22 de novembro de 2009

Andy e seus amigos

(ATENÇÃO: este texto contém spoilers. Mas é sobre um filme produzido em 1994, então acho que ninguém vai se importar)

Ok, ok: eu choro em filmes. Choro mesmo. Pra certas coisas, sou praticamente uma menina. Uma vez, chorei com uma matéria do Esporte Espetacular em que o jogador Rui (um carequinha apelidado de cabeção que jogava até pouco tempo no Fluminense - não vi mais ele) reencontrou seu pai. Pois é.

O primeiro filme em que chorei foi E.T. O que, na época, foi uma situação que se desenhou como um grande paradoxo para mim, já que eu morria (morria? a quem estou querendo enganar? eu ainda morro...) de medo de ETs. Depois, ainda criança, chorei com Meu Primeiro Amor, e eu tinha vergonha dos adultos que estavam por perto, então segurava as lágrimas o máximo que podia e depois, quando ia dormir, pensava de novo no filme e chorava de verdade.

Já crescido, um belo dia fui assistir Um Sonho de Liberdade em uma madrugada na Globo (acho que era Intercine). Acho que um cunhado meu havia indicado o filme. Nem é preciso dizer que chorei em bicas. Ao mesmo tempo em que achei o filme, naquele momento, um dos melhores que já tinha visto na minha vida. E é fuckin' fodidamente fantástico mesmo.

Como minha situação financeira na época era um lixo, e a própria situação tecnológica do mundo não era lá essas coisas (anos 90, gente!) , eu gravei o filme em VHS e assistia sempre. Uma vez, minha irmã gravou a novela por cima da cena final, em que o Red encontra o Andy na praia (ops, spoiler, foi mal) e eu fiquei deveras puto. O engraçado é que eu só comprei o DVD do filme há uns dois anos, em uma dessas promoções das lojas Americanas. Mas prossigamos.

O que quero dizer é que, mesmo tendo visto Um Sonho de Liberdade umas 30 vezes (esse deve mesmo ser o número correto, não é hipérbole), eu ainda choro. Mas ontem, ao assisti-lo mais uma vez (a primeira com home theater e TV LCD - tá pensando o quê?), percebi que é sempre uma cena diferente que me desperta o lado mocinha desamparada. Na primeira vez, chorei quase da metade toda do filme para o fim, desde quando o Brooks se mata. Com o auge, é claro, na expectativa gerada pelo possível suicídio do Andy. E sempre com os olhos marejadíssimos na épica cena da chuva (que é realmente uma cena muito bonita, cinematograficamente falando - tem contexto, trilha perfeita, luz, interpretação... congruência total de fatores).


Tomar banho de chuva, banho de chuva, ah, ah... ai ai ai ai ai ai ai ai ai aiaaiaiai


Dessa vez, o que me emocionou foi a parte pós-fuga do Andy, em que seus amigos estão na mesa comendo e se lembrando de suas façanhas na prisão. Quando o Red diz que está feliz por ele, mas que sente sua falta. O que isso me diz? Que eu sinto falta dos meus amigos? Que eu deveria tentar passar mais tempo com eles? Sei lá. Aí acho que já é muita viagem. Por ora, espero apenas uma boa oportunidade para que eu possa tomar meu banho de chuva...


PS: Aconteceu o que eu temia. Vendo o filme ontem, comecei a notar uma porção de "falhas". Frases muito melosas, cenas que não se encaixam (como diabos ele abre um buraco em um cano de ferro com uma pedra com espaço suficiente para ele mesmo passar em tão pouco tempo, meu Deus?)... É mais um ícone da minha juventude que aos poucos se esvai e perde sua majestade para comigo mesmo. Ficar adulto é uma bosta. Mas isso é assunto para outro post - ou não.

5 de novembro de 2009

O menino de Peshawar

Enquanto jornalista, sei que este é um grave defeito meu, mas a verdade é que eu não costumo dar muita bola para fotografias. Deve ter começado na faculdade: minha professora era péssima, o equipamento era sucata e meu interesse pelo assunto, que já era baixo, tornou-se nulo. E, para ser sincero, eu sempre tive um pouco daquele coisa de "jornalista de verdade apura informação, faz texto, não aperta botão". Para mim, em suma, foto sempre foi aquela ilustração que preenche o buraco na página para divertir os olhos do leitor. Pronto-falei.Mas é claro que com o tempo eu mudei essa visão, e hoje realmente sei que uma foto pode dizer o que nem mil páginas de jornal (e não palavras) poderiam descrever.

Bom, o mundo tem uma porção de coisas que eu não entendo, e uma delas é a bagunça toda dessa região chamada Oriente Médio (tomei a liberdade de incluir Afeganistão e Paquistão aí no balaio - nem sei se formalmente eles são considerados Oriente Médio, mas como brigam pacas e são em sua maioria adoradores de Alá, para mim está valendo).

Como leitor, e mais recentemente editor, eu sempre achei completamente banais qualquer informação como "número de mortos em atentado chega a X" ou "carro-bomba explode e mata Y no casa-do-caralho-quistão". Isso, é claro, ocorre em boa parte por culpa das agências internacionais, que no mais das vezes não fazem notícias, e sim atualização do placar de mortos do dia nos locais de conflito. Afinal, explicar tudo certinho dá trabalho, e uma boa quantidade de cadáveres na capa do jornal sempre chama mais a atenção. Contextualização de cu é rola.

O mesmo com as fotos. São sempre ruínas, ferragens de veículos, poeira, um pessoal queimado de sol e barbudo com umas túnicas esquisitas gritando... É tudo horrível, mas vamos admitir, gente: caiu tudo em uma terrível normalidade. Terrível mesmo. Para o leitor/espectador ocidental, que desaprendeu a refletir sobre as raízes do problema; para a imprensa, que repete a mesma fórmula sempre inquestionável de cobertura e, principalmente, para os desafortunados moradores das localidades atingidas, que têm suas vidas reduzidas a estatística e, quando muito, cenário de horror para deleite dos hipócritas de plantão.

Meu pensamento era esse, até que me deparei com a foto abaixo.



Foi na semana retrasada, quando estava editando a página de Mundo do jornal. É de um atentado na cidade de Peshawar, no Paquistão, que aconteceu em um mercado frequentado essencialmente por mulheres - no caso específico deste ataque, um carro-bomba foi explodido no momento em que muitas mães tinham acabado de pegar seus filhos em uma escola próxima e passavam pelo lugar para comprar alimentos para o jantar. A rigor, é mais uma foto da desgraça no Oriente Médio.

Mas para mim a foto pegou. Pegou fundo, de verdade. Pode ser parte do processo de emboiolagem pós-casamento, mas pegou. A criança no colo do pai é uma imagem já forte por si só, mas uma série de detalhes, que fui notando com a contemplação da foto, me derrubou. O principal deles é a sandalinha do menino - coloridinho, bem abotoado, uma sandalinha de criança. Teria sido amarrado por sua mãe? Teria sido comprado por quem? E o pior: cadê o outro pé? Se perdeu com a explosão, e pensar nisso para mim foi bastante aterrorizante. Quem teria coragem de explodir uma bomba perto de uma criança que usa uma sandalinha como essa?

O pai segura seu filho consternado, como se tivesse chegado tarde demais. Eu queria estar lá para dizer a ele que não tinha como chegar mais cedo, que ele não poderia ter feito nada, que aconteceu como tinha que acontecer, que foi um acidente inevitável. As pessoas em volta olham, e o que impera em seus olhares é a expressão de respeito e tristeza, acima da curiosidade.

A legenda que veio com a imagem, da agência France Press (o nome do fotógrafo, aliás, é A. Majeed) começava dizendo "Dead child...". Eu não queria ter lido isso. Nunca desejei tanto que uma informação estivesse errada, e que essa criança estivesse, de alguma forma, viva.

Eu sei que há muitas crianças que morrem por aí, de formas até piores, e vocês podem dizer que eu não reajo com elas assim como reagi com o menino paquistanês. Pois é. Culpem essa foto, feita em algum momento do final da tarde do dia 21 de outubro de 2009 na cidade de Peshawar, no Paquistão.

Dizem que o jornalismo tem o poder de mudar o mundo. Nem que seja um pouquinho, essa foto mudou o meu.

16 de outubro de 2009

Everyday is exactly the same

Hoje é um daqueles dias. Me dá vontade de abraçar o mundo. E de não dizer esses clichês idiotas pra expressar como me sinto.

Sei que isso tem um nome: ansiedade. Mas isso pouco importa. Dar nome às coisas não resolve nada. Tenho vontade de começar a escrever um livro. O meu livro. Um não, vários. Tenho vontade de sair correndo (não no sentido de fugir, nada disso, para me exercitar mesmo). Tenho vontade de ir atrás de vídeos legais no YouTube - e vou, mas, passados poucos segundos de cada um deles, abro outros (os relacionados) e quando vejo há uma porção de abas, muitos links abertos, nenhum fechado. Tudo incompleto.

Hoje é mais um daqueles dias. Eles se repetem bastante, ultimamente. Sinto falta de tanta coisa. Sinto que estou perdendo tempo, que o estou desperdiçando, que não estou sabendo viver. Não é uma sensação muito boa. Não, não tem nada a ver com o casamento - ele até que me ajuda pra caramba. É algo além disso, que corre em paralelo, e que parece ter estado sempre ali, escondido nos últimos anos (quando eu estava bastante ocupado com outras coisas), e que voltou com força total agora com a calmaria. Mente vazia, oficina do diabo.

Fico pensando que, se conseguisse canalizar toda essa energia em um talento, uma única ação, ou transformá-la em felicidade, estaria tudo resolvido. Tudo resolvido.

Droga.

22 de julho de 2009

O choro de Cristian

Até ontem, eu havia chorado apenas duas vezes com o futebol.

A primeira foi foi na Copa do Mundo de 1994, um torneio que eu me gabo de ter acompanhado integralmente. A final foi muito tensa, e quando o Brasil venceu eu subi para o terraço da minha casa e as lágrimas saíram como um impulso. O choro foi um alívio.

A segunda ocasião foi quando o Corinthians ganhou a Copa do Brasil de 1995, contra o Grêmio. O time gaúcho era muito badalado e quase ninguém acreditava que o Corinthians pudesse vencer (pelo menos era dessa forma que eu via a situação naquela época). A vitória (com um gol de Marcelinho Carioca no Olímpico), portanto, para mim, foi algo redentor; a sobreposição do mais fraco, do batalhador, contra o mais forte, o estabelecido. O choro foi um desabafo.


Até ontem.

Porque, ontem, André Santos e Cristian deram adeus ao Corinthians. "Oh, meu Deus, e daí, Luís? Não é o fim do mundo", dirão os incautos. De fato. Mas é uma pequena catástrofe para o atual contexto corintiano. Este time vem jogando junto desde o início de 2008, e todo torcedor corintiano que se preze acompanhou sua evolução, desde a humilhação pela passagem na Série B e a redenção (olha ela aí de novo) com as conquistas do Paulistão e Copa do Brasil 2009. Não há como não sentir a perda de jogadores tão importantes para a equipe.

No caso do André Santos a situação não é, digamos, tão grave. Ele mesmo e a diretoria já vinham falando de sua transferência há um bom tempo. E ele era bem mais "mala" em campo: adorava uma firula, era displiscente, perdia o foco com facilidade. O que, ao menos para mim, quase anula a importância dos 25 gols (alguns importantíssimos) que marcou em sua passagem pelo time.

Com o Cristian é diferente. O cara chegou desacreditado do Flamengo (foi dispensado pelo técnico Caio Júnior - quem?), demorou para se firmar como titular (eu mesmo, no começo, achava que o Fabinho não deveria dar lugar a ele nem aqui nem na China), mas de repente lá estava ele, sendo indispensável. Roubando bolas, fazendo coberturas, ligando contra-ataques, sendo preciso, dando passes e assistências. Foi constantemente acusado pelos adversários de ser agressivo demais, mas isso é conversa mole - ele de fato era, mas o soube ser na medida certa. E ainda bem que o Corinthians teve alguém como ele para cumprir esse papel (me lembro bem do jogo contra o Santos pela primeira fase do Paulistão, quando se gerou uma expectativa enorme para a estreia no Neymar e o Cristian foi lá e deu um belo tapa na orelha no moleque, que não fez nada durante o jogo todo - o Corinthians ganhou por 1 a 0).


Me emocionar com as imagens de Cristian se despedindo de seus colegas na sala de musculação ou não conseguindo segurar as lágrimas durante sua entrevista talvez fosse algo que eu não esperava (e certamente mostra um nível de fanatismo jamais obtido por mim pelo Corinthians - mas o time está em boa fase, então isso não é preocupante). É realmente surpreendente ver, nos dias de hoje, esse tipo de reação de um jogador que vai para a Europa (principalmente porque não há como desconfiar minimamente de qualquer tipo de "cena" por parte de Cristian), e me enche de orgulho o fato disso ter acontecido no Corinthians. Um choro de gratidão.

Até ontem, eu tinha três grandes ídolos no Corinthians: Ronaldo (o goleiro), Neto e Marcelinho Carioca.

Até ontem.

18 de abril de 2009

Ressuscitado

Pronto. Uma noite de insônia (a boa e velha ansiedade) e cá está o blog de volta.