Na minha ânsia por estrear logo o blog, esqueci de explicar o nome que o batiza (redundância?). Pré resumir a história: existe uma banda que se chama Radiohead e que eu gosto pra caramba. Eles fizeram uma música que se chama "Fitter Happier" e está no terceiro disco deles, o "OK Computer", de 1997. O álbum todo é uma obra prima, e mesmo que não seja (quem sou eu para definir), eu pago pau e pronto.
Também resumidamente, posso dizer, pelas minhas próprias percepções e por tudo que já se escreveu sobre ele, que o disco fala, basicamente, da conturbada relação entre homem e máquina. Ou homem e mundo moderno, se preferirem. Ou da confusão que cerca a humanidade diante de tanta novidade e deslumbramento. Enfim: fala de como somos todos uns merdinhas diante de nós mesmos, quando tentamos nos impressionar com nosso brilhante planetinha e seus brinquedinhos.
"Fitter Happier" é, de longe, a música mais bizarra do disco. A música mais bizarra de todo o Radiohead, até. É uma música que pode ser chamada de esquisita com todas as letras. É repulsiva. Ninguém gosta dela. Pois eu, quando ouvi o disco pela primeira vez (vejam bem, eu disse PRIMEIRA), me apaixonei por "Fitter Happier".
Explico porquê. A letra toda, declamada por uma voz distorcida (como a de um robô) expressa ordens. Pequenas coisas que deveríamos fazer em nosso cotidiano para sermos felizes e levarmos uma vida satisfatória. Aí o robô, ops, a letra, fala pra gente manter o contato com os amigos e beber com eles, fazer exercícios três vezes por semana, não comer comidas de microondas, não jogar uma aranha no buraco da tomada e fazer supermercado e lavar os carros aos domingos. Normal, né? Mais que isso: confortável, né?
Mas eu, quando ouvi, percebi uma fina ironia no meio de tudo. Foi algo bem natural. Aquela voz, aquela letra naquele contexto, um pianinho triste por trás. Foi como se visse o mundo como o conheço passando diante de meus olhos, e percebesse, ao mesmo tempo, como ele está errado. E triste.
Um verso, no entanto, se transformou para mim em um paradoxo:
"fond, but not in love"
Corri ao dicionário e percebi que "fond" quer dizer, exatamente, "afeiçoado". Ou seja: a música diz para nos afeiçoarmos por alguém, mas não para apaixonar-mos. Pensando na letra como um todo, é mesmo um paradoxo. Ora, não é bom não nos apaixonarmos? Tão bom quanto a sensação de lavar o carro aos domingos e ir ao supermercado? Pois é. Nem a ironia da letra agüentou o poder, neste caso negativo, do amor. É o único verso realmente pessismista da música, sem saída, encurralado. "Goste, mas não se apaixone".
Este verso é o umbigo de "Fitter Happier". O nó da canção. Se você quer entender o Radiohead, entenda "Fitter Happier". Se quer entender "Fitter Happier", entenda o verso "fond, but not in love". Ou, melhor que entender, sinta-o. O efeito será bem maior.
Goste, mas não se apaixone. Puta merda.
27 de novembro de 2006
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