundam por algum tempo em alguma história, ela logo é substituída por outra, quando não por algum assunto de interesse do próprio jornalista (que, vale lembrar, é uma pessoa). Jornalismo é um trabalho, catzo! Ou alguém acha que os jornalistas chegam em casa e pegam um belo livro para ler sobre dengue, a crise da saúde pública ou as nuances da balança comercial? Exceção, claro, para os jornalistas especializados (quem?) - mas estes, coitados, só sabem mais um pouco sobre algo que só a minoria quer saber.

Jornalista é bem informado - É uma variante do item acima. No churrasco com a família, chega o amigo do tio: "Você é jornalista, né? É verdade que o Dunga vetou a entrevista exclusiva com a Fátima Bernardes?". Sei lá eu, oras! Não estava lá! Ou então, no jantar com um amigos, tem sempre um jovem advogado ou alguém que mexe com negócios, um yuppie: "Ih, rapaz, se o dólar continuar caindo assim o mercado não aguenta! Não é, Luís?" Tento encontrar a piada na pergunta, mas eles falam sério. E eu pensando só no próximo lançamento para o Wii...

21 de junho de 2010

Como joga esse time do Dunga!

Brasil x Costa do Marfim, 20 de junho de 2010, domingo. Seguem alguns comentários que ouvi durante a partida e após o fim dela, ao vivo ou em Twitter e afins:

"Esses negão aí (Costa do Marfim) correm bem mais que os brasileiros."

"Tomara que o Elano tenha quebrado a perna (após receber falta criminosa e ter marcado um dos gols do jogo) para ficar fora da próxima partida."

"Ah, mas esse gol até minha vó fazia (sobre o gol do Elano)."

"O gol do Luis Fabiano foi um golaço. Mas também, contra a Costa do Marfim..."

"Precisa usar a mão pra marcar contra a Costa do Marfim?"

"O jogador da Argentina pediu música do The Killers no Fantástico. O Luis Fabiano pediu Exaltasamba. Somos mesmo melhores em tudo"?

Fazer piada é uma coisa, eu sei. Mas eu não consigo entender porque há tanto pessimismo, tanta autodepreciação em torno da seleção brasileira.

Na seleção, há muito espaço para críticas, principalmente nas atitudes do Dunga e até mesmo na qualidade técnica de alguns jogadores. Mas há muito exagero.

E a única explicação que eu vejo para isso é a mesma da qual todos acusam o Dunga: rancor. Rancor da imprensa por fechar os treinos, blindar entrevistas e evitar a troca de informações de bastidores. Rancor da torcida por não ter levado o Ganso, o Neymar e o Rui do Chapéu.

Você pode adorar o Ganso e o Neymar, mas o fato deles não terem sido convocados não torna seus substitutos (no caso, Julio Baptista e Grafite) automaticamente uns imbecis.

É como aquela coisa do crítico de música: não é porque você não gosta de determinada obra que ela é ruim. Aceite isso. Seria muita arrogância, né? Se você acha que tal jogador é ruim, me dê argumentos que sustente sua tese. Errou um passe? Perdeu um gol? Bom, isso tudo já aconteceu com Ganso, Neymar e até com Pelé. Se não gosta dele, é outra coisa.

Da mesma forma que não gostar do Dunga não tira o crédito de todo o trabalho dele (ele foi o capitão do tetra, porra!) e de toda sua equipe.

Infelizmente, criou-se a ideia geral de que ser crítico, ser "do contra", é sinal de inteligência, de "personalidade".

Os resultados de Dunga e de sua equipe até agora estão aí, inquestionáveis. E eu nem digo que quem fala mal à toa desse time não entende nada de futebol, porque eu também não entendo. É pura questão de confiar e torcer, se ligando nos pontos fortes (eles existem). Com essa seleção aí nem precisa tanto esforço.

Se o Brasil ganhar a Copa (eu acredito que vai - e apenas acredito, sem me basear em elemento científico nenhum), com certeza vamos ouvir "ah, o nível da Copa estava muito baixo, só assim mesmo." E essas mesmas pessoas, daqui a alguns anos, se esquecerão de tudo isso e dirão, orgulhosas: "como jogava aquele time do Dunga!"

Eu prefiro fazer isso agora.

3 de junho de 2010

Sobre não fazer nada

Nos meus bons tempos de faculdade, no final de mais uma rodada de War II (sim, sou nerd) madrugada adentro, alguém reclamou que não teria tempo de dormir para a aula (cof, cof) do dia seguinte.

Aí um amigo veio dizendo que uma pesquisa comprovou - como eu não sei - que, a cada hora menos que o necessário que determinada pessoa dorme, ela perde 15 minutos de vida. Um outro amigo, que realmente deveria investir na carreira de stand-up comedy, completou: "Ah, mas aí você ganha os 45 minutos em que ficou acordado, né?"

Foi uma piada, mas o fato é que eu penso assim.

Dormir é o ápice do ostracismo humano. Como não? "É importante para o organismo, descansa. Recarrega as baterias." Sim, claro. Mas produzir mesmo, ninguém está produzindo nada.

Nem os sonhos a gente controla! Respiração? Pfff... Se colocarem veneno no ar, morreremos, tamanha nossa falta de controle da situação - afinal, não podemos fazer NADA a respeito de qualquer coisa que seja.

Mas calma. O presente post não é uma ode à hiperatividade ou a defesa daquela coisa idiota de que #dormirehparaosfracos. Só acho que, se for para fazer nada, que seja com estilo. E acordado.

Acontece que minha definição de fazer nada é bem ampla. Desde muito cedo, e sei lá como, aprendemos que temos que estudar, trabalhar, criar filhos e morrer.

Pois bem: para mim, o que não está relacionado a isso é fazer nada. Cinema + jantarzinho no sábado à noite? Descanso (mesmo com todo o trabalho que dá para arrumar vaga no estacionamento). Almoço intercalado durante dois períodos no trabalho? Tortura medieval. É mais ou menos assim.

A solução aparente seria transformar o trabalho em NADA, mas isso é impossível. E eu não acredito naqueles que dizem: "nossa, adoro meu trabalho".

Você pode integrar o elenco fixo de filmes pornô com a Scarlett Johansson, ou ser degustador de cervejas tchecas, mas sempre vai ter um dia em que vai acordar e pensar: "estou de saco cheio disso aqui! Quero fazer nada!" Como dizem, tudo que vem em excesso faz mal - e o trabalho obviamente se inclui nessa categoria.

Ultimamente, tenho pensado cada vez mais em como seria legal ter mais tempo para fazer nada. Não sei qual religião diz que o paraíso é aquilo que a gente quer que ele seja, mas eu acredito nisso. E quero que o meu seja um monte de nada.

Até lá, vou tentando a sorte na Mega-Sena.

PS: Descobri que esse blog agora tem audiência, já que foi linkado pela Gabriela e consta na lista de favoritos da Marina. Vou tentar tomar vergonha para melhorar um pouco tudo isso aqui. Obrigado, meninas!

6 de maio de 2010

Meus vinte e poucos quilos

Então é isso. Em pouco mais de um ano, emagreci 20 quilos.

Eu me lembro de ser gordo desde criança. Hoje sei que o que incomodava mesmo eram umas certas gorduras localizadas nas laterais do abdômem (que, é claro, ainda existem). Na adolescência, a falta de atividade física e comida em total descontrole me fizeram um gordo propriamente dito. Mas nunca me preocupei com a balança, saúde ou afins. Nem me pesava. Mas, é claro, me achava inadequado. A coisa continuou degringolada com o início de minha profissional, que estimula o sedentarismo.

E assim foi, basicamente, até o ano passado. Em um belo dia do feriado de Carnaval, fui com minha então noiva comprar o terno que usaria no meu casamento. O maior número da loja ficou apertado em mim. Essa situação, aliás, que não era nada nova em lojas de roupa, mas naquele contexto me serviu de alerta: "Taí a oportunidade". Antes de mudar para uma loja do Gordo Elegante ou coisa que o valha, comprei o terno daquele jeito mesmo e parti determinado a entrar nele até setembro, quando seria o casamento. Eu tinha seis meses.

Minha primeira atitude foi procurar um médico. Cardiologista. Uma grande figura. Expliquei que queria começar a fazer alguma atividade física, ele fez um check-up (não me lembrava de ter feito algum desses até então) e, milagrosamente, meus exames deram tudo OK. Pressão, glicemia, colesterol. Ufa, pelo menos isso.

Entrei, então, para a academia. Ni primeiro dia, subi na balança: 108. Alguns meses antes, quando morava em Jundiaí, me lembro de ter ido a uma farmácia e inventado de me pesar. Deu 113. Então até que estava no lucro. Naquele momento, no entanto, meu IMC ultrapassava a marca dos 30, o que caracteriza a obesidade. Ninguém me chamaria de obeso, acho, mas com certeza me apontariam como referência em uma aglomeração de pessoas: "O banheiro fica ali atrás daquele gordo", ou então "Ah, não conhece o Luís? É aquele gordo..."

A experiência na academia durou pouco. Com incentivo zero e péssimas experiências passadas, não foi pra frente. Fiquei dois meses, acho, mais faltando do que indo, e saí de lá do mesmo jeito que entrei. Com umas gramas a menos, talvez. Então apelei aos químicos. Procurei uma endrocrinologista que me receitou a sibutramina. Era o que eu queria. Afinal, precisava emagrecer rápido (o objetivo mesmo era entrar no terno). O remédio funcionou maravilhosamente, mas até hoje me pergunto se era mesmo efeito dele ou do meu psicológico a falta de fome à noite, horário que sempre foi crítico para minhas aventuras gastronômicas.

Tive o bom senso de usar a sibutramina para mudar alguns de meus hábitos. Passei a acordar cedo (o remédio que tirava o sono mesmo) e a comer melhor (tomar café da manhã, hábito que não cultivava, salada no almoço, lanche leve à noite). Às vezes, não comia nada à noite. Ou comia bolachas. Como estava acordando cedo, passei a fazer caminhadas, se não diárias, quase isso. Me lembro de alguns amigos que me diziam: "esquece, caminhada não emagrece nada!" Pois bem: em quatro meses, perdi 12 quilos. Fui a 95: foi com esse peso que eu casei.

Minha médica dizia que eu poderia continuar tomando a sibutramina até por mais dois anos, se eu quisesse, mas eu não queria. Uma porque o objetivo já estava cumprido, outra porque eu não queria mais ficar me entupindo diariamente com uma substância esquisita e, principalmente, porque o diabo do comprimido FODEU com meu intestino. Sim. O que antes funcionava perfeitamente bem, com produção diária de cocô à vontade, parou. Efeito colateral, dizia a médica. Acontece em alguns casos.

Cheguei a ficar quatro dias sem ir ao banheiro, o que para mim era uma situação desesperadora e inimaginável. E altamente prejudicial também: eu ficava pensando naquele monte de comida acumulado dentro de mim e via minha barriga com o triplo do tamanho real (paranoia total). Quando voltamos da lua de mel, eu e minha mulher, nossa primeira atitude foi entrar na academia. Meu medo era, sem o remédio, voltar a engordar.

Procuramos uma academia bacana, anti-traumas, e deu certo. Felizmente, também consegui manter os hábitos adquiridos na época da sibutramina, e não sofri do chamado "efeito sanfona". Ainda acordo cedo, ainda como direito. Meu intestino ainda falha: contra isso, tomo um suplemento de fibras receitado por um proctologista (sim, eu fui a um).

Na academia, já consigo correr por 30 minutos seguidos (dependendo da animação do dia - assunto para um outro post). Hoje, fiz minha segunda avaliação: 88 quilos, menos porcentagem de gordura, mais músculo. Minhas roupas velhas estão largas. Muitas eu já dei. As que minha mulher me forçou a comprar mais "na medida" estão OK hoje.

Mas ainda assim me considero longe do ideal. Ideal? Não sei mais o que é isso. Ainda tenho barriga, tenho as tais gorduras, mas me sinto bem. Às vezes. Se fico um dia sem ir à academia, logo penso: "merda, engordei uns dois quilos hoje", mesmo comendo pão integral com alface e queijo branco na janta, arroz e frango grelhado no almoço e banana no café da manhã. Para ajudar, sempre tem o churrasco da família, a cerveja com os amigos, o lanche com a patroa para fugir do trivial, a feijoada do sogrão: comer é uma atividade social, e não apenas fisiológica (e disso tudo, nesse tempo todo, eu não abri mão).

Vou continuar com tudo, claro, mas talvez agora não me exija mais tanto. Emagrecer é difícil. A gente se cobra, encana, acha que não está bom, continua se vendo da mesma forma, estabelece metas inatingíveis.

Então, fica assim. A gente se vê nos 80, OK?

PS: O terno precisou ser ajustado. Para um tamanho dois números menor. E ficou sobrando.

19 de abril de 2010

Teoria do Caos no futebol

Antes de mais nada, aviso aos incautos que não sou físico e muito menos estudioso da Teoria do Caos. Sou um curioso, e tomei conhecimento dela da forma como costuma acontecer com meros mortais (meio nerds, é verdade): pela cultura pop.

Se você quer seguir o mesmo caminho que eu, assista aos clássicos da trilogia "De Volta para o Futuro"; "Corra, Lola, Corra" (o mais metafórico) ou "Efeito Borboleta" (o mais claro e direto). Eles te darão uma boa ideia do que trata a teoria.

Se você não quer ver os filmes antes de continuar lendo este post, tudo bem. Em linhas MUITO gerais, a Teoria do Caos diz que tudo, mesmo o acaso, é o resultado de ações combinadas. Ou seja: se você acorda e abre primeiro o olho direito, seu dia será de um jeito. Se abre o esquerdo, será de outro. E a tese vai além: diz que é possível calcular o resultado final de um conjunto de ações aleatórias em qualquer cenário (tem muita universidade séria financiando malucos pra descobrir como).

Enfim. Eu meio que acredito na Teoria do Caos. É bem óbvio que o futuro depende de nossas ações, e não me parece muito absurdo que dependa também dos atos que não controlamos. Ora, por que não? "Corra, Lola, Corra" expõe isso de forma magnífica (sério, se você ainda não viu esse filme veja agora ou dê logo um tiro em sua têmpora direita).


Caralho, o que diabos vai acontecer agora?


Pois então. Pensando em tudo isso, me incomoda deveras quando ouço comentaristas de futebol discutindo o que poderia ser se acontecesse tal coisa no jogo do dia anterior. É um maniqueísmo determinista completamente sem sentido e vazio.

Neste domingo em que escrevo, o Santos venceu o São Paulo na semifinal do Campeonato Paulista. O primeiro gol foi marcado pelo Neymar, com a mão. E ai vão os gênios: "Ah, mas mesmo se o juiz anulasse a jogada, o São Paulo não se classificaria, pois não marcou nenhum gol". Segundo a Teoria do Caos, se o juiz anulasse, ou mesmo se o gol tivesse sido marcado com os pés, ou no centésimo de segundo antes do que realmente foi, tudo poderia ser diferente. O São Paulo poderia ter feito quatro gols. Um meteoro poderia ter caído em campo. E na Tailândia poderia ter chovido canivetes. Sacaram o espírito?

E o mais legal: para o Neymar ter feito o gol com a mão, naquele momento da partida, uma série de coisas (não só no jogo, mas no universo todo) aconteceu EXATAMENTE COMO TINHA QUE ACONTECER. É loucura, eu sei, mas um dia alguém vai descobrir esse segredo e vai dominar o mundo. É nisso que acredito.

Aquela vontade

Às vezes, em várias situações, me dá uma vontade de produzir alguma coisa. Alguma coisa diferente do que usualmente faço. Exemplo: hoje, caminhando, vi luminosos em prédios que se sobrepunham e pensei: "se tivesse uma máquina fotográfica, faria uma foto; ela resumiria bem a urbanidade dessa parte da cidade."



Aí, enquanto a música acima tocava em meu fone de ouvido, eu pensei: "que música do caralho!". E me pus a imaginar o roteiro de um vídeo para ilustrá-la. Para poder executá-lo, com os meios disponíveis, poderia ser uma animação ou, no máximo, uma composição em slow motion. Na minha cabeça, saíram algumas ideias bacanas; e se eu tivesse como filmar de verdade (com atores etc.), seria melhor ainda.

Não tem um dia que eu não sente na frente do computador e pense: "hoje vou escrever aquele conto, ou aquela crônica, daquela ideia que tive outro dia". Ou: "hoje vou começar um romance". Nunca aconteceu.

Imagino que muita gente tenha vontades como essas. Alguns criam blogs, montam bandas, compõem músicas, desenham, fotografam.

Eu, não faço nada.

23 de fevereiro de 2010

A eternidade em 23 minutos

Acontece de repente, e muito de vez em quando. Ultimamente, tem sido muito raro. Nem lembrava quando tinha sido a última vez. Mas eis que eu estou, de novo, apaixonado por uma música.



É o seguinte. Conheci o Luna, autor da pérola (na maior das acepções da palavra) "23 Minutes in Brussels" em um show em Londrina, que, pesquisando no Google, descobri ter ocorrido em 28 de setembro de 2001. Naquela época, uma produtora da cidade, a Madame X, inundava as noites londrinenses com shows de grupos de lo-fi e afins. Eu não conhecia patavinas de Luna, mas fui. E foi bem divertido: vocalista blasé (numa definição positiva, acredite), baixista bonitona blasé ao quadrado, bateirista blasé ao cubo e um guitarrista que não tinha nada de blasé (era, inclusive, um sósia do ET do "Homens de Preto" - sério!). As músicas, desconhecidas, passaram; deu para repetir alguns refrões e tudo bem.

Depois, acabei comprando o CD do show que eles apresentaram - o "Luna Live" - em uma dessas promoções de discos da Trama. Conheci melhor algumas músicas, mas a verdade é que o Luna nunca figurou entre minhas bandas preferidas. E, com o passar do tempo e minha recente desilusão frente à música de forma geral, acabou esquecido no limbo da minha estante de discos.

Até domingo passado. Fui fazer minha caminhada/corrida (?) e me pus a escutar o disco no mp3 player (sim, mp3 player, é um genérico, eu não tenho iPod). Ouvi o disco quase inteiro, me lembrei de algumas músicas, por outras passei insolenemente, até que me deparei com uma bateria e um baixo convidativos. E logo depois uma guitarra displicente. E a bateria explodindo (no máximo que o lo-fi permite "explodir", claro). E a guitarra base, num timbre fantasmagórico. Fora o solo de longos minutos, como se fosse parte da rotina obrigatória de uma boa peça de lo-fi e space rock. "Meu Deus!"

"Left my hotel in the city", começa a música. "Hum, bacana". Ouvi inteira, e tudo bem. Domingo, procurei o vídeo dela no Youtube. E as letras. Ontem, no caminho para o trabalho, foi ela que escutei (levo apenas oito minutos para ir de minha casa até o trabalho; a música tem pouco mais de sete). Hoje, a mesma coisa. E aí, no final da tarde, me veio uma vontade irresistível de ouvi-la. Nunca fiz isso no trampo, mas botei o fone no ouvido esquerdo e mandei ver. A constatação: eu estava apaixonado.

"23 Minutes in Brussels" é absurda de boa. Mas tenho, também, plena convicção de que daqui a uma semana, ou menos, poderei não estar mais achando isso (assim como já aconteceu com tantas músicas pelas quais me apaixonei). Tudo bem, acontece.

Constatar a minha paixão (me deu vontade de usar aspas agora, mas seria um erro) me fez enxergar outra coisa: tenho um sentimento meio contraditório pelo fato de ter, por tanto tempo, alimentado meu "vício" (aqui sim) por descobrir bandas novas. Contraditório porque, não fosse por isso, eu jamais teria descoberto "23 Minutes in Brussels" e outras tantas pérolas perdidas por aí, mas também me parece uma tremenda perda de tempo ter corrido tanto atrás de tantas referências, dicas e etc.

Por isso eu dou risada de gente que se gaba por ter um zilhão de discos. Tipo de gente que eu já invejei. Essa que se gaba pelo "ter", mas que no fundo não sabe admirar de verdade o que possui. Quando muito, mal conhece o que lota suas prateleiras. É com descobertas como a de "23 Minutes in Brussels" que vejo que a música é uma experiência subjetiva, única e insubstituível. E aqui, mais que em qualquer outro contexto, qualidade vale muito mais que quantidade.

10 de janeiro de 2010

Em Prudente, o número 1 é mais embaixo

Ok, interrompo minhas férias internáuticas (no meio de minhas férias reais) porque o assunto pede urgência. Na verdade, eu adoraria ter um blog "sério", segmentado, não para viver disso - exatamente o contrário, a ideia é ter liberdade e tempo o suficiente para fazer o que bem entender -, mas sinto que seria legal tocar algum projeto com uma cara mais, digamos, profissional.

Enfim.

Se meu blog sério fosse sobre crítica gastronômica, eu teria arrumado um forte inimigo. Um inimigo número 1, eu diria.

Passando breve temporada em Presidente Prudente, cidade abençoada onde vive minha família, fui à pizzaria Número 1 ontem, com minha digníssima, cunhado, irmã, sobrinho e mãe. Já conhecia o lugar, sabia que a pizza era mais ou menos (digna, mas nada demais), mas a decisão acabou se mostrando um grande erro. O local estava abarrotado de gente. Fila quilométrica para pegar mesa, pessoas saindo pelo ladrão. Até que não demoramos tanto para conseguir um lugar, mas estava bom demais para ser verdade.

Meu cunhado precisou pedir uma cadeirinha especial para meu sobrinho (ele tem dois anos) para três garçons diferentes. Demorou uns cinco minutos até podermos fazer o pedido, que era bem simples: refrigerantes, cervejas e cinco rodízios. O primeiro pedaço demorou, sem dúvida, mais que cinco minutos para chegar. E se você pensa que isso é pouco tempo, e que estou reclamando de barriga cheia, me perdoe, mas você nunca foi a um rodízio de pizza decente.

Entre um garçom e outro, trancorria-se uma eternidade. A ponto de querermos ir embora. Como se isso ja não desabonasse o atendimento, um dos refrigerantes veio no copo sem gelo (apesar da ênfase no pedido) e um dos garçons derrubou um pedaço da pizza de alho na mesa quando foi servi-lo (foi alho frito para tudo quanto é lado - e ninguém sequer se deu o trabalho de limpar!).

Vale lembrar que o valor do rodízio é de R$ 17,50. Um absurdo pelo serviço porco, pelo local (que não oferece nada além de um galpão lotado de mesas, sem decoração especial ou algo que o valha) e pelas pizzas em si (contei cinco pequenas rodelas de palmito no pedaço da pizza desse sabor que me foi servido). Até na Cascata, em Ribeirão, com rodízio a R$ 9,90, arrisco dizer que tudo é bem melhor.

Na hora de pagar, pelo menos, a única coisa boa: o cara não teve a cara de pau de incluir os 10% da taxa de serviço. O que mostra que eles são ruins, mas ao menos têm autocrítica.

(Agora vem o momento "análise sócio-política regional" incitado pelo puro e simples sentimento do blogueiro de que este espaço é dele e ninguém pode impedi-lo de dizer o que ele quer)

O triste de tudo isso é que essa tal Número 1 é, de fato, uma das únicas (ao lado de umas outras, sei lá, três) opções em Prudente para se comer uma pizza. O lugar é assim e vai continuar assim. Meu cunhado mesmo disse "ah, é sábado, a gente veio tarde, lota mesmo, os caras não aguentam". Não aguentam? Ora! Que contratem mais gente! Ou limitem o número de vagas para os clientes - ah, é claro, isso os forçaria a buscar uma opção melhor, ou quem sabe, faria com que um deles mesmo abrisse sua própria pizzaria na cidade, não é mesmo?

Prudente é a capital de uma região pobre, esquecida e abandonada, pelo Estado e pelos seus próprios governantes. A cidade não se desenvolve por uma série de (des)interesses, mas para o pessoal de Sadovalina, Teodoro Sampaio, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Alfredo Marcondes e afins, comer uma pizza na Número 1 no sábado à noite equivale ao "teatro (cinema) - jantar (barzinho)" do paulistano suburbano. É o máximo visitar a metrópole.

Posso estar sendo irritantemente pedante? Posso. Mas sei que tenho um fundo de razão. Muita coisa aqui poderia ser melhor, mas não é simplesmente porque não precisa ser. Para a maioria das pessoas, está bom assim.

Como diz um trecho do hino da cidade, "qualquer raça do mundo/ que nela aportar /o labor e o amor profundo/ há de encontrar".

Labor e amor profundo sim, já bom atendimento em serviços vai ser difícil...

Como?

Na home da Folha Online em 10/01/2010:

Trinta e nove, 250, 11...

Como diria uma professora da faculdade, "precisão, percebe?"

22 de novembro de 2009

Andy e seus amigos

(ATENÇÃO: este texto contém spoilers. Mas é sobre um filme produzido em 1994, então acho que ninguém vai se importar)

Ok, ok: eu choro em filmes. Choro mesmo. Pra certas coisas, sou praticamente uma menina. Uma vez, chorei com uma matéria do Esporte Espetacular em que o jogador Rui (um carequinha apelidado de cabeção que jogava até pouco tempo no Fluminense - não vi mais ele) reencontrou seu pai. Pois é.

O primeiro filme em que chorei foi E.T. O que, na época, foi uma situação que se desenhou como um grande paradoxo para mim, já que eu morria (morria? a quem estou querendo enganar? eu ainda morro...) de medo de ETs. Depois, ainda criança, chorei com Meu Primeiro Amor, e eu tinha vergonha dos adultos que estavam por perto, então segurava as lágrimas o máximo que podia e depois, quando ia dormir, pensava de novo no filme e chorava de verdade.

Já crescido, um belo dia fui assistir Um Sonho de Liberdade em uma madrugada na Globo (acho que era Intercine). Acho que um cunhado meu havia indicado o filme. Nem é preciso dizer que chorei em bicas. Ao mesmo tempo em que achei o filme, naquele momento, um dos melhores que já tinha visto na minha vida. E é fuckin' fodidamente fantástico mesmo.

Como minha situação financeira na época era um lixo, e a própria situação tecnológica do mundo não era lá essas coisas (anos 90, gente!) , eu gravei o filme em VHS e assistia sempre. Uma vez, minha irmã gravou a novela por cima da cena final, em que o Red encontra o Andy na praia (ops, spoiler, foi mal) e eu fiquei deveras puto. O engraçado é que eu só comprei o DVD do filme há uns dois anos, em uma dessas promoções das lojas Americanas. Mas prossigamos.

O que quero dizer é que, mesmo tendo visto Um Sonho de Liberdade umas 30 vezes (esse deve mesmo ser o número correto, não é hipérbole), eu ainda choro. Mas ontem, ao assisti-lo mais uma vez (a primeira com home theater e TV LCD - tá pensando o quê?), percebi que é sempre uma cena diferente que me desperta o lado mocinha desamparada. Na primeira vez, chorei quase da metade toda do filme para o fim, desde quando o Brooks se mata. Com o auge, é claro, na expectativa gerada pelo possível suicídio do Andy. E sempre com os olhos marejadíssimos na épica cena da chuva (que é realmente uma cena muito bonita, cinematograficamente falando - tem contexto, trilha perfeita, luz, interpretação... congruência total de fatores).


Tomar banho de chuva, banho de chuva, ah, ah... ai ai ai ai ai ai ai ai ai aiaaiaiai


Dessa vez, o que me emocionou foi a parte pós-fuga do Andy, em que seus amigos estão na mesa comendo e se lembrando de suas façanhas na prisão. Quando o Red diz que está feliz por ele, mas que sente sua falta. O que isso me diz? Que eu sinto falta dos meus amigos? Que eu deveria tentar passar mais tempo com eles? Sei lá. Aí acho que já é muita viagem. Por ora, espero apenas uma boa oportunidade para que eu possa tomar meu banho de chuva...


PS: Aconteceu o que eu temia. Vendo o filme ontem, comecei a notar uma porção de "falhas". Frases muito melosas, cenas que não se encaixam (como diabos ele abre um buraco em um cano de ferro com uma pedra com espaço suficiente para ele mesmo passar em tão pouco tempo, meu Deus?)... É mais um ícone da minha juventude que aos poucos se esvai e perde sua majestade para comigo mesmo. Ficar adulto é uma bosta. Mas isso é assunto para outro post - ou não.

5 de novembro de 2009

O menino de Peshawar

Enquanto jornalista, sei que este é um grave defeito meu, mas a verdade é que eu não costumo dar muita bola para fotografias. Deve ter começado na faculdade: minha professora era péssima, o equipamento era sucata e meu interesse pelo assunto, que já era baixo, tornou-se nulo. E, para ser sincero, eu sempre tive um pouco daquele coisa de "jornalista de verdade apura informação, faz texto, não aperta botão". Para mim, em suma, foto sempre foi aquela ilustração que preenche o buraco na página para divertir os olhos do leitor. Pronto-falei.Mas é claro que com o tempo eu mudei essa visão, e hoje realmente sei que uma foto pode dizer o que nem mil páginas de jornal (e não palavras) poderiam descrever.

Bom, o mundo tem uma porção de coisas que eu não entendo, e uma delas é a bagunça toda dessa região chamada Oriente Médio (tomei a liberdade de incluir Afeganistão e Paquistão aí no balaio - nem sei se formalmente eles são considerados Oriente Médio, mas como brigam pacas e são em sua maioria adoradores de Alá, para mim está valendo).

Como leitor, e mais recentemente editor, eu sempre achei completamente banais qualquer informação como "número de mortos em atentado chega a X" ou "carro-bomba explode e mata Y no casa-do-caralho-quistão". Isso, é claro, ocorre em boa parte por culpa das agências internacionais, que no mais das vezes não fazem notícias, e sim atualização do placar de mortos do dia nos locais de conflito. Afinal, explicar tudo certinho dá trabalho, e uma boa quantidade de cadáveres na capa do jornal sempre chama mais a atenção. Contextualização de cu é rola.

O mesmo com as fotos. São sempre ruínas, ferragens de veículos, poeira, um pessoal queimado de sol e barbudo com umas túnicas esquisitas gritando... É tudo horrível, mas vamos admitir, gente: caiu tudo em uma terrível normalidade. Terrível mesmo. Para o leitor/espectador ocidental, que desaprendeu a refletir sobre as raízes do problema; para a imprensa, que repete a mesma fórmula sempre inquestionável de cobertura e, principalmente, para os desafortunados moradores das localidades atingidas, que têm suas vidas reduzidas a estatística e, quando muito, cenário de horror para deleite dos hipócritas de plantão.

Meu pensamento era esse, até que me deparei com a foto abaixo.



Foi na semana retrasada, quando estava editando a página de Mundo do jornal. É de um atentado na cidade de Peshawar, no Paquistão, que aconteceu em um mercado frequentado essencialmente por mulheres - no caso específico deste ataque, um carro-bomba foi explodido no momento em que muitas mães tinham acabado de pegar seus filhos em uma escola próxima e passavam pelo lugar para comprar alimentos para o jantar. A rigor, é mais uma foto da desgraça no Oriente Médio.

Mas para mim a foto pegou. Pegou fundo, de verdade. Pode ser parte do processo de emboiolagem pós-casamento, mas pegou. A criança no colo do pai é uma imagem já forte por si só, mas uma série de detalhes, que fui notando com a contemplação da foto, me derrubou. O principal deles é a sandalinha do menino - coloridinho, bem abotoado, uma sandalinha de criança. Teria sido amarrado por sua mãe? Teria sido comprado por quem? E o pior: cadê o outro pé? Se perdeu com a explosão, e pensar nisso para mim foi bastante aterrorizante. Quem teria coragem de explodir uma bomba perto de uma criança que usa uma sandalinha como essa?

O pai segura seu filho consternado, como se tivesse chegado tarde demais. Eu queria estar lá para dizer a ele que não tinha como chegar mais cedo, que ele não poderia ter feito nada, que aconteceu como tinha que acontecer, que foi um acidente inevitável. As pessoas em volta olham, e o que impera em seus olhares é a expressão de respeito e tristeza, acima da curiosidade.

A legenda que veio com a imagem, da agência France Press (o nome do fotógrafo, aliás, é A. Majeed) começava dizendo "Dead child...". Eu não queria ter lido isso. Nunca desejei tanto que uma informação estivesse errada, e que essa criança estivesse, de alguma forma, viva.

Eu sei que há muitas crianças que morrem por aí, de formas até piores, e vocês podem dizer que eu não reajo com elas assim como reagi com o menino paquistanês. Pois é. Culpem essa foto, feita em algum momento do final da tarde do dia 21 de outubro de 2009 na cidade de Peshawar, no Paquistão.

Dizem que o jornalismo tem o poder de mudar o mundo. Nem que seja um pouquinho, essa foto mudou o meu.

16 de outubro de 2009

Everyday is exactly the same

Hoje é um daqueles dias. Me dá vontade de abraçar o mundo. E de não dizer esses clichês idiotas pra expressar como me sinto.

Sei que isso tem um nome: ansiedade. Mas isso pouco importa. Dar nome às coisas não resolve nada. Tenho vontade de começar a escrever um livro. O meu livro. Um não, vários. Tenho vontade de sair correndo (não no sentido de fugir, nada disso, para me exercitar mesmo). Tenho vontade de ir atrás de vídeos legais no YouTube - e vou, mas, passados poucos segundos de cada um deles, abro outros (os relacionados) e quando vejo há uma porção de abas, muitos links abertos, nenhum fechado. Tudo incompleto.

Hoje é mais um daqueles dias. Eles se repetem bastante, ultimamente. Sinto falta de tanta coisa. Sinto que estou perdendo tempo, que o estou desperdiçando, que não estou sabendo viver. Não é uma sensação muito boa. Não, não tem nada a ver com o casamento - ele até que me ajuda pra caramba. É algo além disso, que corre em paralelo, e que parece ter estado sempre ali, escondido nos últimos anos (quando eu estava bastante ocupado com outras coisas), e que voltou com força total agora com a calmaria. Mente vazia, oficina do diabo.

Fico pensando que, se conseguisse canalizar toda essa energia em um talento, uma única ação, ou transformá-la em felicidade, estaria tudo resolvido. Tudo resolvido.

Droga.

22 de julho de 2009

O choro de Cristian

Até ontem, eu havia chorado apenas duas vezes com o futebol.

A primeira foi foi na Copa do Mundo de 1994, um torneio que eu me gabo de ter acompanhado integralmente. A final foi muito tensa, e quando o Brasil venceu eu subi para o terraço da minha casa e as lágrimas saíram como um impulso. O choro foi um alívio.

A segunda ocasião foi quando o Corinthians ganhou a Copa do Brasil de 1995, contra o Grêmio. O time gaúcho era muito badalado e quase ninguém acreditava que o Corinthians pudesse vencer (pelo menos era dessa forma que eu via a situação naquela época). A vitória (com um gol de Marcelinho Carioca no Olímpico), portanto, para mim, foi algo redentor; a sobreposição do mais fraco, do batalhador, contra o mais forte, o estabelecido. O choro foi um desabafo.


Até ontem.

Porque, ontem, André Santos e Cristian deram adeus ao Corinthians. "Oh, meu Deus, e daí, Luís? Não é o fim do mundo", dirão os incautos. De fato. Mas é uma pequena catástrofe para o atual contexto corintiano. Este time vem jogando junto desde o início de 2008, e todo torcedor corintiano que se preze acompanhou sua evolução, desde a humilhação pela passagem na Série B e a redenção (olha ela aí de novo) com as conquistas do Paulistão e Copa do Brasil 2009. Não há como não sentir a perda de jogadores tão importantes para a equipe.

No caso do André Santos a situação não é, digamos, tão grave. Ele mesmo e a diretoria já vinham falando de sua transferência há um bom tempo. E ele era bem mais "mala" em campo: adorava uma firula, era displiscente, perdia o foco com facilidade. O que, ao menos para mim, quase anula a importância dos 25 gols (alguns importantíssimos) que marcou em sua passagem pelo time.

Com o Cristian é diferente. O cara chegou desacreditado do Flamengo (foi dispensado pelo técnico Caio Júnior - quem?), demorou para se firmar como titular (eu mesmo, no começo, achava que o Fabinho não deveria dar lugar a ele nem aqui nem na China), mas de repente lá estava ele, sendo indispensável. Roubando bolas, fazendo coberturas, ligando contra-ataques, sendo preciso, dando passes e assistências. Foi constantemente acusado pelos adversários de ser agressivo demais, mas isso é conversa mole - ele de fato era, mas o soube ser na medida certa. E ainda bem que o Corinthians teve alguém como ele para cumprir esse papel (me lembro bem do jogo contra o Santos pela primeira fase do Paulistão, quando se gerou uma expectativa enorme para a estreia no Neymar e o Cristian foi lá e deu um belo tapa na orelha no moleque, que não fez nada durante o jogo todo - o Corinthians ganhou por 1 a 0).


Me emocionar com as imagens de Cristian se despedindo de seus colegas na sala de musculação ou não conseguindo segurar as lágrimas durante sua entrevista talvez fosse algo que eu não esperava (e certamente mostra um nível de fanatismo jamais obtido por mim pelo Corinthians - mas o time está em boa fase, então isso não é preocupante). É realmente surpreendente ver, nos dias de hoje, esse tipo de reação de um jogador que vai para a Europa (principalmente porque não há como desconfiar minimamente de qualquer tipo de "cena" por parte de Cristian), e me enche de orgulho o fato disso ter acontecido no Corinthians. Um choro de gratidão.

Até ontem, eu tinha três grandes ídolos no Corinthians: Ronaldo (o goleiro), Neto e Marcelinho Carioca.

Até ontem.

18 de abril de 2009

Ressuscitado

Pronto. Uma noite de insônia (a boa e velha ansiedade) e cá está o blog de volta.

18 de março de 2007

De volta para o futuro

Tomei um susto hoje a hora que liguei a TV. Percebi que a maioria - quase todos - os canais da minha TV a cabo estavam desativados. Aí lembrei da moça que me vendeu o pacote ter disto alguma coisa sobre algum prazo de três meses para alguns canais. Mas, sinceramente, não sabia que seriam tantos.

Digo que levei o susto porque há duas semanas esperava por este sábado na TV. Às 18h, o telecine cult ia passar a maratona "De Volta Para o Futuro", os três filmes numa pancada só. A cerveja e aperitivos já estavam garantidos, era um evento que não poderia perder. Por isso estava tão apreensivo enquanto apertava o botão de canal rumo à casa dos 60. Felizmente - e eu realmente agradeci aos céus por isso - toda a rede telecine continuava lá.

Às 18h, lá estava eu, a postos. Agora são 0h12, e o terceiro filme acabou faz uns 15 minutos. Acho que foi a primeira vez que eu vi a a série pra valer, com toda minha atenção voltada aos detalhes de cada filme. Continuo achando a trilogia fantasticamente absurda de boa, mas pude notar uma série de probleminhas - nada que para mim, repito, comprometa a qualidade e capacidade de entretenimento da obra.

Primeiro, o roteiro desrespeita largamente o princípio "Corra Lola Corra", da teoria do Caos, aquela que diz que cada pequeno passo que damos gera uma influência em todo o universo. Tudo está conectado, e nossas ações têm conseqüências. Uma volta no tempo por si só seria algo que alteraria tudo de forma gigantesca, mesmo que não fizéssemos absolutamente NADA no passado.

Também há várias pequenas alterações no argumento para que o roteiro maluco possa de cumprir. Por exemplo, no segundo filme, o que tem a ver o Doc levar o McFly pro futuro só pra resolver o problema com o filho dele? Ele mesmo não poderia ter resolvido tudo sozinho? Não, ele precisava criar toda uma situação para o Biff voltar para o passado e entregar o Almanaque de esportes para ele mesmo - e, é claro, no mesmo dia em que o raio cai e toda a merda no primeiro filme acontece.

Também dá para notar uma diferença grande entre os três filmes - o segundo é o melhor, eu já achava isso e hoje pude confirmar minha opinião. O terceiro é mais "pop", com o roteiro mais meloso e umas frases mais de efeito, parece ter sido feito exclusivamente para atrair público mesmo. E tem um fim bem forçadinho, não tinha nada a ver a namorada do Marty pegar o fax onde estava escrito "Você está despedido" e perguntar ao Doc por quê aquilo tinha acontecido. Será que ela era tão burra de não imaginar? Mas é claro, o Doc precisava de uma deixar para soltar que o futuro está em branco, e é feito por cada um de nós.

Não dava para cobrar nada diferente de um filme do Spielberg feito para as massas mesmo. E, embora eu esteja falando mal, vou comprar os filmes em DVD para meus filhos poderem assistí-los um dia desses. No futuro, claro.

28 de fevereiro de 2007

Noite fria

Estava deitado no sofá quando um vento frio da noite entrou pela janela e encontrou meus pés. Na hora, tive uma lembrança única. De uma noite em São José do Rio Preto, em um dia perdido no mês de maio do ano passado.

Naquele dia, o énimal me visitou. Durante o dia, aproveitei minha hora de almoço e fui buscá-lo na rodoviária. Estava sol, mas uma brisa fria soprava e o céu era azul. Um daqueles dias que eu sempre gostei. Busquei-o, levei-o até minha casa e fomos almoçar com mais dois amigos de Londrina que coincidentemente também moravam em Rio Preto - sendo que um deles trabalhava comigo.

Voltei ao trabalho, e Daniel para seus compromissos - verdadeiros motivos de sua visita à cidade. Na volta, à noite, fomos ver "Capote" no cinema. Um cinema antigo, daqueles que ficam no centro da cidade, perdidos como o tempo. E, aparentemente, como nós naquele dia. Chegamos antes do previsto e passamos em um supermercado ali perto. Compramos alguma coisa para comer e nos sentamos em uma escada de uma loja (ou coisa parecida) perto do cinema.

É a este momento que o vento no meu pé diretamente me remeteu. Àquele frio. Não nos víamos havia um bom tempo - mais de oito meses, acho eu. Naquele dia, conversamos. Sobre coisas que hoje já nem têm mais tanto valor, mas que naquele momento eram bastante importantes para nós dois. Alguns dos problemas abordados naquela noite passaram. Outros não. Para combatê-los, uso agora a mera lembrança daqueles minutos frios.

Um dia memorável. Obrigado, énimal.

26 de fevereiro de 2007

Tudo sobre

Hoje, tomei uma das decisões mais importantes (e acertadas) da minha vida. Às 22h em ponto, precisei escolher entre assistir os filmes "Sr. e Sra. Smith" e "Tudo Sobre Minha Mãe", que passariam em canais diferentes na TV, e no mesmo maldito horário.

O dedo no controle estava nervoso, e oscilava entre os canais. Indeciso entre o blockbuster com a gostosa da Angelina Jolie e o independente com a gostosa da Penélope Cruz. Parou no segundo. "O pseudo espanhol. Droga", pensei.

Uma hora e 40 minutos depois, mais ou menos, estava em êxtase, e pensei que Brad e Angelina eram nada mais que lixo puro. O Almodóvar é mesmo foda. O cara tem a manha. Bolei uma analogia meio besta que justifica a fodidez do filme que acabei de ver. Vamos lá.

Às vezes, no trabalho, fico o dia inteiro apurando informações para uma reportagem que promete ser bastante grande. Quando chega o fim do dia, os planos mudam e ela vira um texto pequeno. É preciso, então, condensar tudo o que foi apurado naquele espaço: números, argumentos, declarações, pontos de vista. Sempre quando isso acontece, acabo ficando um pouco frustrado, porque tenho a impressão de que o trabalho final nunca fica bom.

Com o "Tudo Sobre Minha Mãe", Almodóvar conseguiu atingir a perfeição em contar uma história cheia de nuances em uma hora e 40, um "texto pequeno" para os padrões do cinema - gastam muito mais tempo para mostrar efeitos especiais por aí. Ademais, nunca imaginei que me veria chorar diante de uma cena que mostra um pai travesti aidético conhecendo seu filho.

Agora, estou um pouco incomodado, mas com uma sensação boa, de alguém que sabe que acabou de ver uma grande obra - e pode senti-la e compreendê-la em toda sua magnitude. Pseudo isso, né? É. Nem só de Penélope Cruz se faz um bom filme do Almodóvar.

15 de fevereiro de 2007

Sobre minha mãe

Minha mãe é tão foda, tão foda, mas tão foda mesmo, que se eu fosse falar tudo o que gostaria sobre ela, morreria de emoção.

12 de fevereiro de 2007

Memória

No caminho de volta do trabalho para minha casa, tive uma idéia realmente brilhante para um post. Mas a esqueci, completamente. Deve estar afundada na minha memória, brincando com a lembrança de um amor inexistente e sendo observada pela lembrança do medo de pular do balanço no parquinho.

Droga, jamais vou me perdoar por deixar isso acontecer.

Olhem a letra!

OK, é só o começo dela:

I look in the mirror
To see what my hair is doing
Is it kind of skywalker
Or kind of stupid?
But that's not the real
Reason I'm looking
I need a reminder of what I'm doing
I need a reminder that I'm human

"Eu olho no espelho
Para ver como está meu cabelo
Se está do tipo Skywalker
Ou do tipo idiota
Mas esse não é o real motivo
Pelo qual estou olhando
Eu preciso de uma lembrança
Sobre o que estou fazendo
Eu preciso de uma lembrança
De que sou humano"

(Tradução: Google Ferramenta de Idiomas e minha mesmo)