24 de agosto de 2010

Curtas

Qual é a lógica em fazer um empanado de frango em forma de bolinhas e chamá-lo de "pipoca"?

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Um de meus melhores amigos eu conheci na 3a. série. Depois ele mudou de cidade e nunca mais tivemos contato.

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Um defeito no meu violão me impede de tocar qualquer música que use a mizinha, da 3a. a 6a. casa. O que inclui, especialmente, "Losing my Religion" e "High and Dry". "Smells Like Teen Spirit" continua uma beleza.

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Eu gosto de pudim de leite condensado.

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A vida é um confronto constante com perdas, frustrações e decepções. A felicidade aparece quando a gente ganha.

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Como diz um amigo, japonês é mesmo esperto: faz comida sem usar fogão e mesmo assim ainda consegue cobrar mais caro.

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"Deixa eu entender isso direito", disse um aluno. "Você está me dizendo que, se eu disser uma coisa em voz alta, sou eu dizendo, mas se eu escrever exatamente a mesma coisa no papel, é de outra pessoa, certo?"

"Sim", eu respondi. "E nós estamos chamando isso de ficção."

O aluno sacou seu caderno, escreveu algo e me passou uma folha de papel que dizia: "Isso é a porra mais idiota que já ouvi na vida."

Era um grupo esperto.

(David Sedaris, "Eu falar bonito um dia", Cia. das Letras, 2008)

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Este blog não segue as normas da ABNT para citações.

21 de agosto de 2010

A página de mundo

Um belo dia, no meu trabalho, me vi responsável pela página de mundo. Demorou um pouquinho, mas depois eu descobri que gosto disso. É legal ser o cara que, teoricamente, "resume o mundo" em uma página (a despeito de qualquer presunção, por favor - este é o meu trabalho, então melhor vê-lo dessa forma que reduzi-lo a nada).

Mas - e não sei bem o porquê - eu tenho a infeliz impressão de que ninguém lê aquele troço. Se for mesmo verdade, é uma pena, porque não é uma tarefa tão simples assim.

Primeira dificuldade: definir o abre. Tem tanta coisa acontecendo no mundo, como saber o que é o mais importante? Uma rápida olhada pelos principais portais da internet pode dar uma boa ideia da "agenda" do dia, mas o destaque dos sites pode ser ardiloso, e nem sempre o que é manchete às 15h será o assunto principal do dia seguinte.

A não ser quando você bate o olho na notícia e ela te diz: "pode parar de escolher, querido. Sou eu que você quer". Aí tudo fica mais fácil. Mas isso você só aprende a identificar com um certo tempo: se estiver na dúvida, um outro bom termômetro, até com certo apreço científico, é botar o tema no Google, buscar por "notícias" e ver quantas agências estão cobrindo o assunto. Mas isso não pode ser o modus operandi do fechamento, se não você fica preguiçoso e nunca vai aprender a hieararquizar notícia.

E, afinal, não se trata apenas de identificar qual é o tema mais comentado, mas sim qual seria o mais interessante para os leitores.

Definido o abre, tem que ver se tem foto na agência contratada pelo jornal. Não tem? Se o assunto merecer, usa arquivo. Se não for algo tão pulsante assim, é o caso de repensar e talvez buscar outra solução. Uma boa foto pode ser mais legal que o texto (a velha história da imagem valer por mil palavras), e muitas vezes o abre é o único lugar da página onde vai foto.

Se tiver bastante opção de imagem, toca pra escolher uma. Que seja boa, que caiba no corte, mas que não seja a melhor de todas (essa fica para o caso do chefe querer usar na capa). Na hora de editar o texto, começa a briga com o espaço e com os códigos às vezes indecifráveis das agências internacionais. É cada tijolo que vem que vocês não têm ideia. Coisas como: "O presidente dos EUA, Barack Obama, decidiu que vai manter o plano de retirada das tropas do Iraque para 31 de agosto. 'Vou manter o plano de retirada das tropas para 31 de agosto', disse Obama". Haja saco.

Cortado o texto, hora de fazer o título. Espaço pequeno, quase impossível manter a velha fórmula "alguém-faz-alguma-coisa". Bora tentar um trocadilho, uma ironia (se não for tragédia ou algo envolvendo gente morta, pode). Opa, deu. Mas esse o chefe não vai gostar... Algo mais simples. Agora sim. Mas e se o leitor não entender? Ler o título e passar reto pela página? Ah, a foto é boa, então o título não precisa ser tão atrativo. Ih, a foto é só um boneco? Melhor caprichar mais. Bota a cabeça pra funcionar, é pra isso que você é pago.

Abre fechado, hora de fazer as outras seis notas (sendo duas com foto, isso no modelo-padrão mais usado pelo jornal). São notas pequenas, mas não importa: são seis assuntos diferentes, e o tamanho só torna o trabalho de edição mais complicado. É triste resumir, por exemplo, uma revolta popular provocada por anos de ditadura em um país africano, toda a história de um povo, em 15 linhas.

Hora de distribuir o mundo na página. O abre é o quê? Oriente médio? Então já tá bom pra eles. Talvez mais uma nota se tiver alguma coisa muito boa (SEMPRE vai ter notícia de Israel, Iraque e Irã). Merece mais que isso, mas são só seis assuntos, e ainda tem um mundo inteiro para mostrar. Tem algo sobre alguma das guerras dos EUA? É bom ter. Mas não vale placar de cadáveres no Iraque ou no Afeganistão. Tem Europa? Ásia (Coreias ou China)?

América do Sul. Essa sempre tem que ter. São nossos vizinhos. Mas aí tem um problema: meu horário de fechamento é muito cedo, e as notícias de Venezuela, Colômbia e afins só pipocam no fim da tarde. Quase nunca entra nada quente. Só "recupera" do dia anterior. Paciência.

Brasileiro fez cagada no estrangeiro? Lula discursou na ONU, apertou as mãos de alguém lá fora ou meteu o bedelho onde não foi chamado? Brasil foi destaque (positivo ou negativo) em algum megalevantamento de alguma megaorganização internacional? Obrigação noticiar.

Droga, e as notas com foto? Quais são as tragédias da vez? Incêndios na Rússia, deslizamentos de terra na China, enchentes no Paquistão. Fotos espetaculares ao monte. Mas precisa ver qual é a notícia; como as fotos são inferiores ao abre já não vale a regra de dar só pela imagem. Alguma tragédia pontual? Algum avião caiu? Algum touro invadiu a arquibancada de um festival qualquer na Espanha? Um atirador maluco matou os amigos da escola e se matou?

Se sim, está feito. Se não, fodeu: vai ter que cagar sangue para escolher um assunto "fotável", ou então usar um tema bom e pegar foto de arquivo. Ou, ainda, usar a velha fórmula "autoridade-diz-que...". Sempre tem foto de alguém falando alguma coisa ao redor do planeta. Escolhe a foto, joga lá. Qual o crédito? Eita nome complicado de fotógrafo, melhor copiar e colar para não errar.

Editadas as notas, feitos os títulos, jogadas as fotos, hora de dar uma "panorâmica" pela página. É sempre bom que os títulos não repitam palavras (com exceção de artigos e pronomes); que as fotos não "olhem" para o lado de fora de página; que a "composição estética", de forma geral, esteja bacana. Mas como eu vejo isso? Se vira, cara! Não sabe diferenciar o feio do bonito?

Tudo equilibrado? Abre para o oriente médio; notas sobre guerra no topo, do lado direito; tragédia social em uma foto debaixo; eleições na Austrália na outra; Chávez e Colômbia no meio da página; Fidel também; Coreia no pé, do lado do calor infernal na Europa.

Nada para refazer. Uma página já foi. Faltam 23.

15 de agosto de 2010

Teste cego da cerveja


Prólogo


Eu não entendo muita coisa de cerveja. Só sei que gosto de tomá-las, assim, de vez em quando, em casa, na hora de fazer comida ou para ver o futebol, ou ainda no bar com os amigos.

Acontece que, quando estou no supermercado diante das gôndolas destinadas à bebida preferida dos brasileiros, nunca sei que marca levar para casa. Ao contrário de alguns amigos, que sempre têm uma opinião muito bem formada sobre o assunto: "Skol é cerveja de menina ou de boyzinho na balada", "Brahma é que é cerveja de macho", "Antarctica? Se não for de Agudos, é grave", e por aí vai.

Por isso, sempre acabo recorrendo às marcas que eu ACHO que são as melhores, baseado nas opiniões desses mesmos amigos ou, porque não, do bom e velho marketing. É fato que que quem anuncia mais (e melhor) tem mais poder. E a gente sempre acaba sendo influenciado. Fora o poderosíssimo "imaginário popular", né? "Kaiser tem gosto de remédio", "Nova Schin é mijo", e etc.

Eu precisava tirar isso a limpo. Para dirimir minhas dúvidas na hora de escolher a cerveja certa diante de tantas opções. Para poder beber determinada marca sem culpa naquele churrasco com a família. Ou, ainda, para ter bons elementos na hora de criticar a cerveja que seu amigo trouxe para casa no fardinho com 12 unidades para aquela festinha.

Claro que se pudesse eu só comprava cerveja importada. Mas não posso. Por isso, fiz um teste cego entre as "bambambans" nacionais, as mais fáceis de encontrar, as que todo mundo toma. Acho que é forma mais justa de decidir, já que supostamente o que deveria interessar em uma cerveja é seu sabor.


Os critérios

Escolhi seis marcas que penso serem as mais populares do País: Antarctica, Brahma, Skol, Nova Schin, Kaiser e Itaipava. Excluí marcas como a Bohemia, que tem qualidade sabidamente superior, e outras mais novas no mercado ou muito mais baratas, destinadas a outros públicos. Também excluí marcas que não possuem versões em lata.



Para o teste, usei uma venda, e minha querida mulher Priscila (que mostra, como sempre, ser uma esposa exemplar, me apoiando até mesmo nesse tipo de bobagem) enumerou as cervejas em uma ordem da qual só ela sabia. À medida que eu fazia as "degustações", anotava minhas impressões.

Resolvi avaliar a textura (se é muito líquida ou mais cremosa) e "índice de amargor" (em níveis que vão de 1 a 5), além dos sabores contidos na cerveja.

Entre uma marca e outra, comi um aperitivo, e pela primeira vez na vida pude realmente compreender o sentido da expressão "tira-gosto". O aperitivo não terá sua marca divulgada porque este blog não ganhará nada por isso. Basta dizer que se trata de uma conhecida marca de batata-frita que antes custava o olho da cara mas que agora está com o preço mais acessível e pode ser até comprada de vez em quando, cujo sabor é espetacular!


Vamos lá?


O teste

Em ordem de desgustação:

Número 1 (não é a Brahma) - Nova Schin

Textura nível 5 (muito cremosa), o que para mim é bem bacana. Amargor nível 3 (tá bom assim), mas pecou nos sabores: no final do gole, aparece alguma coisa estranha, como... madeira? Difícil definir pra quem não é enólogo, barista ou afim.





Número 2 - Brahma


Textura nível 3 (bom, mas poderia ser melhor), amargor nível 4 (eita ferro!), com sabor bastante uniforme, sem alterações durante a degustação. Uma cerveja bem na média, mas meio amarga demais para meu gosto.






Número 3 - Kaiser


Textura nível 4 (cremosinha), amargor nível 3 (tá bom assim), com sabor também bastante uniforme. Como é um pouco mais suave, para mim levou vantagem sobre a concorrente nº 2. Nas minhas anotações, escrevi: "até agora a melhor".





Número 4 - Antarctica


Textura nível 5 (muito cremosa), amargor nível 3 (tá bom assim) e sabor uniforme, sem surpresas. Ganha das demais analisadas até então por ser um pouco mais cremosa.






Número 5 - Itaipava


Textura nível 4 (cremosinha), amargor nível 2,75 (suave como tem que ser). Foi a que apresentou a maior complexidade de sabores: meio frutada, além de deixar um "rastro" bastante agradável depois do gole.






Número 6 - Skol


Textura nível 2,5 (parece água), amargor nível 3 (tá bom assim), mas com uma nota no sabor MUITO estranha. Algo que me remeteu a... peixe. É, é isso, fazer o quê? Você pode me chamar de maluco, mas não é o que eu espero encontrar em uma cerveja.





Chorinho


Droga, quem comprou Bavaria?










A escolhida


Durante as degustações, eu não tinha nenhuma pista de que marca estava tomando. Quando terminei, a melhor estava evidente.


Eu me surpreendi bastante. Itaipava passa longe das minhas preferências na hora da compra, e olha que eu já tive amigos me dizendo: "só compro Itaipava", "Itaipava é muito boa". E eu pensava: "nossa, esse aí não entende bosta nenhuma de cerveja."

Paguei com a boca, literalmente.

Se fosse fazer um ranking, ficaria assim:

1 - Itaipava
2 - Antarctica
3 - Kaiser
4 - Brahma
5 - Nova Schin
6 - Skol


Conclusão

É importante dizer que tudo o que foi dito aqui é estritamente SUBJETIVO. Eu não sou "cervejólogo" e nem quis descobrir qual é a melhor cerveja do Brasil (quem sou eu pra definir uma coisa dessas?). Quis apenas escolher a melhor cerveja PARA MIM, e compartilhar todo o processo neste humilde blog.

No fim das contas, acho que a lição que fica mesmo é que paladar cada um tem o seu, assim como gosto para determinado tipo de música ou cor de camiseta. E isso deve ser respeitado, oras. Pode ser que eu ouça de alguém: "Itaipava? Tá maluco? Boa mesmo é a Skol"; com a diferença de que agora poderei responder "maluco é você".

Então, um brinde às diferenças. Mas sem Skol, por favor.

11 de agosto de 2010

Tenha um bom dia, tchau!

Se tem um troço que me incomoda é ser mal atendido em estabelecimentos comerciais.

Tem certos tipos de mal-atendimento que eu até tolero. Às vezes o lugar está cheio, e o filho da puta do patrão, para economizar, decide não colocar mais funcionários - aí eu acho foda esculachar com os empregados sobrecarregados.

Mas tem um procedimento específico que me emputece deveras: é quando os funcionários se esquecem que são funcionários, e se esquecem que você é cliente, e decidem agir como seres humanos normais.

Eu explico.

Certa vez, quando morava em Londrina, desci do ônibus depois da faculdade e passei em uma padaria perto da minha casa para comer um lanche. Eram umas 22h30. Pedi um misto-quente e a mulher do balcão gritou para a cozinha: "Um misto-quente, Alzira!". No que a Alzira respondeu, também em tom elevado, para ser ouvida: "Ah, agora não vai dar não, meu ônibus vai passar daqui a dez minutos".

É disso que estou falando.

Porra, existe um protocolo atendente-cliente que deve ser respeitado! É pedir demais? Se a Alzira tinha que pegar seu busão, porque não chamou seu chefe no canto e o avisou em voz baixa? O encarregado teria dado um jeito; colocaria a moça do caixa para fazer o lanche enquanto a substituta da Alzira não chegasse, por exemplo; talvez o lanche demorasse um pouco e não ficasse tão bom, mas eu comeria e iria embora sem saber que naquele lugar a mulher que faz misto-quente pega busão para voltar para casa. É algo que eu, como cliente, NÃO PRECISO SABER.

Aí nesta semana, no Pão de Açúcar da avenida Independência, em Ribeirão (que aliás está uma zona por causa da reforma), outro exemplo me cai no colo. Segue o diálogo entre a moça empacotadora e a caixa, enquanto ela passa minhas compras:

- Será que vai rodar mais alguém?
- Ih, até o meio-dia tem chão, viu? Bem que podia ser eu. Não aguento mais isso aqui.
- (risos) Ah, para você sair é difícil.
- Já pensou? 'Fulana (pouparei o nome dela), vou te dar um pé na bunda' (com entonação de voz masculina). Ahahaha.
- Ahahahaha.

Breve silêncio. A caixa retoma o fio da meada, enquanto passa meu cartão - eram poucas compras.

- Pra eu sair daqui, só arrumando outra coisa melhor antes e pedindo demissão.
- Ou então você xinga algum cliente, aí ele vai lá e reclama no serviço de atendimento e você é demitida.
- É uma boa, já pensou, menina? Ahahahaha...
- Ahahahaha...

A caixa me entrega a nota e, engolindo o riso do diálogo anterior, me diz:

- Obrigada moço, tenha um bom dia, tchau!

10 de agosto de 2010

Post para um amigo

Paulo Freire defendia a educação transformadora - e mais um monte de outras coisas que eu não vou escrever aqui porque o objeto do post não é o Paulo Freire. Mas é impossível não se lembrar dele ao ter contato com o trabalho do meu amigo Daniel e o Núcleo de Vivência Teatral, da cidade de Iracemápolis (bem pertinho de Limeira).

Depois de uns dois anos de insistência, muitos convites, datas desencontradas e, confesso, uma boa dose de acomodação, finalmente consegui assistir a uma peça do grupo, no último domingo, no encerramento da Mostra Municipal de Teatro de Limeira, no Teatro Vitória, naquela cidade. Como estava em Campinas na casa do sogrão para o Dia dos Pais, não foi difícil dar uma esticada até lá.

A peça é uma adaptação do conto "A hora e vez de Augusto Matraga", de João Guimarães Rosa (aos interessados, o conto jaz nas últimas páginas de "Sagarana", e é altamente recomendado, assim como toda a obra do Guimarães Rosa). A peculiaridade é a seguinte: no Núcleo de Vivência Teatral, os atores são crianças (no máximo, pré-adolescentes). E quem conhece "Matraga" sabe que a história não tem nada de infantil - assim como "Macbeth", montagem anterior do grupo, que agora eu me castigo por ter perdido.

Esses moleques são foda

O Daniel é um grande amigo dos tempos de faculdade, e nas poucas vezes em que temos nos falado ultimamente, ele sempre deixa evidente a alegria que tem com o trabalho no Núcleo. Conta com muito entuasiasmo sobre o talento da meninada, suas realizações e para onde pode ir. Então, admito que tinha uma pulga atrás da orelha sobre o que veria no palco: ao mesmo tempo em que estava com uma certa expectativa para ver logo aquele trabalho, imaginava também que a coisa podia não ser tão legal assim como o Daniel falava, já que ele é naturalmente suspeito para falar de sua cria.

Afinal, "são crianças", pensei; "o teatro é grande e está lotado, deve ser difícil para eles"; "Guimarães Rosa não é tão fácil de digerir."

Ao fim dos primeiros, sei lá, dez minutos de apresentação, meu queixo estava caído, eu estava sinceramente emocionado e me perguntava por que diabos aquilo tudo estava sendo encenado "só" em um teatro de Limeira - com a entrada franca - em uma noite perdida de um agosto qualquer.

Não entendo patavina de teatro, mas posso garantir que vi algo espetacular, impressionante e adjetivamente impossível de classificar. A introdução da peça é cinematográfica e remete a... Irmãos Coen? Não, não... Tarantino? Talvez... A trilha sonora vai de Sepultura a Jacques Morelembaum, passando por Zeca Baleiro; há momentos de humor, drama, tensão, metalinguagem...

Essas meninas também

As crianças... Bem, as crianças são "O" espetáculo. Eu sinceramente fiquei com medo quando um menino apareceu em cena "fumando" um cigarro apagado, ou com as referências indiretas à prostituição, feitas por meninos de... melhor nem chutar a idade. "Caramba, será que tem algum promotor da infância xarope por aqui ou alguém da patrulha dos bons costumes?", pensei. "O Daniel vai sair daqui preso". Pura bobagem, claro - tudo ali estava muito bem encaixado dentro de um contexto, e qualquer débil-mental pode entender isso (crianças que encenam Guimarães Rosa, então...).

Certa vez, acompanhando o blog do Núcleo de Vivência Teatral, li alguém dizendo que, assistindo às peças, a gente até se esquece que são crianças que estão no palco. Eu discordo. Dá pra ver bem que são crianças sim, o tempo todo, mas crianças fazendo algo que delas não se costuma exigir, porque nós, adultos, geralmente achamos que elas não são capazes. Dizer que agem como adultos (como se ser adulto fosse pressuposto básico para fazer qualquer coisa de qualidade) seria desqualificá-las.

No palco, elas fazem coisas que delas não se esperam, ainda mais no teatro. Não estão vestidas de árvore, pedra ou flor, nem voando como Sininho penduradas por cordas, muito menos cantando a 9ª Sinfonia de Beethoven em um coral natalino. Estão falando palavrão, pegando em armas e dizendo frases como "Diabo não existe; existe é homem humano. Travessia" (de "Grande Sertão: Veredas"). Ficar impressionado é inevitável.

Esse aí do meio é o Daniel

Depois de quase duas horas (!) de peça, não podia sentir nada diferente de orgulho, muito orgulho. Orgulho de ser amigo de um grande cara, que parece ter encontrado sua paragem no grande sertão. Alguém que, na república que morávamos em Londrina, passava horas lendo livros cheios de nomes russos e gregos, e discutia comigo onde aquilo tudo iria nos levar (eu só lia jornais e revistas, mesmo).

Depois da peça, lembrávamos desses tempos e das peças que o Daniel apresentava com seus colegas da turma de Artes Cênicas (tinha algumas legais, mas a maioria eu nunca entendi). Ele então disse: "Pois é, o teatro está aí para contar boas histórias, e a gente ficava perdendo tempo naquele monte de intelectualidades." Mais orgulho ainda. Daniel Martins - guardem esse nome, vocês ainda vão ouvir falar dele.

Uma noite memorável. E transformadora.

PS: As fotos foram retiradas do blog do Núcleo de Vivência Teatral. O crédito da segunda foto é de Nelson Shiraga. Das outras, eu não sei.

7 de agosto de 2010

O novo nome

Muito bem.

Quando eu iniciei este blog, lá em 2006, os tempos eram outros. Ganso e Neymar ainda não eram unanimidade nacional, Ronaldo não jogava no Corinthians, Dilma não era nem pré-pré-pré-candidata e eu não era casado (nem namorava minha mulher). Estava em outra "vibe", por assim dizer.

Já tinha um outro blog - vaca.tipos.com.br -, este feito em parceria com a velha patota da faculdade, com um perfil de zoeira total e estímulo livre à trollagem virtual, então queria algo que fosse mais pessoal mesmo. Aí surgiu o but not in love.

O nome eu já expliquei aqui, mas para resumir é um verso da minha música preferida da minha banda preferida ("Fitter Happier", do Radiohead). Foi a música que, quando eu tinha meus 18 anos, me fez ver que a vida é nada mais que uma série de modelos que repetimos infinitamente, o que me deixou deveras triste e ao mesmo tempo impressionado.

Hoje, ainda me impressiono com a música, mas o nome não cabe mais. Está ultrapassado, expirou seu prazo, não resume mais minha vida como já resumiu outrora e, convenhamos, é um tanto o quanto afeminado.

Então, está aí a mudança. Não vou ficar explicando o "conceito" do novo nome porque seria muita pseudagem, mas ele até que existe (acho até que um pouco autoexplicativo). O que continua valendo mesmo é a descrição: "um monte de bobagens que, acredite, você não terá o menor interesse em ler." É a coisa mais sincera que já escrevi por aqui, e ao mesmo tempo me desabona de qualquer responsabilidade pelos posts.

Por este, inclusive.

PS: O endereço para acesso do blog era para ser validadevencida.blogspot.com, mas é óbvio que esse domínio já existe (e anta aqui não checou antes). Como não quis mudar o nome recém-mudado de novo, mudei o endereço: é http://venceu.blogspot.com. Meus queridos seguidores, atualizem seus bookmarks!

30 de julho de 2010

Ih, lá vem

Pronto, fodeu: comecei a me preocupar demais com o blog e a gastar mais tempo pensando nele do que ele merece.

O primeiro reflexo disso é que ele vai mudar de nome.

Já não era sem tempo.

Em breve. Ou não.

27 de julho de 2010

Possessões noturnas (ou sobre minha melhor consulta com o dr. Google)

Não me lembro quando começou, acho que foi quando morava em Rio Preto (2006). Mas pode ter sido antes. O nome é paralisia do sono, mas isso eu só fui descobrir depois.

É assim: você está dormindo, e de repente acorda. Mas não consegue se mexer. Então pensa: "bom, devo estar dormindo, isso é um sonho." No fundo, você sabe que não é. Enquanto isso, ouve barulhos (na maioria das vezes, comigo, são sons fortes, como se uma britadeira estivesse dentro da minha cabeça) e até vê coisas (já vi luzes, sombras, formas desconexas, enfim). É assustador.

Pelo que pude entender do que já li por aí, nosso sistema nervoso envia um comando para os nervos que paralisa os músculos durante certas fases do sono, e a paralisia ocorre justamente quando a consciência desperta, mas o comando continua a ser enviado.

Na primeira vez que aconteceu, depois que acordei, de manhã, me lembrei do fato e resolvi ignorá-lo, tamanha era minha preocupação com a bizarrice daquilo tudo. Então aconteceu outras vezes, sempre em um curto espaço de tempo (até mesmo em uma viagem de ônibus, uma vez) e eu resolvi buscar ajuda.

Neurologista? Não. Ia acabar fazendo um eletro, uma tomografia, ele certamente ia associar aquilo às minhas crises de epilepsia do passado e eu ia ter que tomar um belo tarja preta - tô fora. Psiquiatra? Psicólogo? Podia ser, mas eu precisava de algo bem mais prático e confortante. Uma religião, talvez?

Apelei para a mescla entre religião e ciência: o deus Google, arauto dos desesperados, ícone maior da sabedoria humana na pós-modernidade.

Lá, aprendi que a paralisia do sono é considerado um distúrbio leve de sono (leve porque não afeta diretamente a vida do indivíduo, como a narcolepsia ou o sonambulismo), e que sabe-se muito pouco sobre suas causas (estresse pode ser uma delas - jornalismo, oi?). Cerca de 50% da população teve ou vai ter ao menos um episódio durante a vida.

Este quadro se chama "O Pesadelo", de John Henry Fuseli, e todo mundo o utiliza para ilustrar a paralisia do sono (então eu vou usar também)

Mas o melhor ainda vem: a paralisia do sono tem uma ligação profunda com a cultura de vários povos, já que é sempre associada a possessões demoníacas, ligações com espíritos e até abduções por ETs (cientistas acham que boa parte dos relatos noturnos sobre fatos como esses se devem à paralisia do sono). No Brasil, existe uma personagem do folclore para o distúrbio, a Pisadeira.

Em uma comunidade do Orkut (não vou linkar porque já saí dela e estou com preguiça de procurar de novo), aprendi inclusive dicas de como se livrar das crises - se concentrar para tentar mexer o dedão do pé, por exemplo.

Em outro site, eles ensinam que a paralisia do sono é a porta de entrada para o tal do sonho lúcido, um tipo de sonho que você pode controlar. "Massa", pensei, "quando tiver isso outra vez vou pensar na Scarlett Johansson e Penelope Cruz em uma praia deserta".

O grande problema é que a paralisia do sono sempre te pega de surpresa, e sempre assusta - a não ser que você tenha crises todos os dias e já esteja acostumado com elas, o que eu acho que, aí sim, seja um problema que necessite de tratamento médico.

Curiosamente, depois que me informei, as ocorrências cessaram por um longo período, até que eu tive uma no último fim de semana. Vi uma luz meio opaca na porta do meu quarto, enquanto uma turbina de avião girava a mil a alguns centímetros dos meus ouvidos; tentei gritar e me virar na cama - tudo em vão.

Scarlett Johansson? Penelope Cruz? Fica para a próxima, quem sabe.

18 de julho de 2010

Reabilitando Luís Manzoli

Tinha quase me esquecido porque meu avatar no MSN é um auto-retrato (foda-se os dois "r", este blog só segue as novas normas da língua portuguesa que acha interessante) do Neil Swaab.

Até que hoje fui organizar os links ali do lado direito e voltei a dar uma sapeada pela página do Mr. Wiggles.

Tem que clicar pra ver maior - e saber um pouquinho só de inglês

Gênio.

14 de julho de 2010

Obra demoníaca

Já comentei com vocês que minha família veio me visitar no feriado.

Minha sobrinha está para fazer um aninho, e a mãe dela (minha irmã) trouxe o DVD da "Galinha Pintadinha", que ela adora, para distrai-la caso precisasse. Infelizmente, precisou.

A obra é nacional, elaborada pela Bromélia Filminhos, de Campinas. O site oficial da bagaça resume a obra como "animações com as músicas do cancioneiro popular brasileiro que educam e divertem as crianças". É exatamente isso.

É claro que não é algo que eu, ou qualquer outro leitor deste blog, colocaria em sã consicência para assistir não fosse por causa de uma criança. E seria bem tolerável, para dizer o mínimo.

Não fosse a Mariana.



Ouvi isso aí UMA VEZ no fim de semana todo. Na noite de domingo para segunda, quando fui acordado no meio da madrugada pela crise de rinite (oi, amiga!), a música estava na minha cabeça, e juro que isso me irritou a ponto de atrapalhar a volta do meu sono.

Na segunda, terça e hoje, lá estava ela, a Mariana, com seu sorriso largo, ocupando um espaço imenso na minha cabeça, alinhada à inesquecível canção como trilha sonora. Até que eu me toquei: eu precisava ouvir a música de novo. E, ao fazer isso, veio a surpresa: uma sensação de prazer, de alívio, como numa sessão de sadomasoquismo.

A Mariana é auspiciosa: fez mal ao se instalar, mas agora que já me transformou, precisa ser alimentada. E, é claro, divulgada.

Me desculpem, amigos. É bem mais forte que eu.

Essa aí é a Maitê, com o tio coruja

13 de julho de 2010

A gente só queria um hamburguer

Na quinta-feira à noite, fui com minha mulher ao The Fifties, rede de lanchonetes com ar retrô (como o nome sugere) que inaugurou bem recentemente sua unidade em Ribeirão Preto, no RibeirãoShopping.

Chegamos no lugar às 20h20, pegamos a senha e fomos orientados a esperar "uns 10 minutos" até conseguirmos uma mesa - algo bem normal, ainda mais para uma nova lanchonete em Ribeirão (o povo daqui adora uma novidade, né?). Me lembro bem do horário porque olhei no relógio para ver quanto tempo esperaríamos.

Bom, esperamos bem menos que isso, e certamente antes das 20h30 estávamos acomodados com o cardápio na mão, em uma daquelas mesas onde um dos assentos é um sofá apoiado na parede (minha mulher adora isso). Um casal que nos deu espaço para sentar enquanto esperávamos pela mesa do lado de fora entrou em seguida e ficou na mesa logo ao lado.

Fizemos nosso pedido: uma coca, um suco de laranja, uma porção de "onion rings" e dois lanches. O casal ao lado fez o pedido quando o garçon trouxe nossas bebidas - você deve estar se perguntando "nossa, que povo enxerido, fica reparando no que o vizinho de mesa faz, é?", mas é que o espaço entre as mesas não é assim tão vasto, e fica impossível não reparar. E isso nem é uma crítica. Ainda.

Assim que chegou nossa cebola, pedimos uma porção de maionese para acompanhar (lá é TUDO cobrado separado - inclusive na montagem do hamburguer). E aí começou nosso tormento. Se me permitem dizer, a cebola estava excessivamente encharcada com óleo. Bem diferente da servida na Duets, por exemplo. Posso estar sendo cricri demais, mas enfim, é algo que não pretendo pedir de novo (se um dia voltar lá).

A maionese nunca veio. Os lanches, idem. O casal ao lado estava termimando de comer, tinha recebido a porção de molho barbecue e já estava com o cardápio em mãos para escolher a sobremesa. Eu e minha mulher lá, parados, com uma porção de cebola pela metade, uma lata de coca vazia e um copo de suco idem.

Neste ínterim, ouço um estampido e gritos atrás de mim. Minha mulher se assustou: um globo de uma lâmpada que pendia do teto caiu e, diz ela, por muito pouco, não acertou um rapaz que saboreava seu delicioso hamburguer com gostinho de anos 50. O troço caiu atrás dele, no topo da cabeceira do sofá onde estava sentado. Os funcionários se olhavam com uma cara tipo "WTF?".

Lá pelas tantas, um cara que parecia ser o gerente com um ritmo meio frenético passou pela mesa perguntando "e aí, tudo certo por aqui?" e se foi antes de ouvir direito minha resposta, resmungando, de saída, algo como "OK, vou verificar". Minha mulher começou a se impacientar e pediu para irmos embora. Eu argumentava: "Meu, isso aqui não é McDonald's, vamos esperar mais um pouco", talvez ainda iludido pelo desejo estomacal de comer um belo hamburguer.

Às 21h04, ainda às moscas, minha paciência também acabou. Chamei o garçon, pedi que cancelasse os lanches e que trouxesse a conta com o que fora consumido. Ele não fez isso. Se mandou para a cozinha e, às 21h09, voltou com nossos lanches (que, vale ressaltar, não tinham nenhum ingrediente estrambólico em sua composição). Eu disse: "Amigo, eu pedi o cancelamento e a conta. A maionese também não veio até agora, de qualquer forma... Quarenta minutos é muito tempo".

Ele balbuciou um "sim senhor" e trouxe a conta. E teve a pachorra de COBRAR OS 10% pelo serviço. Fiz questão de não pagar a taxa e me fui. Ninguém veio falar comigo, perguntar o que houve, dizer que sentia muito, talvez explicar que era um lugar novo e que estava em fase de adaptação... Nada disso. Nossa saída do The Fifties foi como nossa permanência no lugar: éramos invisíveis.

Dizem que o hamburguer de lá é bom. Mas juro, eu não estou mais disposto a experimentar. Neste caso, infelizmente, a primeira impressão foi a que ficou.

11 de julho de 2010

Potencial inexplorado

E então minha mãe veio me fazer uma visita no feriado.

A presença de minha mãe (e minhas irmãs, meu cunhado e minha sobrinha, que a acompanharm, neste caso), sempre garantem bons momentos - mas não é este o assunto deste post.

Ela me trouxe um presente, dois na verdade. Um é um desodorante - ela sempre me dá desodorantes, por que será? O outro é uma pasta com algumas coisas de meu passado, poucas coisas, fotos tiradas na escola, lembranças do Catecismo (sou praticamente um beato!) etc.

Parece que a gente é velho (estou com 29), mas só 12 anos me separam do colegial. Parece muito, mas não deveria ser. Quer dizer, tem gente por aí com 70 e poucos que se lembra bem do que fez na adolescência. Eu tenho alguma dificuldade em me lembrar BEM do que aconteceu naquela época, embora saiba reconhecer meus amigos e professores, lembrar seus nomes e a maioria dos acontecimentos daquele período.

Mas não consigo atribuir fatos a datas, ou descrever exatamente como era um típico dia na minha vida em 1998. Nem da Copa do Mundo daquele ano eu não consigo me lembrar!

Bom, agora eu descobri porquê. Eu provavelmente estava estudando.

Clica aí se você quiser ver maior

Certamente grande parte do monte de fórmulas, macetes e datas históricas foram substituídos ao longo dos anos, em meu cérebro, por uma série de inutilidades, lixo da cultura pop, sequências de notas de músicas em cifras para violão ou a série de botões para soltar um hadduken no Sreet Fighter, entre outras coisas. Por isso eu não me lembro.

Eu realmente deveria usar meu potencial para construir pontes, fazer leis ou descobrir a cura do câncer, mas cá estou eu, diariamente tentando encaixar títulos de 40 caracteres em espaços onde cabem 30. De vez em quando, com um trocadilho. Uau.

PS: Notem que a única nota "vermelha" é um honroso 5,5 em Educação Física, o que deixaria orgulhoso até o nerd mais estereotipicamente elaborado do planeta. E, mesmo assim, eu dei um jeito de me recuperar e fechar o ano com um 10.

28 de junho de 2010

Mitos do jornalismo

Todo jornalista adora o que faz - É um pensamento bem lógico, como um silogismo: "Pessoas trabalham porque gostam ou por dinheiro / Jornalistas ganham pouco e trabalham muito / Logo, jornalistas trabalham porque gostam." Mas, infelizmente, é mentira. A maioria dos jornalistas não faz ideia do que vai encontrar pela frente quando assinala a opção da lista de inscrição do vestibular, e o faz apenas porque acha tudo ligado à profissão muito legal, cool e superbacana. Quem, depois de passar por quatro anos de faculdade, ainda insiste na lida e não arruma marido/mulher ricos, com certeza chega no primeiro dia de trabalho e pensa: "caralho, que merda fui fazer da minha vida?". Esse pensamento vai segui-lo para sempre, simplesmente por preguiça e medo de mudar. Jornalistas são grandes conformistas e acham que não sabem fazer mais nada da vida - talvez porque pensam que sua profissão é boa demais para ser trocada por outra, vai saber. Jornalistas não se submetem à rotina massacrante e sem-graça de salários ridículos porque gostam do seu trabalho, porque na verdade, eles o ODEIAM. E todos eles sabem disso. Aquela satisfação que eles sentem quando emplacam uma machetinha, ou quando dão um furinho na concorrência é só um escape, uma fuga do contexto, um alento, a rosquinha do Homer Simpson, uma falha na Matrix, o doce para o rato no labirinto do laboratório. É uma profissão ardilosa.

Parágrafo único - Você pode virar um William Bonner e ganhar dinheiro pacas, mas ainda assim será um jornalista. Pense nisso.

Jornalista sofre - OK, isso não é um mito, é verdade. Mas eu não entendo porque tem jornalista que ADORA proferir aos quatro ventos que trabalhou demais, escreveu cinco abres com duas subs e uma arte cada, que ficou no pescoção até as 4h da madrugada, que está trabalhando há 30 dias sem folga... Eu mesmo já fui assim. Oras! Se a profissão que você escolheu é uma bosta e você é um fracassado, não tente fazer com que as pessoas tenham pena de você por isso! Não tá gostando sai dessa, cara! Ou então, se quer sofrer de verdade, vá carpir terreno ganhando salário mínimo, vai! Fica aí com a bunda na cadeira ouvindo iPod, ganhando jabá e ainda acha que a vida está ruim, é?

Jornalista é jornalista "24 horas por dia" - Deve ter gente que é mesmo. Eu, graças a Deus, não sou. Nem preciso ser. Até porque é preciso, sei lá, dormir, né? Pelo menos. Tem um pessoal por aí que leva isso tão a sério que acaba levando para a redação hábitos que deveriam deixar só em casa - como produzir merda, por exemplo. Acho que a maioria dos jornalistas que dizem isso o fazem porque acham bonito mesmo. Com um salário de miséria, é como se fosse um diferencial: "minha profissão é tão nobre que não posso desligar por nenhum momento". Grande vantagem!

Jornalista é estressado - É comum associar a imagem do jornalista a café e cigarro. Eu acho que é exatamente por isso que a maioria dos jornalistas bebe café e fuma. Uiuiui! Jornalista A-DO-RA ficar estressado! Faz parte do glamour da profissão. Mas, na verdade, grande parte dos profissionais que conheci ao longo de minha curta carreira são bem sossegados e gente boa. Os mais nervosos são assim não por causa do jornalismo, e aposto que também seriam esquentadinhos se fossem médicos, economistas ou faxineiros.

Jornalista sabe (ou precisa saber) de tudo - Ahan! Essa é uma máscara dos jornalistas que já caiu faz tempo perante a sociedade. Jornalistas são notoriamente conhecidos como os "especialistas em generalidades", aqueles de tudo sabem um pouquinho. Mas é bem pouquinho mesmo. Leem só as manchetes, e mesmo quando se aprofundam por algum tempo em alguma história, ela logo é substituída por outra, quando não por algum assunto de interesse do próprio jornalista (que, vale lembrar, é uma pessoa). Jornalismo é um trabalho, catzo! Ou alguém acha que os jornalistas chegam em casa e pegam um belo livro para ler sobre dengue, a crise da saúde pública ou as nuances da balança comercial? Exceção, claro, para os jornalistas especializados (quem?) - mas estes, coitados, só sabem mais um pouco sobre algo que só a minoria quer saber.

Jornalista é bem informado - É uma variante do item acima. No churrasco com a família, chega o amigo do tio: "Você é jornalista, né? É verdade que o Dunga vetou a entrevista exclusiva com a Fátima Bernardes?". Sei lá eu, oras! Não estava lá! Ou então, no jantar com um amigos, tem sempre um jovem advogado ou alguém que mexe com negócios, um yuppie: "Ih, rapaz, se o dólar continuar caindo assim o mercado não aguenta! Não é, Luís?" Tento encontrar a piada na pergunta, mas eles falam sério. E eu pensando só no próximo lançamento para o Wii...

21 de junho de 2010

Como joga esse time do Dunga!

Brasil x Costa do Marfim, 20 de junho de 2010, domingo. Seguem alguns comentários que ouvi durante a partida e após o fim dela, ao vivo ou em Twitter e afins:

"Esses negão aí (Costa do Marfim) correm bem mais que os brasileiros."

"Tomara que o Elano tenha quebrado a perna (após receber falta criminosa e ter marcado um dos gols do jogo) para ficar fora da próxima partida."

"Ah, mas esse gol até minha vó fazia (sobre o gol do Elano)."

"O gol do Luis Fabiano foi um golaço. Mas também, contra a Costa do Marfim..."

"Precisa usar a mão pra marcar contra a Costa do Marfim?"

"O jogador da Argentina pediu música do The Killers no Fantástico. O Luis Fabiano pediu Exaltasamba. Somos mesmo melhores em tudo"?

Fazer piada é uma coisa, eu sei. Mas eu não consigo entender porque há tanto pessimismo, tanta autodepreciação em torno da seleção brasileira.

Na seleção, há muito espaço para críticas, principalmente nas atitudes do Dunga e até mesmo na qualidade técnica de alguns jogadores. Mas há muito exagero.

E a única explicação que eu vejo para isso é a mesma da qual todos acusam o Dunga: rancor. Rancor da imprensa por fechar os treinos, blindar entrevistas e evitar a troca de informações de bastidores. Rancor da torcida por não ter levado o Ganso, o Neymar e o Rui do Chapéu.

Você pode adorar o Ganso e o Neymar, mas o fato deles não terem sido convocados não torna seus substitutos (no caso, Julio Baptista e Grafite) automaticamente uns imbecis.

É como aquela coisa do crítico de música: não é porque você não gosta de determinada obra que ela é ruim. Aceite isso. Seria muita arrogância, né? Se você acha que tal jogador é ruim, me dê argumentos que sustente sua tese. Errou um passe? Perdeu um gol? Bom, isso tudo já aconteceu com Ganso, Neymar e até com Pelé. Se não gosta dele, é outra coisa.

Da mesma forma que não gostar do Dunga não tira o crédito de todo o trabalho dele (ele foi o capitão do tetra, porra!) e de toda sua equipe.

Infelizmente, criou-se a ideia geral de que ser crítico, ser "do contra", é sinal de inteligência, de "personalidade".

Os resultados de Dunga e de sua equipe até agora estão aí, inquestionáveis. E eu nem digo que quem fala mal à toa desse time não entende nada de futebol, porque eu também não entendo. É pura questão de confiar e torcer, se ligando nos pontos fortes (eles existem). Com essa seleção aí nem precisa tanto esforço.

Se o Brasil ganhar a Copa (eu acredito que vai - e apenas acredito, sem me basear em elemento científico nenhum), com certeza vamos ouvir "ah, o nível da Copa estava muito baixo, só assim mesmo." E essas mesmas pessoas, daqui a alguns anos, se esquecerão de tudo isso e dirão, orgulhosas: "como jogava aquele time do Dunga!"

Eu prefiro fazer isso agora.

3 de junho de 2010

Sobre não fazer nada

Nos meus bons tempos de faculdade, no final de mais uma rodada de War II (sim, sou nerd) madrugada adentro, alguém reclamou que não teria tempo de dormir para a aula (cof, cof) do dia seguinte.

Aí um amigo veio dizendo que uma pesquisa comprovou - como eu não sei - que, a cada hora menos que o necessário que determinada pessoa dorme, ela perde 15 minutos de vida. Um outro amigo, que realmente deveria investir na carreira de stand-up comedy, completou: "Ah, mas aí você ganha os 45 minutos em que ficou acordado, né?"

Foi uma piada, mas o fato é que eu penso assim.

Dormir é o ápice do ostracismo humano. Como não? "É importante para o organismo, descansa. Recarrega as baterias." Sim, claro. Mas produzir mesmo, ninguém está produzindo nada.

Nem os sonhos a gente controla! Respiração? Pfff... Se colocarem veneno no ar, morreremos, tamanha nossa falta de controle da situação - afinal, não podemos fazer NADA a respeito de qualquer coisa que seja.

Mas calma. O presente post não é uma ode à hiperatividade ou a defesa daquela coisa idiota de que #dormirehparaosfracos. Só acho que, se for para fazer nada, que seja com estilo. E acordado.

Acontece que minha definição de fazer nada é bem ampla. Desde muito cedo, e sei lá como, aprendemos que temos que estudar, trabalhar, criar filhos e morrer.

Pois bem: para mim, o que não está relacionado a isso é fazer nada. Cinema + jantarzinho no sábado à noite? Descanso (mesmo com todo o trabalho que dá para arrumar vaga no estacionamento). Almoço intercalado durante dois períodos no trabalho? Tortura medieval. É mais ou menos assim.

A solução aparente seria transformar o trabalho em NADA, mas isso é impossível. E eu não acredito naqueles que dizem: "nossa, adoro meu trabalho".

Você pode integrar o elenco fixo de filmes pornô com a Scarlett Johansson, ou ser degustador de cervejas tchecas, mas sempre vai ter um dia em que vai acordar e pensar: "estou de saco cheio disso aqui! Quero fazer nada!" Como dizem, tudo que vem em excesso faz mal - e o trabalho obviamente se inclui nessa categoria.

Ultimamente, tenho pensado cada vez mais em como seria legal ter mais tempo para fazer nada. Não sei qual religião diz que o paraíso é aquilo que a gente quer que ele seja, mas eu acredito nisso. E quero que o meu seja um monte de nada.

Até lá, vou tentando a sorte na Mega-Sena.

PS: Descobri que esse blog agora tem audiência, já que foi linkado pela Gabriela e consta na lista de favoritos da Marina. Vou tentar tomar vergonha para melhorar um pouco tudo isso aqui. Obrigado, meninas!

6 de maio de 2010

Meus vinte e poucos quilos

Então é isso. Em pouco mais de um ano, emagreci 20 quilos.

Eu me lembro de ser gordo desde criança. Hoje sei que o que incomodava mesmo eram umas certas gorduras localizadas nas laterais do abdômem (que, é claro, ainda existem). Na adolescência, a falta de atividade física e comida em total descontrole me fizeram um gordo propriamente dito. Mas nunca me preocupei com a balança, saúde ou afins. Nem me pesava. Mas, é claro, me achava inadequado. A coisa continuou degringolada com o início de minha profissional, que estimula o sedentarismo.

E assim foi, basicamente, até o ano passado. Em um belo dia do feriado de Carnaval, fui com minha então noiva comprar o terno que usaria no meu casamento. O maior número da loja ficou apertado em mim. Essa situação, aliás, que não era nada nova em lojas de roupa, mas naquele contexto me serviu de alerta: "Taí a oportunidade". Antes de mudar para uma loja do Gordo Elegante ou coisa que o valha, comprei o terno daquele jeito mesmo e parti determinado a entrar nele até setembro, quando seria o casamento. Eu tinha seis meses.

Minha primeira atitude foi procurar um médico. Cardiologista. Uma grande figura. Expliquei que queria começar a fazer alguma atividade física, ele fez um check-up (não me lembrava de ter feito algum desses até então) e, milagrosamente, meus exames deram tudo OK. Pressão, glicemia, colesterol. Ufa, pelo menos isso.

Entrei, então, para a academia. Ni primeiro dia, subi na balança: 108. Alguns meses antes, quando morava em Jundiaí, me lembro de ter ido a uma farmácia e inventado de me pesar. Deu 113. Então até que estava no lucro. Naquele momento, no entanto, meu IMC ultrapassava a marca dos 30, o que caracteriza a obesidade. Ninguém me chamaria de obeso, acho, mas com certeza me apontariam como referência em uma aglomeração de pessoas: "O banheiro fica ali atrás daquele gordo", ou então "Ah, não conhece o Luís? É aquele gordo..."

A experiência na academia durou pouco. Com incentivo zero e péssimas experiências passadas, não foi pra frente. Fiquei dois meses, acho, mais faltando do que indo, e saí de lá do mesmo jeito que entrei. Com umas gramas a menos, talvez. Então apelei aos químicos. Procurei uma endrocrinologista que me receitou a sibutramina. Era o que eu queria. Afinal, precisava emagrecer rápido (o objetivo mesmo era entrar no terno). O remédio funcionou maravilhosamente, mas até hoje me pergunto se era mesmo efeito dele ou do meu psicológico a falta de fome à noite, horário que sempre foi crítico para minhas aventuras gastronômicas.

Tive o bom senso de usar a sibutramina para mudar alguns de meus hábitos. Passei a acordar cedo (o remédio que tirava o sono mesmo) e a comer melhor (tomar café da manhã, hábito que não cultivava, salada no almoço, lanche leve à noite). Às vezes, não comia nada à noite. Ou comia bolachas. Como estava acordando cedo, passei a fazer caminhadas, se não diárias, quase isso. Me lembro de alguns amigos que me diziam: "esquece, caminhada não emagrece nada!" Pois bem: em quatro meses, perdi 12 quilos. Fui a 95: foi com esse peso que eu casei.

Minha médica dizia que eu poderia continuar tomando a sibutramina até por mais dois anos, se eu quisesse, mas eu não queria. Uma porque o objetivo já estava cumprido, outra porque eu não queria mais ficar me entupindo diariamente com uma substância esquisita e, principalmente, porque o diabo do comprimido FODEU com meu intestino. Sim. O que antes funcionava perfeitamente bem, com produção diária de cocô à vontade, parou. Efeito colateral, dizia a médica. Acontece em alguns casos.

Cheguei a ficar quatro dias sem ir ao banheiro, o que para mim era uma situação desesperadora e inimaginável. E altamente prejudicial também: eu ficava pensando naquele monte de comida acumulado dentro de mim e via minha barriga com o triplo do tamanho real (paranoia total). Quando voltamos da lua de mel, eu e minha mulher, nossa primeira atitude foi entrar na academia. Meu medo era, sem o remédio, voltar a engordar.

Procuramos uma academia bacana, anti-traumas, e deu certo. Felizmente, também consegui manter os hábitos adquiridos na época da sibutramina, e não sofri do chamado "efeito sanfona". Ainda acordo cedo, ainda como direito. Meu intestino ainda falha: contra isso, tomo um suplemento de fibras receitado por um proctologista (sim, eu fui a um).

Na academia, já consigo correr por 30 minutos seguidos (dependendo da animação do dia - assunto para um outro post). Hoje, fiz minha segunda avaliação: 88 quilos, menos porcentagem de gordura, mais músculo. Minhas roupas velhas estão largas. Muitas eu já dei. As que minha mulher me forçou a comprar mais "na medida" estão OK hoje.

Mas ainda assim me considero longe do ideal. Ideal? Não sei mais o que é isso. Ainda tenho barriga, tenho as tais gorduras, mas me sinto bem. Às vezes. Se fico um dia sem ir à academia, logo penso: "merda, engordei uns dois quilos hoje", mesmo comendo pão integral com alface e queijo branco na janta, arroz e frango grelhado no almoço e banana no café da manhã. Para ajudar, sempre tem o churrasco da família, a cerveja com os amigos, o lanche com a patroa para fugir do trivial, a feijoada do sogrão: comer é uma atividade social, e não apenas fisiológica (e disso tudo, nesse tempo todo, eu não abri mão).

Vou continuar com tudo, claro, mas talvez agora não me exija mais tanto. Emagrecer é difícil. A gente se cobra, encana, acha que não está bom, continua se vendo da mesma forma, estabelece metas inatingíveis.

Então, fica assim. A gente se vê nos 80, OK?

PS: O terno precisou ser ajustado. Para um tamanho dois números menor. E ficou sobrando.

19 de abril de 2010

Teoria do Caos no futebol

Antes de mais nada, aviso aos incautos que não sou físico e muito menos estudioso da Teoria do Caos. Sou um curioso, e tomei conhecimento dela da forma como costuma acontecer com meros mortais (meio nerds, é verdade): pela cultura pop.

Se você quer seguir o mesmo caminho que eu, assista aos clássicos da trilogia "De Volta para o Futuro"; "Corra, Lola, Corra" (o mais metafórico) ou "Efeito Borboleta" (o mais claro e direto). Eles te darão uma boa ideia do que trata a teoria.

Se você não quer ver os filmes antes de continuar lendo este post, tudo bem. Em linhas MUITO gerais, a Teoria do Caos diz que tudo, mesmo o acaso, é o resultado de ações combinadas. Ou seja: se você acorda e abre primeiro o olho direito, seu dia será de um jeito. Se abre o esquerdo, será de outro. E a tese vai além: diz que é possível calcular o resultado final de um conjunto de ações aleatórias em qualquer cenário (tem muita universidade séria financiando malucos pra descobrir como).

Enfim. Eu meio que acredito na Teoria do Caos. É bem óbvio que o futuro depende de nossas ações, e não me parece muito absurdo que dependa também dos atos que não controlamos. Ora, por que não? "Corra, Lola, Corra" expõe isso de forma magnífica (sério, se você ainda não viu esse filme veja agora ou dê logo um tiro em sua têmpora direita).


Caralho, o que diabos vai acontecer agora?


Pois então. Pensando em tudo isso, me incomoda deveras quando ouço comentaristas de futebol discutindo o que poderia ser se acontecesse tal coisa no jogo do dia anterior. É um maniqueísmo determinista completamente sem sentido e vazio.

Neste domingo em que escrevo, o Santos venceu o São Paulo na semifinal do Campeonato Paulista. O primeiro gol foi marcado pelo Neymar, com a mão. E ai vão os gênios: "Ah, mas mesmo se o juiz anulasse a jogada, o São Paulo não se classificaria, pois não marcou nenhum gol". Segundo a Teoria do Caos, se o juiz anulasse, ou mesmo se o gol tivesse sido marcado com os pés, ou no centésimo de segundo antes do que realmente foi, tudo poderia ser diferente. O São Paulo poderia ter feito quatro gols. Um meteoro poderia ter caído em campo. E na Tailândia poderia ter chovido canivetes. Sacaram o espírito?

E o mais legal: para o Neymar ter feito o gol com a mão, naquele momento da partida, uma série de coisas (não só no jogo, mas no universo todo) aconteceu EXATAMENTE COMO TINHA QUE ACONTECER. É loucura, eu sei, mas um dia alguém vai descobrir esse segredo e vai dominar o mundo. É nisso que acredito.

Aquela vontade

Às vezes, em várias situações, me dá uma vontade de produzir alguma coisa. Alguma coisa diferente do que usualmente faço. Exemplo: hoje, caminhando, vi luminosos em prédios que se sobrepunham e pensei: "se tivesse uma máquina fotográfica, faria uma foto; ela resumiria bem a urbanidade dessa parte da cidade."



Aí, enquanto a música acima tocava em meu fone de ouvido, eu pensei: "que música do caralho!". E me pus a imaginar o roteiro de um vídeo para ilustrá-la. Para poder executá-lo, com os meios disponíveis, poderia ser uma animação ou, no máximo, uma composição em slow motion. Na minha cabeça, saíram algumas ideias bacanas; e se eu tivesse como filmar de verdade (com atores etc.), seria melhor ainda.

Não tem um dia que eu não sente na frente do computador e pense: "hoje vou escrever aquele conto, ou aquela crônica, daquela ideia que tive outro dia". Ou: "hoje vou começar um romance". Nunca aconteceu.

Imagino que muita gente tenha vontades como essas. Alguns criam blogs, montam bandas, compõem músicas, desenham, fotografam.

Eu, não faço nada.

23 de fevereiro de 2010

A eternidade em 23 minutos

Acontece de repente, e muito de vez em quando. Ultimamente, tem sido muito raro. Nem lembrava quando tinha sido a última vez. Mas eis que eu estou, de novo, apaixonado por uma música.



É o seguinte. Conheci o Luna, autor da pérola (na maior das acepções da palavra) "23 Minutes in Brussels" em um show em Londrina, que, pesquisando no Google, descobri ter ocorrido em 28 de setembro de 2001. Naquela época, uma produtora da cidade, a Madame X, inundava as noites londrinenses com shows de grupos de lo-fi e afins. Eu não conhecia patavinas de Luna, mas fui. E foi bem divertido: vocalista blasé (numa definição positiva, acredite), baixista bonitona blasé ao quadrado, bateirista blasé ao cubo e um guitarrista que não tinha nada de blasé (era, inclusive, um sósia do ET do "Homens de Preto" - sério!). As músicas, desconhecidas, passaram; deu para repetir alguns refrões e tudo bem.

Depois, acabei comprando o CD do show que eles apresentaram - o "Luna Live" - em uma dessas promoções de discos da Trama. Conheci melhor algumas músicas, mas a verdade é que o Luna nunca figurou entre minhas bandas preferidas. E, com o passar do tempo e minha recente desilusão frente à música de forma geral, acabou esquecido no limbo da minha estante de discos.

Até domingo passado. Fui fazer minha caminhada/corrida (?) e me pus a escutar o disco no mp3 player (sim, mp3 player, é um genérico, eu não tenho iPod). Ouvi o disco quase inteiro, me lembrei de algumas músicas, por outras passei insolenemente, até que me deparei com uma bateria e um baixo convidativos. E logo depois uma guitarra displicente. E a bateria explodindo (no máximo que o lo-fi permite "explodir", claro). E a guitarra base, num timbre fantasmagórico. Fora o solo de longos minutos, como se fosse parte da rotina obrigatória de uma boa peça de lo-fi e space rock. "Meu Deus!"

"Left my hotel in the city", começa a música. "Hum, bacana". Ouvi inteira, e tudo bem. Domingo, procurei o vídeo dela no Youtube. E as letras. Ontem, no caminho para o trabalho, foi ela que escutei (levo apenas oito minutos para ir de minha casa até o trabalho; a música tem pouco mais de sete). Hoje, a mesma coisa. E aí, no final da tarde, me veio uma vontade irresistível de ouvi-la. Nunca fiz isso no trampo, mas botei o fone no ouvido esquerdo e mandei ver. A constatação: eu estava apaixonado.

"23 Minutes in Brussels" é absurda de boa. Mas tenho, também, plena convicção de que daqui a uma semana, ou menos, poderei não estar mais achando isso (assim como já aconteceu com tantas músicas pelas quais me apaixonei). Tudo bem, acontece.

Constatar a minha paixão (me deu vontade de usar aspas agora, mas seria um erro) me fez enxergar outra coisa: tenho um sentimento meio contraditório pelo fato de ter, por tanto tempo, alimentado meu "vício" (aqui sim) por descobrir bandas novas. Contraditório porque, não fosse por isso, eu jamais teria descoberto "23 Minutes in Brussels" e outras tantas pérolas perdidas por aí, mas também me parece uma tremenda perda de tempo ter corrido tanto atrás de tantas referências, dicas e etc.

Por isso eu dou risada de gente que se gaba por ter um zilhão de discos. Tipo de gente que eu já invejei. Essa que se gaba pelo "ter", mas que no fundo não sabe admirar de verdade o que possui. Quando muito, mal conhece o que lota suas prateleiras. É com descobertas como a de "23 Minutes in Brussels" que vejo que a música é uma experiência subjetiva, única e insubstituível. E aqui, mais que em qualquer outro contexto, qualidade vale muito mais que quantidade.

10 de janeiro de 2010

Em Prudente, o número 1 é mais embaixo

Ok, interrompo minhas férias internáuticas (no meio de minhas férias reais) porque o assunto pede urgência. Na verdade, eu adoraria ter um blog "sério", segmentado, não para viver disso - exatamente o contrário, a ideia é ter liberdade e tempo o suficiente para fazer o que bem entender -, mas sinto que seria legal tocar algum projeto com uma cara mais, digamos, profissional.

Enfim.

Se meu blog sério fosse sobre crítica gastronômica, eu teria arrumado um forte inimigo. Um inimigo número 1, eu diria.

Passando breve temporada em Presidente Prudente, cidade abençoada onde vive minha família, fui à pizzaria Número 1 ontem, com minha digníssima, cunhado, irmã, sobrinho e mãe. Já conhecia o lugar, sabia que a pizza era mais ou menos (digna, mas nada demais), mas a decisão acabou se mostrando um grande erro. O local estava abarrotado de gente. Fila quilométrica para pegar mesa, pessoas saindo pelo ladrão. Até que não demoramos tanto para conseguir um lugar, mas estava bom demais para ser verdade.

Meu cunhado precisou pedir uma cadeirinha especial para meu sobrinho (ele tem dois anos) para três garçons diferentes. Demorou uns cinco minutos até podermos fazer o pedido, que era bem simples: refrigerantes, cervejas e cinco rodízios. O primeiro pedaço demorou, sem dúvida, mais que cinco minutos para chegar. E se você pensa que isso é pouco tempo, e que estou reclamando de barriga cheia, me perdoe, mas você nunca foi a um rodízio de pizza decente.

Entre um garçom e outro, trancorria-se uma eternidade. A ponto de querermos ir embora. Como se isso ja não desabonasse o atendimento, um dos refrigerantes veio no copo sem gelo (apesar da ênfase no pedido) e um dos garçons derrubou um pedaço da pizza de alho na mesa quando foi servi-lo (foi alho frito para tudo quanto é lado - e ninguém sequer se deu o trabalho de limpar!).

Vale lembrar que o valor do rodízio é de R$ 17,50. Um absurdo pelo serviço porco, pelo local (que não oferece nada além de um galpão lotado de mesas, sem decoração especial ou algo que o valha) e pelas pizzas em si (contei cinco pequenas rodelas de palmito no pedaço da pizza desse sabor que me foi servido). Até na Cascata, em Ribeirão, com rodízio a R$ 9,90, arrisco dizer que tudo é bem melhor.

Na hora de pagar, pelo menos, a única coisa boa: o cara não teve a cara de pau de incluir os 10% da taxa de serviço. O que mostra que eles são ruins, mas ao menos têm autocrítica.

(Agora vem o momento "análise sócio-política regional" incitado pelo puro e simples sentimento do blogueiro de que este espaço é dele e ninguém pode impedi-lo de dizer o que ele quer)

O triste de tudo isso é que essa tal Número 1 é, de fato, uma das únicas (ao lado de umas outras, sei lá, três) opções em Prudente para se comer uma pizza. O lugar é assim e vai continuar assim. Meu cunhado mesmo disse "ah, é sábado, a gente veio tarde, lota mesmo, os caras não aguentam". Não aguentam? Ora! Que contratem mais gente! Ou limitem o número de vagas para os clientes - ah, é claro, isso os forçaria a buscar uma opção melhor, ou quem sabe, faria com que um deles mesmo abrisse sua própria pizzaria na cidade, não é mesmo?

Prudente é a capital de uma região pobre, esquecida e abandonada, pelo Estado e pelos seus próprios governantes. A cidade não se desenvolve por uma série de (des)interesses, mas para o pessoal de Sadovalina, Teodoro Sampaio, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Alfredo Marcondes e afins, comer uma pizza na Número 1 no sábado à noite equivale ao "teatro (cinema) - jantar (barzinho)" do paulistano suburbano. É o máximo visitar a metrópole.

Posso estar sendo irritantemente pedante? Posso. Mas sei que tenho um fundo de razão. Muita coisa aqui poderia ser melhor, mas não é simplesmente porque não precisa ser. Para a maioria das pessoas, está bom assim.

Como diz um trecho do hino da cidade, "qualquer raça do mundo/ que nela aportar /o labor e o amor profundo/ há de encontrar".

Labor e amor profundo sim, já bom atendimento em serviços vai ser difícil...