Estava deitado no sofá quando um vento frio da noite entrou pela janela e encontrou meus pés. Na hora, tive uma lembrança única. De uma noite em São José do Rio Preto, em um dia perdido no mês de maio do ano passado.
Naquele dia, o énimal me visitou. Durante o dia, aproveitei minha hora de almoço e fui buscá-lo na rodoviária. Estava sol, mas uma brisa fria soprava e o céu era azul. Um daqueles dias que eu sempre gostei. Busquei-o, levei-o até minha casa e fomos almoçar com mais dois amigos de Londrina que coincidentemente também moravam em Rio Preto - sendo que um deles trabalhava comigo.
Voltei ao trabalho, e Daniel para seus compromissos - verdadeiros motivos de sua visita à cidade. Na volta, à noite, fomos ver "Capote" no cinema. Um cinema antigo, daqueles que ficam no centro da cidade, perdidos como o tempo. E, aparentemente, como nós naquele dia. Chegamos antes do previsto e passamos em um supermercado ali perto. Compramos alguma coisa para comer e nos sentamos em uma escada de uma loja (ou coisa parecida) perto do cinema.
É a este momento que o vento no meu pé diretamente me remeteu. Àquele frio. Não nos víamos havia um bom tempo - mais de oito meses, acho eu. Naquele dia, conversamos. Sobre coisas que hoje já nem têm mais tanto valor, mas que naquele momento eram bastante importantes para nós dois. Alguns dos problemas abordados naquela noite passaram. Outros não. Para combatê-los, uso agora a mera lembrança daqueles minutos frios.
Um dia memorável. Obrigado, énimal.
28 de fevereiro de 2007
26 de fevereiro de 2007
Tudo sobre
Hoje, tomei uma das decisões mais importantes (e acertadas) da minha vida. Às 22h em ponto, precisei escolher entre assistir os filmes "Sr. e Sra. Smith" e "Tudo Sobre Minha Mãe", que passariam em canais diferentes na TV, e no mesmo maldito horário.
O dedo no controle estava nervoso, e oscilava entre os canais. Indeciso entre o blockbuster com a gostosa da Angelina Jolie e o independente com a gostosa da Penélope Cruz. Parou no segundo. "O pseudo espanhol. Droga", pensei.
Uma hora e 40 minutos depois, mais ou menos, estava em êxtase, e pensei que Brad e Angelina eram nada mais que lixo puro. O Almodóvar é mesmo foda. O cara tem a manha. Bolei uma analogia meio besta que justifica a fodidez do filme que acabei de ver. Vamos lá.
Às vezes, no trabalho, fico o dia inteiro apurando informações para uma reportagem que promete ser bastante grande. Quando chega o fim do dia, os planos mudam e ela vira um texto pequeno. É preciso, então, condensar tudo o que foi apurado naquele espaço: números, argumentos, declarações, pontos de vista. Sempre quando isso acontece, acabo ficando um pouco frustrado, porque tenho a impressão de que o trabalho final nunca fica bom.
Com o "Tudo Sobre Minha Mãe", Almodóvar conseguiu atingir a perfeição em contar uma história cheia de nuances em uma hora e 40, um "texto pequeno" para os padrões do cinema - gastam muito mais tempo para mostrar efeitos especiais por aí. Ademais, nunca imaginei que me veria chorar diante de uma cena que mostra um pai travesti aidético conhecendo seu filho.
Agora, estou um pouco incomodado, mas com uma sensação boa, de alguém que sabe que acabou de ver uma grande obra - e pode senti-la e compreendê-la em toda sua magnitude. Pseudo isso, né? É. Nem só de Penélope Cruz se faz um bom filme do Almodóvar.
O dedo no controle estava nervoso, e oscilava entre os canais. Indeciso entre o blockbuster com a gostosa da Angelina Jolie e o independente com a gostosa da Penélope Cruz. Parou no segundo. "O pseudo espanhol. Droga", pensei.
Uma hora e 40 minutos depois, mais ou menos, estava em êxtase, e pensei que Brad e Angelina eram nada mais que lixo puro. O Almodóvar é mesmo foda. O cara tem a manha. Bolei uma analogia meio besta que justifica a fodidez do filme que acabei de ver. Vamos lá.
Às vezes, no trabalho, fico o dia inteiro apurando informações para uma reportagem que promete ser bastante grande. Quando chega o fim do dia, os planos mudam e ela vira um texto pequeno. É preciso, então, condensar tudo o que foi apurado naquele espaço: números, argumentos, declarações, pontos de vista. Sempre quando isso acontece, acabo ficando um pouco frustrado, porque tenho a impressão de que o trabalho final nunca fica bom.
Com o "Tudo Sobre Minha Mãe", Almodóvar conseguiu atingir a perfeição em contar uma história cheia de nuances em uma hora e 40, um "texto pequeno" para os padrões do cinema - gastam muito mais tempo para mostrar efeitos especiais por aí. Ademais, nunca imaginei que me veria chorar diante de uma cena que mostra um pai travesti aidético conhecendo seu filho.
Agora, estou um pouco incomodado, mas com uma sensação boa, de alguém que sabe que acabou de ver uma grande obra - e pode senti-la e compreendê-la em toda sua magnitude. Pseudo isso, né? É. Nem só de Penélope Cruz se faz um bom filme do Almodóvar.
15 de fevereiro de 2007
Sobre minha mãe
Minha mãe é tão foda, tão foda, mas tão foda mesmo, que se eu fosse falar tudo o que gostaria sobre ela, morreria de emoção.
12 de fevereiro de 2007
Memória
No caminho de volta do trabalho para minha casa, tive uma idéia realmente brilhante para um post. Mas a esqueci, completamente. Deve estar afundada na minha memória, brincando com a lembrança de um amor inexistente e sendo observada pela lembrança do medo de pular do balanço no parquinho.
Droga, jamais vou me perdoar por deixar isso acontecer.
Droga, jamais vou me perdoar por deixar isso acontecer.
Olhem a letra!
OK, é só o começo dela:
I look in the mirror
To see what my hair is doing
Is it kind of skywalker
Or kind of stupid?
But that's not the real
Reason I'm looking
I need a reminder of what I'm doing
I need a reminder that I'm human
"Eu olho no espelho
Para ver como está meu cabelo
Se está do tipo Skywalker
Ou do tipo idiota
Mas esse não é o real motivo
Pelo qual estou olhando
Eu preciso de uma lembrança
Sobre o que estou fazendo
Eu preciso de uma lembrança
De que sou humano"
(Tradução: Google Ferramenta de Idiomas e minha mesmo)
I look in the mirror
To see what my hair is doing
Is it kind of skywalker
Or kind of stupid?
But that's not the real
Reason I'm looking
I need a reminder of what I'm doing
I need a reminder that I'm human
"Eu olho no espelho
Para ver como está meu cabelo
Se está do tipo Skywalker
Ou do tipo idiota
Mas esse não é o real motivo
Pelo qual estou olhando
Eu preciso de uma lembrança
Sobre o que estou fazendo
Eu preciso de uma lembrança
De que sou humano"
(Tradução: Google Ferramenta de Idiomas e minha mesmo)
Descoberta redentora
Retiro (quase) tudo o que disse no post abaixo. Despretenciosamente, coloquei um disco do Nada Surf ("Weight is a Gift, de 2006) para tocar no winamp e descobri uma delícia: "In the Mirror". Fico meio frustrado em imaginar quantas músicas como essa estão perdidas nos meus arquivos de mp3. Mas, com certeza, dormirei um pouco menos triste que há cinco minutos atrás. Melhor ir dormir logo, então.
Domingo implacável
Domingos são uma merda. Sinceramente, em toda a minha vida, não me lembro de nenhum final de domingo que tenha sido bom. Quando namorava à distância, os domingos significavam despedida. Agora é a mesma coisa: quando visito minha família (o que sempre me garante momentos muito agradáveis), é no domingo que tenho que voltar.
Na verdade, domingo é um dia legal até às 18h. Sim, exatamente este horário. As manhãs de domingo são maravilhosas, mesmo quando chove. Manhãs de domingo me lembram minha infância, quando eu ainda não dormia enquanto elas - as manhãs de domingo - aconteciam. Acordava e via o Globo Rural, depois ia na banca perto de casa a pé comprar um jornal, um gibi ou figurinhas. Depois vinha o farto almoço com a família toda, um cochilo ao som da narração daqueles documentários de vida animal da Cultura e o futebol. Depois do futebol, começa a tristeza.
Atualmente, mesmo não vivendo mais com minha família, ainda preservo as sensações. Gosto das manhãs de domingo, tento sempre fazer um almoço legal para mim mesmo e ainda cochilo no sofá enquanto o programa da TV tenta me mostrar como os elefantes são inteligentes ou como as chuvas de verão são importantes para a savana africana.
Hoje, eu estava disposto a acabar com esse tabu e fazer do meu domingo um domingo feliz. Bom, eu juro que tentei. Acordei cedo para a hora que fui deitar no sábado, fui à feira, comprei legumes e frutas; limpei a casa (naquelas, naquelas), dei uma boa arrumada na bagunça e ouvi música. Vi TV, fiz o almoço, enfim, tudo estava normal.
Nem a derrota do Corinthians para o São Paulo me fez mal, porque senti que o time não poderia ter feito mais do que fez mesmo. E, de qualquer forma, o Palmeiras está fudido também. Então, sem problemas (nessas horas eu sempre arrumo argumentos convincentes para provar a mim mesmo que não sou fanático por futebol). Até o final de tarde colaborou - foi nublado, escuro e fresco, ao contrário daquele sol desgraçado que teima em não ir embora no horário de verão. Terminado o jogo, aquela sensação começou. "Droga, lá vou eu novamente pensar em quantos comprimidos serão suficientes para uma morte rápida e indolor", matutei.
Mas, antes que eu pudesse levantar e pesquisar "suicídio" no Google, decidi ir ao cinema. Peguei a programação e escolhi "À Procura da Felicidade". Amigos já haviam me sugerido e eu achei o título bem sugestivo. Rapaz, que escolha acertada eu fiz. Um belo filme. Se trata da típica história da redenção após uma vida de merda - puro clichê do cinemão americano - mas a forma como se conta a história, inspirada em fatos reais, é bem convincente.
O filme também serviu para eu colocar o Will Smith no mesmo patamar do Jim Carrey ou do Adam Sandler - um ator que pode ir além dos estereótipos criados para ele na carreira. Bom, nem é preciso dizer que chorei igual uma menina espinhenta abandonada pelo parceiro na porta do baile de formatura. O final é bem emocionante mesmo.
Não, não, isso não piorou meu domingo. Apesar do filme ser triste (de certa forma, vejam e vocês entenderão), foi um ótimo entretenimento. Voltei para casa, vi mais TV e agora estou aqui. Ninguém me ligou (não à noite). Também não liguei para ninguém. Penso que amanhã termina as férias da minha chefe maldita. Me desespero. Faltam perspectivas, falam soluções. Não sei não, mas começo a achar que o problema não está com os domingos.
Na verdade, domingo é um dia legal até às 18h. Sim, exatamente este horário. As manhãs de domingo são maravilhosas, mesmo quando chove. Manhãs de domingo me lembram minha infância, quando eu ainda não dormia enquanto elas - as manhãs de domingo - aconteciam. Acordava e via o Globo Rural, depois ia na banca perto de casa a pé comprar um jornal, um gibi ou figurinhas. Depois vinha o farto almoço com a família toda, um cochilo ao som da narração daqueles documentários de vida animal da Cultura e o futebol. Depois do futebol, começa a tristeza.
Atualmente, mesmo não vivendo mais com minha família, ainda preservo as sensações. Gosto das manhãs de domingo, tento sempre fazer um almoço legal para mim mesmo e ainda cochilo no sofá enquanto o programa da TV tenta me mostrar como os elefantes são inteligentes ou como as chuvas de verão são importantes para a savana africana.
Hoje, eu estava disposto a acabar com esse tabu e fazer do meu domingo um domingo feliz. Bom, eu juro que tentei. Acordei cedo para a hora que fui deitar no sábado, fui à feira, comprei legumes e frutas; limpei a casa (naquelas, naquelas), dei uma boa arrumada na bagunça e ouvi música. Vi TV, fiz o almoço, enfim, tudo estava normal.
Nem a derrota do Corinthians para o São Paulo me fez mal, porque senti que o time não poderia ter feito mais do que fez mesmo. E, de qualquer forma, o Palmeiras está fudido também. Então, sem problemas (nessas horas eu sempre arrumo argumentos convincentes para provar a mim mesmo que não sou fanático por futebol). Até o final de tarde colaborou - foi nublado, escuro e fresco, ao contrário daquele sol desgraçado que teima em não ir embora no horário de verão. Terminado o jogo, aquela sensação começou. "Droga, lá vou eu novamente pensar em quantos comprimidos serão suficientes para uma morte rápida e indolor", matutei.
Mas, antes que eu pudesse levantar e pesquisar "suicídio" no Google, decidi ir ao cinema. Peguei a programação e escolhi "À Procura da Felicidade". Amigos já haviam me sugerido e eu achei o título bem sugestivo. Rapaz, que escolha acertada eu fiz. Um belo filme. Se trata da típica história da redenção após uma vida de merda - puro clichê do cinemão americano - mas a forma como se conta a história, inspirada em fatos reais, é bem convincente.
O filme também serviu para eu colocar o Will Smith no mesmo patamar do Jim Carrey ou do Adam Sandler - um ator que pode ir além dos estereótipos criados para ele na carreira. Bom, nem é preciso dizer que chorei igual uma menina espinhenta abandonada pelo parceiro na porta do baile de formatura. O final é bem emocionante mesmo.
Não, não, isso não piorou meu domingo. Apesar do filme ser triste (de certa forma, vejam e vocês entenderão), foi um ótimo entretenimento. Voltei para casa, vi mais TV e agora estou aqui. Ninguém me ligou (não à noite). Também não liguei para ninguém. Penso que amanhã termina as férias da minha chefe maldita. Me desespero. Faltam perspectivas, falam soluções. Não sei não, mas começo a achar que o problema não está com os domingos.
11 de fevereiro de 2007
Espelhos
Sempre fui meio que fascinado por espelhos. Quando era criança, lembro-me com perfeição de quando pegava um pequeno espelho retangular com a moldura alaranjada da minha mãe e o posicionava perpendicularmente abaixo de meus olhos. Desse modo, tudo o que eu via era o reflexo do teto na minha frente. E assim ia andando pela casa, "tropeçando" em lâmpadas e dando risada de mim mesmo e daquela fantasia toda.
Outra coisa que adorava fazer era abrir as duas portas laterais do armarinho espelhado do banheiro e olhar, de soslaio, o "túnel" infinito de espelhos que se formava. Igual a embalagem da farinha fáctea, um pedaço do espaço continuum ali, no meu cotidiano.
Hoje, fui à agência dos Correios e presenciei outro fenômeno interessante relacionado a espelhos. Estava sentado quase que de frente para uma grande coluna espelhada, enquanto esperava minha vez de ser atendido. No espelho, eu via refletida a entrada da agência. Atrás da coluna, havia os guichês de atendimento. Eu olhava as pessoas passando atrás da coluna e "sumindo" no mundo paralelo de dentro do espelho.
Até que o extraordinário aconteceu. Uma moça foi caminhando, por trás do espelho e, no exato momento em que sumiu atrás da coluna, foi "substituída" por uma senhora mais velha no mundo do espelho. A sincronização foi perfeita. Confesso que fiquei impressionado, a ponto de me levantar da cadeira e verificar se a moça realmente estava atrás da coluna. Estava, é claro.
Vou dormir ainda me perguntando: em que mundo estaria eu?
Outra coisa que adorava fazer era abrir as duas portas laterais do armarinho espelhado do banheiro e olhar, de soslaio, o "túnel" infinito de espelhos que se formava. Igual a embalagem da farinha fáctea, um pedaço do espaço continuum ali, no meu cotidiano.
Hoje, fui à agência dos Correios e presenciei outro fenômeno interessante relacionado a espelhos. Estava sentado quase que de frente para uma grande coluna espelhada, enquanto esperava minha vez de ser atendido. No espelho, eu via refletida a entrada da agência. Atrás da coluna, havia os guichês de atendimento. Eu olhava as pessoas passando atrás da coluna e "sumindo" no mundo paralelo de dentro do espelho.
Até que o extraordinário aconteceu. Uma moça foi caminhando, por trás do espelho e, no exato momento em que sumiu atrás da coluna, foi "substituída" por uma senhora mais velha no mundo do espelho. A sincronização foi perfeita. Confesso que fiquei impressionado, a ponto de me levantar da cadeira e verificar se a moça realmente estava atrás da coluna. Estava, é claro.
Vou dormir ainda me perguntando: em que mundo estaria eu?
8 de fevereiro de 2007
Caixinha de surpresas
Uma semana com derrota do Palmeiras (para o Ituano!!!) e goleada do Corinthians não poderia ser mais feliz. Obrigado, futebol.
7 de fevereiro de 2007
Braço a torcer
Excluindo-se todo o disco do Nirvana, a melhor adaptação para algo acústico já feita na história da humanidade é de "Diversão", dos Titãs.
Não há dúvidas, não há dúvidas.
Não há dúvidas, não há dúvidas.
6 de fevereiro de 2007
Soneto do espanto consentido
Olhem, já sou contente
No correr de cada dia
Descubro, de repente
Que sei escrever poesia
Tentava fazer o verso
Quando notei abismado
Que algo estava imerso
E queria vir desatado
Sem pensar ele saiu
Nem mesmo usou o bidê
Pari-o sem dó no frio
E se querem saber a razão
Me perdoem o clichê:
Mas dêem asa ao coração!
No correr de cada dia
Descubro, de repente
Que sei escrever poesia
Tentava fazer o verso
Quando notei abismado
Que algo estava imerso
E queria vir desatado
Sem pensar ele saiu
Nem mesmo usou o bidê
Pari-o sem dó no frio
E se querem saber a razão
Me perdoem o clichê:
Mas dêem asa ao coração!
Caminho
Pé na frente
Pé atrás
Como fuga
De Alcatraz.
Junto idéias
Penso nelas
Pensam em mim?
Que! Balelas.
Dardos voam
Eu me abaixo
Seria bom voar,
Eu acho.
A esquina
Oh, querida
Quem me dera
Fosse a vida.
Pé atrás
Como fuga
De Alcatraz.
Junto idéias
Penso nelas
Pensam em mim?
Que! Balelas.
Dardos voam
Eu me abaixo
Seria bom voar,
Eu acho.
A esquina
Oh, querida
Quem me dera
Fosse a vida.
5 de fevereiro de 2007
Descrevendo cores
Como profissional do texto, eu quebro o galho. Quero dizer, sou obrigado a escrever textos técnicos, diariamente e numa quantidade absurda (sexta-feira foram 19, sem contar e-mails com solicitações para assessorias de imprensa e o malogrado retorno, a desgraça do jornalismo da empresa onde trabalho).
Tenho plena consciência de que meu texto é bom para o que faço, mas isso realmente não significa muita coisa. Não há quase mérito nenhum em saber escrever um bom texto para jornal, porque isso é pura técnica e qualquer um que seja um pouquinho esperto pode aprender em pouco tempo. O difícil no jornalismo é apurar a informações, encontrar as pessoas certas para falar, saber onde colocar cada idéia. Escrever é a célula do trabalho, e a escrita sua ferramenta básica.
Mesmo assim, dá pra ficar feliz porque tem muito retardado por aí que não sabe alinhar sujeito e predicado e quer ser jornalista. Pobres infelizes. Você pode ter as melhores fontes, os melhores contatos e as melhores pautas, mas sem saber escrever não é ninguém no jornalismo - impresso, é bom que se diga.
Bem, retornemos ao ponto central do post. Dia desses, li a coluna do Ávaro Pereira Júnior sobre o OK Computer, do Radiohead, onde ele dizia que o disco é uma rara obra de "intelectualismo popular" (não sei se foi esse o exato termo que ele usou). Ele queria dizer que o álbum é riquíssimo em idéias, e refinado, mas conseguiu ser entendido pelas "massas" (esse conceito é bem relativo, mas não vou prolongar a discussão sobre ele). Por ora, direi apenas que concordo com ele, apesar de ter algumas restrições à idéia toda. No artigo, ele dizia que o maior desafio para jovens artistas é fazer uma obra como OK Computer, que conquiste pela inteligência e não pela obviedade.
Pois bem. Esses dias aí eu li "O Perfume", best-seller de 1987 do escritor alemão Patrick Süskind e que acaba de virar filme pelas mãos de seu patrício Tom Tykwer (Corra Lola Corra). Fiquei realmente impressionado com o texto, principalmente nas partes em que o autor descreve... odores. É realmente impressionante. Nunca fui bom em cheiros, e desconheço qualquer perfume que não seja meu desodorante, mas consegui sentir exatamente os cheiros que ele descrevia.
Juntando, tudo isso: a prisão à técnica do jornalismo, o intelectualismo popular de OK Computer e o texto sensitivo d'O Perfume, propus um desafio a mim mesmo: descrever cores. Como seria possível, por exemplo, explicar para um cego de nascença o que é o amarelo? Verde? Azul? Cinza? Usar a palavra não vai adiantar nada. Ao mesmo tempo, o nome de cada cor parece ser o único elemento que temos para explicá-las.
As cores são o maior exemplo de laconismo em toda o léxico humano. Não existem sinônimos, nem nada que possa descrevê-las melhor que seu próprio nome. Por isso, ao tentar descobrir um desafio para o desprendimento do meu texto, acabei, sem querer, descobrindo uma bela analogia para o impossível.
Talvez descrever cores me ajude a entender porque o mundo está tão monocromático.
Tenho plena consciência de que meu texto é bom para o que faço, mas isso realmente não significa muita coisa. Não há quase mérito nenhum em saber escrever um bom texto para jornal, porque isso é pura técnica e qualquer um que seja um pouquinho esperto pode aprender em pouco tempo. O difícil no jornalismo é apurar a informações, encontrar as pessoas certas para falar, saber onde colocar cada idéia. Escrever é a célula do trabalho, e a escrita sua ferramenta básica.
Mesmo assim, dá pra ficar feliz porque tem muito retardado por aí que não sabe alinhar sujeito e predicado e quer ser jornalista. Pobres infelizes. Você pode ter as melhores fontes, os melhores contatos e as melhores pautas, mas sem saber escrever não é ninguém no jornalismo - impresso, é bom que se diga.
Bem, retornemos ao ponto central do post. Dia desses, li a coluna do Ávaro Pereira Júnior sobre o OK Computer, do Radiohead, onde ele dizia que o disco é uma rara obra de "intelectualismo popular" (não sei se foi esse o exato termo que ele usou). Ele queria dizer que o álbum é riquíssimo em idéias, e refinado, mas conseguiu ser entendido pelas "massas" (esse conceito é bem relativo, mas não vou prolongar a discussão sobre ele). Por ora, direi apenas que concordo com ele, apesar de ter algumas restrições à idéia toda. No artigo, ele dizia que o maior desafio para jovens artistas é fazer uma obra como OK Computer, que conquiste pela inteligência e não pela obviedade.
Pois bem. Esses dias aí eu li "O Perfume", best-seller de 1987 do escritor alemão Patrick Süskind e que acaba de virar filme pelas mãos de seu patrício Tom Tykwer (Corra Lola Corra). Fiquei realmente impressionado com o texto, principalmente nas partes em que o autor descreve... odores. É realmente impressionante. Nunca fui bom em cheiros, e desconheço qualquer perfume que não seja meu desodorante, mas consegui sentir exatamente os cheiros que ele descrevia.
Juntando, tudo isso: a prisão à técnica do jornalismo, o intelectualismo popular de OK Computer e o texto sensitivo d'O Perfume, propus um desafio a mim mesmo: descrever cores. Como seria possível, por exemplo, explicar para um cego de nascença o que é o amarelo? Verde? Azul? Cinza? Usar a palavra não vai adiantar nada. Ao mesmo tempo, o nome de cada cor parece ser o único elemento que temos para explicá-las.
As cores são o maior exemplo de laconismo em toda o léxico humano. Não existem sinônimos, nem nada que possa descrevê-las melhor que seu próprio nome. Por isso, ao tentar descobrir um desafio para o desprendimento do meu texto, acabei, sem querer, descobrindo uma bela analogia para o impossível.
Talvez descrever cores me ajude a entender porque o mundo está tão monocromático.
1 de fevereiro de 2007
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