20 de abril de 2011

Amigos

Ainda me lembro do meu primeiro amigo. Era um menino chamado Gustavo, da minha sala da 1ª série. Quer dizer, eu tinha outros coleguinhas, mas o Gustavo era diferente: era o único, fora da minha família, com quem eu brincava além do horário de aula, na casa dele ou na minha.

Sabe lá Deus onde está o Gustavo hoje - espero que esteja bem.

O tempo vai passando e a gente vai aprendendo que um monte de coisa define um bom amigo. Afinidade, gostos parecidos e uma boa dose de sorte - muitas vezes seu amigo aparece na hora certa, no lugar certo. E há todo um contexto para a amizade engrenar (é por isso que os meus maiores amigos foram adquiridos nos anos da faculdade).

Tem um fator primordial, que passa perto da confiança e da correspondência mútua, mas que pra mim sequer tem nome. É a sensação provocada pela certeza de que determinada pessoa vê em você o que você vê nela, e que vai fazer por você o que você faria por ela, sempre na mesma medida (e sem precisar pedir, é claro).

Isso, meus amigos (ops!), é muito raro. É por isso que eu não acredito em quem diz que tem milhares de amigos. Eu tenho, sei lá, uns... poucos. E olhe lá. É uma pena. Adoraria ter mais.

Nem todos são amigos. Eis uma grande tragédia humana.

5 de abril de 2011

Luzes apagadas

Quando há muito para dizer, o silêncio é não só a melhor, mas também a única opção.

17 de março de 2011

Ajude um repórter

Ainda me lembro da primeira vez em que vi a palavra "personagem" no sentido jornalístico. Estranhamente, não foi na faculdade (na verdade, vi muita pouca coisa na faculdade que iria usar depois no dia a dia da redação, mas essa discussão fica pra outra hora).

Eu trabalhava em um jornal da minha cidade, no interior paulista, e lá tínhamos um chefe de reportagem que realmente criava pautas, as redigia, imprimia em uma daquelas impressoras de fita e entregava para os repórteres todas as manhãs. Era uma pauta sobre a greve do INSS, e no final do texto de poucas linhas, estava lá: "COM PERSONÁGEM". Assim, com caps lock e erro de acentuação.

Mal sabia eu que essa desgraça se tornaria o maior pesadelo da minha carreira que ali começava. A busca por um bom personagem é a dificuldade que iguala a classe. Achar um bom personagem é uma tarefa hercúlea, e todos sofrem com ela: os bons, os ruins; estagiários, chefes experientes, fotógrafos e até motoristas solidários pelo nosso sofrimento.

Porque, é claro, não basta dizer que a pesquisa identificou que 84,3% da população feminina entre 25 e 30 anos concebeu mais filhos homens com olhos claros nos primeiros meses de 2010; é preciso achar uma infeliz que se enquadre exatamente neste perfil. "Vamos aproximar o leitor dos números", bradam por aí.

Supondo que você consiga achar alguém, essa pessoa deve querer dar entrevista e, mais do que isso, aceitar sair em uma foto. Com o lindo bebê no colo. Superado esse obstáculo, é bem provável que você ainda ouça do seu editor: "puta merda, não tinha uma moça mais bonita, não? Queria dar essa foto na capa!"

Quem trabalha em redação sabe do que estou falando. Isso é algo que acontece TODOS os dias. Na verdade, na maioria das vezes, mais de uma vez por dia. São situações aparentemente impossíveis que precisam ser resolvidas em um curtíssimo espaço de tempo.

Certa vez, já em outra redação, eu e alguns colegas discutíamos a criação de uma assessoria de imprensa especializada em arrumar personagens: seria um grande "banco", um órgão a quem recorrer em situações de extremo desespero. Mas a ideia logo morreu: quem iria patrocinar o projeto? Afinal, a tal agência não teria "clientes", como uma assessoria de imprensa comum. Jornais, rádios e TV certamente também não moveriam uma palha para investir nisso - há muitas outras preocupações financeiras nas redações...

Bom, mas um cara chamado Gustavo Carneiro (@gustacarneiro) teve a mesma ideia e a levou a um outro nível. No Twitter, ele criou o perfil @ajudeumreporter, e há mais de um ano ajuda jornalistas desesperados e encontrar personagens, fontes para entrevistas, especialistas em qualquer coisa. É bem simples: as requisições a ele são feitas pelo próprio Twitter; ele amplia o pedido para seus seguidores e a rede social faz seu trabalho: afinal, alguém sempre conhece alguém que conhece alguém que conhece alguém...

É um serviço eficiente, mas ainda não é perfeito: dia desses, alguém pediu ajuda para encontrar um frequentador de bibliotecas que ficam sob viadutos. Ãhn... que tal ir até alguma biblioteca que fique sob algum viaduto, queridão? Garanto que você acharia seu personagem facinho. Enfim, o sistema pelo Twitter permite algumas distorções, e a amplitude da coisa às vezes também mais atrapalha que ajuda.

Por isso, o Gustavo quer fazer do serviço um site, onde os pedidos seriam centralizados, avaliados pelos próprios usuários e os e-mails dos repórteres seriam mantidos em sigilo, além de muitos outros benefícios (para assessorias de imprensa e seus malditos follow-ups, inclusive). O tal banco de personagens finalmente existiria. Para isso, no entanto, o Gustavo precisa de R$ 15 mil, que ele está tentando arrecadar pelo sistema de crowdfunding. Você pode doar o quanto quiser, e dependendo do valor pode até receber belos brindes.

Aqui tem todos os detalhes sobre o projeto.

Só tem um problema: o prazo para arrecadação vai até amanhã, sexta-feira, 18 de março de 2011. E até agora o Gustavo conseguiu pouco mais de R$ 3 mil (vale dizer que, se o valor não for alcançado, o dinheiro doado será devolvido). Aliás, "doado" é o termo errado; mais correto seria dizer "investido". É evidente que o sistema funciona, e também é evidente que a criação do site vai melhorá-lo. Se cada seguidor do @ajudeumreporter doasse R$ 1,28, ele sairia do papel. Ou, melhor dizendo, do Twitter.

Enfim, infelizmente, parece que não vai dar certo. O que só mostra como a classe jornalística, a dos formadores de opinião, é esclarecida e unida, não é mesmo?

Vale dizer que eu não conheço o Gustavo, nunca trabalhei com ele ou tive qualquer tipo de contato - a não ser, é claro, pelo Twitter. Mas acho que é uma puta ideia boa, e estou tentando ajudar (além deste post, que poucos vão ler, doei R$ 15). É a forma que acho mais viável para tentar melhorar a vida de jornalistas por aí. Inclusive a minha.

Torço para que dê certo.

11 de março de 2011

Só a morte salva

E aí que estou lendo "Mais Pesado que o Céu", biografia do Kurt Cobain escrita pelo jornalista Charles Cross.

Não cheguei nem na metade e já é possível fechar o caixão (ops!) em relação a uma percepção que já tenho há tempos: para algumas pessoas, a morte é a melhor coisa que pode acontecer.

Não estou dizendo que o Kurt Cobain deveria mesmo morrer para "se salvar". Ou muito menos que a morte seria o mais justo para ele, sujeito que não demonstrava muito apreço pela vida - discurso bem babaca esse, aliás.

O que constato é meio óbvio, mas não deixa de ser um tema delicado pela forma mítica como as pessoas lidam com a perda de outro ser humano: a morte é o caminho mais fácil para se tornar um herói. O que, claro, também é um grande paradoxo - afinal, não há meios de desfrutar das benesses do heroísmo estando morto.

Proponho um exercício mental de vidência.

O que Kurt Cobain estaria fazendo hoje se não tivesse estourado seus miolos em 1994? É bem difícil imaginar, mas uma coisa é certa: ele não seria o mito que é hoje. Dificilmente teria mantido a verve que o moveu nos tempos de Nirvana; talvez não soubesse lidar com a "morte" do grunge; quem sabe não estivesse por aí tentando sobreviver de migalhas do seu passado de sucesso. Pode ser também que ele se tornasse um velho rabugento e decadente, porém digno, mas... vai saber.

Da mesma forma, imaginemos outros ícones eternos que já se foram: Jim Morrison (já imaginou o rei lagarto fazendo show em... Ribeirão Preto?), Janis Joplin, Jimi Hendrix, John Lennon... Sabe lá o que viria desses aí. Mas como já se foram, hoje são todos idolatrados, adorados, exaltados. Em alguns casos de forma exagerada, até.

Agora, vamos pegar o caminho inverso. E os grandes gênios ainda vivos?

Paul McCartney está em plena forma, segue fazendo grandes turnês e é respeitadíssimo por conseguir manter sua coerência artística durante tanto tempo (sendo um ex-beatle até eu, mas essa é outra história). Madonna é outro caso. Está aí firme e forte, com seu público sempre fiel. Mas... ambos vivem às voltas com escândalos, têm suas vidas brutalmente expostas de forma incansável. Tem outros nessa lista aí: Iggy Pop, Stones, U2...

O passar do tempo torna qualquer herói terrivelmente humano. Com a exposição massiva na mídia, então...

O que, é claro, não acontece com os mortos. Quando algum biógrafo ou documentário explosivo escarafuncha a vida de alguma personalidade morta, o efeito é sempre positivo para a pessoa em questão. Se tal persona fez alguma cagada em vida que é finalmente revelada, o erro acaba sempre justificando as atitudes do ídolo, ou, na pior das hipóteses, se tornam base para um lamento tardio: "ah, ele se entupia de drogas e batia na mulher, mas já morreu, tadinho..."

Os exemplos são infinitos.

Pelé: o maior gênio do futebol mundial hoje é conhecido pela alta capacidade de falar merda. Juro que é com certa dose de vergonha alheia que vejo especialistas renomados se referirem a ele como o maior jogador de todos os tempos. Já pensou se ele morresse logo depois da conquista do tri, em 1970? Ou depois de fazer o gol 1000? Minha nossa senhora.

Ayrton Senna? Ícone eterno do esporte brasileiro, mesmo sendo piloto de F-1, que, como todos sabemos, é mesmo modalidade esportiva (esporte?) das mais populares no país, com milhares de praticantes. E se estivesse vivo? Os reflexos de seu gosto indiscriminado por loiras talvez tivesse superado as façanhas na pista...

Sem falar na genialidade do Tim Maia e no senso de inovação e alegria constante dos meninos do Mamonas Assassinas...

A coisa se estende também aos não famosos. Quantos anônimos não emprestam suas mortes para que se tornem exemplos e lições de vida? Menina Isabella, menino João Hélio, menina Eloá...

Nelson Rodrigues certa vez deu um conselho aos jovens: "envelheçam!" Pois eu digo: morram. Às vezes, pode ser uma boa.

Entende?

Entendo.

15 de fevereiro de 2011

Luís no país do futebol

Antes de começar, é importante dizer: eu entendo muito pouco de futebol.

Mesmo assim, não consigo ficar calado diante de todo frisson causado pela despedida do Ronaldo.

O cara merece? Sem dúvida. Jamais questionarei isso. Que menino, quando criança, nunca se imaginou em uma final de copa dando a vitória ao Brasil? Pois é, o Ronaldo fez isso na vida real, em 2002, marcando DOIS gols.

Vá ao Youtube e procure por gols do Ronaldo, principalmente no Real Madri e Barcelona. São jogadas impressionantes. Enfim, seus feitos no futebol estão documentados, reconhecidos e são inquestionáveis.

O que dá para questionar é uma certa "mentalidade de rebanho" que acompanha qualquer grande evento de ampla repercussão. Como a aposentadoria do Ronaldo. Em tempos de Twitter, Facebook e afins, é sempre bonito expor sua opinião, neste caso, de forma favorável ao Ronaldo. Mostra que você conhece do assunto, está ligado, e lamentar a aposentadoria do Fenômeno revela o quanto o futebol é importante para você.

Ou seja: ir ao Twitter e digitar #prasemprefenomeno é nada mais nada menos que entrar em uma tribo, uma tribo gigantesca, e ser automaticamente aceito por ela.

Um dos argumentos que justifica todo o oba-oba em torno de Ronaldo é a história da "Geração Ronaldo", que recai no bom e velho "é o maior que vi jogar". Me desculpem, mas eu não posso dizer isso. Não quero ser chato, mas o auge do Ronaldo foi na Europa, e eu nunca tive TV por assinatura ou pay-per-view para acompanhar os jogos do PSV, Real Madri, Barcelona, Inter e Milão e Milan.

Mesmo que tivesse acesso aos jogos, seria difícil assisti-los se eles rivalizassem com as partidas do Corinthians: é que eu sou corintiano, e prefiro ver qualquer jogo do meu time preferido do que de qualquer outra equipe. Eu sinto muito, o Ronaldo pode até figurar entre "os maiores que vi jogar", mas fica longe do topo da lista. Para mim, eles são Neto, Ronaldo (goleiro), Marcelinho Carioca, Viola.

Jogadores, este sim, que eu via sempre jogar. Jogos inteiros, e não só os gols do Fantástico. Em algumas oportunidades, até chorei com eles. Juntos, eles não pagam a meia que o Ronaldo usa, e este é o ponto. Mal comparando, Ronaldo é como o guitarrista virtuoso, técnico, um estouro no palco, não erra uma nota, leva a multidão à loucura com seus solos imbatíveis. Meus ídolos são aqueles músicos medianos, mas que tocam na banda que eu gosto. A que mais me agrada. Fazer o quê?

Outra coisa: é muito comum analisarem a passagem do Ronaldo pelo Corinthians com os olhos no passado dele. No Timão, ele foi brilhante por um semestre, e levou o time ao título paulista e da Copa do Brasil de 2009. Não é pouco, não mesmo; mas também não é tanto se levarmos em conta que ele jogou duas temporadas inteiras na equipe e ainda mais, afinal, que ele é um "Fenômeno".

No fim das contas, acho que é este poder de aglutinar tantas opiniões positivas a seu respeito que formam grandes ídolos. Ou o contrário, tanto faz.

Antes de me xingar, lembrem-se: eu entendo muito pouco de futebol.

13 de janeiro de 2011

Naturebas anônimos

Começou há uns dois anos, quando decidi que precisaria emagrecer: uma vitamina no café da manhã, um prato de alface antes do almoço, pão integral com queijo branco e peito de peru na janta.

Mas eu ainda tinha força de vontade, e alternava comidas de gente normal entre um ou outro trago do ópio da vida saudável: a feijoada no fim de semana era um oásis; qualquer coisa virava desculpa para aquele happy hour regado a cerveja e porções, quaisquer que fossem, desde que viessem encharcadas em gordura; o chocolate na gôndola do mercado não passava incólume.

Mas... o vício me tomou. E ao despertar de cada noitada no boteco era sempre invadido por uma vontade incontrolável de atacar uma bela tigela de banana com aveia. A coisa evoluiu a ponto de conhecer todas as principais bocas da cidade: Ponto do Açaí, Sibipiruna, Casa do Açaí, Laranja Lima, Mundo Light (filiais no Mercadão e Bernardino de Campos).

Ao cruzar os quiosques do Mercadão, antes eu só tinha olhos para queijos e doces caseiros. Agora, só consigo enxergar castanhas e frutas secas.

E o que começou com um simples alface, por influência dos amigos, acabou em substâncias bem mais pesadas: óleo de coco, linhaça dourada, quinua, sementes de girassol e, pasmem, barrinhas de gergelim. É, eu embarquei em todas essas.

Nenhum natureba resiste

Nas festas de fim de ano eu tentei um tratamento de choque. Achei que a época me favoreceria. Troquei as duas fatias médias de pão integral com duas pontas de manteiga sem sal do café da manhã por uma fatia generosa de chocotone; a cerveja voltou a circular abundante pela minha corrente sanguínea, e as frutas, só se fossem as cristalizadas do panetone ou as enlatadas na decoração do tender.

Tudo ia bem. Já podia sentir de novo o excesso de glicose nas minhas artérias, e os músculos definhando para dar lugar a porções recém-criadas de tecido adiposo. Até que nesta semana resolvi ir à feira para um teste final: passar indiferente às barracas para saborear aquele pastel frito na hora, pingando óleo.

Foi um erro. Não resisti ao jiló (estão uma beleza nessa época!), à cenoura, ao pimentão; às bananas, mangas e ao alface (o preço maior por causa das chuvas não é nada - a gente vende um relógio e está tudo certo). E o almeirão, então?

Enchi a sacola. O pastel? No fim do ano, talvez.

30 de dezembro de 2010

Pelos caminhos do Google

Quando mudei o nome deste blog, queria algo que soasse menos pretensioso e, também, menos afrescalhado que o anterior (but not in love). Alguma coisa que casasse com o slogan e que também tivesse a ver com comida - mal sabia eu, na época, que faria um outro blog, o Teste Cego, só com esta finalidade.

Enfim. Foi assim que surgiu o validade vencida.

Acontece que a mudança gerou um efeito colateral: uma horda de gente estranha que cai aqui procurando coisas bizarras no Google. Graças ao Google Analytics, ferramenta gratuita que mede estatísticas de blogs e sites (que eu recomendo altamente) e é mais confiável que o medidor do Blogger, dá para saber exatamente o que atrai esse pessoal todo.

Como não posso ignorar meu público, resolvi ajudá-los, respondendo alguns termos que as pessoas TIVERAM O TRABALHO de digitar no Google e, vejam só, encontraram meu blog como resposta.

"pode sibutramina vencida?" - melhor não, amigo (a). A Anvisa já proibiu a venda do produto dentro do prazo de validade, imagine fora. Toma vergonha na cara, fecha a boca e vai dar uma corridinha, vai.

"pode tomar cerveja skol vencida há um mês?" - não recomendo tomar Skol em nenhuma circunstância. Mas cada um, cada um, então vai fundo: aproveita e deixa ela quente e sem gás também, talvez melhore um pouco.

"posso ir para a argentina com identidade vencida de ônibus" - identidade vencida? Que merda é essa?

"qual é o problema de comer frango com validade vencida?" - sinceramente? Acho que o máximo que pode acontecer é uma baita de uma dor de barriga. Mas só acho. Deixa a carteirinha da Unimed aí do lado, só pra garantir, e manda ver.

"tenha um bom dia" - obrigado, você também.

"ribeirão preto opções para jantar de segunda-feira" - eu juro que não me lembro de ter saído para jantar numa segunda-feira em Ribeirão Preto. Muito menos de ter falado sobre isso no blog.

"qual a melhor cerveja brahma, skol ou antarctica" - rá! Esse eu ajudei de verdade. Mas não é nenhuma das três. É Itaipava, já disse.

"sua validade ta vencida te exclui da minha vida ja tem outro em seu lugar letra" - que beleza!

"trocadilhos pífios" - finalmente, uma bola dentro do Google. Trocadilho pífio é comigo mesmo. Esse aí encontrou o que queria.

28 de dezembro de 2010

Compras

Ah, o consumo.

É bem sabido que o ato de comprar certas vezes é bem mais prazeroso que utilizar o próprio objeto comprado, e enquanto não inventarem uma droga que não mate ou engorde, é assim que vamos: às compras.

Fim de ano é sempre aquela coisa, e antes de continuar eu já quero dizer que é claro que eu gosto de fazer compras. Acontece que eu me meti em uma família (no melhor sentido possível, gente) onde no Natal é tradição máxima trocar presentes. E o pessoal não está muito disposto a simplesmente entrar no shopping, olhar e comprar. Ainda mais quando tem mulher no meio, meu amigo.

Não, não. Tem de pesquisar, ir até os lugares mais baratos (mesmo que isso inclua ter de se deslocar alguns quilômetros), olhar no concorrente, ver na internet, voltar para aquela loja na esquina onde a vendedora era mais atenciosa... A coisa toda dura meses, e tem requintes de um grande evento.

Eu já acompanhei várias dessas jornadas. Elas sempre duram horas, e invariavelmente termina comigo e meu cunhado emburrados sentados em um banqunho qualquer, com sacolas na mão, esperando minha mulher/namorada dele, minha cunhada e minha sogra/mãe dele saírem de mais uma loja e entrarem em outra para dizerem "agora é sério, é só mais essa".

Meu sogro, já calejado, trata de inventar uma desculpa qualquer e fica em casa. Chego a supor que o grande motivo dele ter tido um filho e deixado sua filha casar comigo seja esse: ter alguém para levar a turma às compras para poder descansar.

Bom, baseado em algumas dessas experiências, desenvolvi uma espécie de manual sobre o comportamento feminino diante de determinados produtos. Vale dizer que eu continuo sem entender muita coisa, e isso tudo não tem propósito algum, a não ser, quem sabe, preparar algumas almas masculinas para a próxima temporada de compras.

Sapatos - cara, não dá pra entender a fixação das mulheres por sapatos. Tem sapato para trabalhar, sapato para o dia a dia, sapato para ficar em casa, sapato para sair de manhã, sapato para sair ao pôr do sol, sapato para ir no restaurante japonês. E, para cada categoria, elas têm que ter uns 15 pares diferentes. Duro é achar. Minha mulher mesmo diz que o pé dela é "alto". Então os modelos A, B, C, D, E e F não servem. Mas se for o A, com a forma do F, na numeração 35, e se for de couro, talvez dê certo. Ah, mas está caro. Na outra loja tem o modelo D 34 de vinil com saltinho baixo que ficou legal e está em promoção. Aí ela acaba levando o modelo Z, que ela achou na loja Y, para no dia seguinte dizer: "puxa, eu realmente deveria ter levado aquele de couro..."

Roupas - a calça fica boa na cintura, mas apertada na perna. Opa, tá boa na perna, mas não entra na cintura. Outro modelo? "Não tem mais, moça, acabou tudo ontem. Mas tem essa com o tecido mais macio, e outra modelagem, pode ser que sirva." Ficou ótimo! Mas é caro. O marido, é claro, acaba convencido porque vai ficar PER-FEI-TO com aquela blusinha que ela ainda vai comprar...

Bijouterias - em um grande shopping de bijouterias em Limeira, cometi o deslize de dizer que não entendia os critérios da minha mulher para comprar tais ornamentos. Ela, então, diante de um grande mostruário de colares, me pediu: "diz aí, qual você compraria para mim?" Desespero total. Suor. Ela ficou irredutível. Apontei para um modelo mais simples, ela fez uma cara de muchocho, não desaprovou mas também não morreu de amores. Deve ter sido gentil. Mais para frente, nos deparamos com um modelo bem parecido, de outra loja: "AI QUE LINDO!" Desisto.

Presentes para minha família - por mim, tudo se resolveria com DVDs e livros. Ou, melhor ainda, vale-presentes. Mas não, imagine, que falta de sensibilidade. Aí toca ver alguma coisa para as quatro irmãs (que agrade a todas e que, ao mesmo tempo, seja igual para evitar crises de inveja), algo diferente para minha mãe (mas não tão diferente assim para que as irmãs não vejam um grande beneficiamento), qualquer coisa para os cunhados (é só não repetir o que foi dado no ano passado, eles nem ligam) e algo para os sobrinhos. Bem medido, porque eles ainda podem não saber quantificar crises de inveja, mas seus pais sabem. Eu adoro minha família.

14 de dezembro de 2010

Mario é o cara

Eu devia ter uns 10 anos quando conheci o Mario, e não foi atrás do armário (pronto, já foi a piada!). Foi no chamado Nintendinho, console da Nintendo com 8 bits, espécie de "passo adiante" em relação ao Atari.

O jogo era o Super Mario Bros., e consistia basicamente em levar um carinha bigodudo a pular sobre inimigos e obstáculos por fases e mundos para matar o Bowser, seus filhos, e resgatar a princesa.

Alguns anos depois, em um dia obscuro de novembro, minha cachorra foi atropelada. E minha mãe, para diminuir minha angústia infantil e reduzir as chances de eu me tornar um adolescente-problema, resolveu antecipar meu presente de Natal daquele ano, que já estava comprado do Paraguai: um Super Nintendo. Que vinha com dois controles e um jogo: Super Mario World.

Para encurtar a história, foi o jogo que me fez ficar de recuperação em umas três matérias na quinta série, e que certamente levou minha mãe a se arrepender por tê-lo comprado. Mario é um droga, e meu vício começava ali.

Com o tempo, porém, meu interesse pelo videogame diminuiu, eu comecei a trabalhar e não ter mais tanto tempo e dinheiro para esses luxos. Até que me casei. E decidimos, eu e minha mulher, investir em videogame: é entretenimento para a família, afinal de contas.

A escolha, é claro, foi pela Nintendo. Tá, todo mundo sabe que o Xbox ou o PS3 são melhores. Mas eles não têm a franquia Mario (nem Donkey Kong, mas essa é outra história). Então fomos direto no Wii, que além de embutir o padrão Nintendo de diversão, permite simular atividades esportivas com os movimentos do controle e aquela coisa toda.

E assim nossa vida seguiu, com um Guitar Hero aqui, um Beatles Rock Band ali, um Mario Kart acolá, boliche de vez em quando. Até que o New Super Mario Bros Wii surgiu. E meu dedão da mão esquerda voltou a ter calos.

Antes de mais nada, vale dizer que não é apenas um jogo. É uma homenagem. Uma grande homenagem aos fãs da Nintendo, do Mario e, principalmente, aos fãs da diversão eletrônica. É espetacular, sensacional e, em alguns momentos, de fato me deixou boquiaberto (não leve como parâmetro: eu sou meio bobo mesmo).

Tem que jogar. Vale dizer que o New Super Mario Bros. do Wii é a evolução direta do Mario Bros. do Nintendinho. Esqueça, então, a onda 3D do Mario 64 ou do Mario Galaxy (nada contra, mas essas coisas me deixam meio tonto, sério). É 2D na veia, mano. Telona chapada, fase começa do lado esquerdo, termina do direito. Simples assim.

Nem tanto, na verdade. Não queria ficar aqui resenhando o jogo, mas vamos lá: a jogabilidade é um personagem à parte. Você usa o direcional, dois botões e uma chacoalhadinha no controle. Com isso tudo junto e misturado, ou não, consegue botar o Mario para correr, voar, se agarrar em paredes, girar e "segurar" o pulo no ar, segurar coisas (e pessoas), dar um salto triplo para pular mais alto...

Juro que não vou nem falar do capacete-helicóptero e, principalmente, do pinguim. Da possibilidade de jogar com quatro jogadores NA MESMA FASE. Dos inimigos que fazem coreografias de acordo com a trilha sonora (cara, isso é DEMAIS). Do guia de ajuda quando você morre mais de oito vidas na mesma fase. Ou dos "hint movies", que te mostram como é que se joga de verdade. Seria muita humilhação.

O jogo também incorpora movimentos do Yoshi's Island, que é simplesmente o game mais subestimado da história da Nintendo (é uma espécie de Super Mario World 2, só que muito melhor). Quando eu peguei o Yoshi pela primeira vez e vi que ele podia "voar", meus olhos se encheram de lágrimas (se ele botasse ovos para depois atirá-los, eu seria capaz de correr nu pela rua, tamanha seria minha alegria).

Ao mesmo tempo em que evolui, o jogo mantém tudo o que o transformou em um ícone mundial, não só dos games, mas da cultura pop: saídas secretas, lugares escondidos, o mesmo esquema de fases e mundos, os castelos, os chefões, o enredo...

Tudo para dizer o seguinte: Red Dead Detemption, GTA, Warcraft, Gran Turismo, Winning Eleven, Fifa, Guitar Hero... Sim, tudo muito legal, mas para mim não há o que supere Mario. Os concorrentes têm que comer bastante feijão. Ou um cogumelo vermelho, quem sabe...

30 de novembro de 2010

Sujeira

Dia desses aí pra trás, eu fui fazer uma matéria sobre o lançamento de um carro. Nunca tinha feito esse tipo de cobertura antes, mas sabia que esses eventos eram cheios de pompa e circunstância. De vários colegas com quem já trabalhei, cansei de ouvir histórias sobre viagens até para cidades da Europa (teve um que bateu um carrão num test drive em Barcelona). Enfim.

Fui escalado, aceitei o convite e fui, todo serelepe.

O evento foi em Foz do Iguaçu. Saí de Ribeirão Preto em uma segunda-feira à noite, fui de avião até São Paulo. Me hospedaram em um hotel onde a diária custa R$ 315. Ao chegar lá, fui recebido por dois funcionários da montadora que estava lançando o carro. Me ajudaram com o check-in e disseram para eu ficar à vontade para descer e jantar. Assim o fiz. Era um buffet: comi uma saladinha, um macarrãozinho e um peixinho esperto. Tomei uma água. Como já passava das 22h, me controlei para evitar a pedreiragem.

Depois que comi, um funcionário do hotel me pediu para assinar a nota, "só para controle": o jantar havia custado R$ 65. No dia seguinte, de manhãzinha, toca para Foz (a viagem Ribeirão-Foz, com conexão em Guarulhos, sai por R$ 630). Antes, o check-out: como havia consumido uma água no frigobar, mais R$ 4,50 na conta da montadora.

Chegando em Foz, um belo café da manhã nos esperava no aeroporto. Todos os jornalistas (exatamente 27, de todo o País) chegaram mais ou menos no mesmo horário. Uma sala foi reservada para um breve briefing a fim de explicar o que seria todo o evento e, principalmente, o test-drive do carro, que seria dali a pouco.

Saímos do aeroporto e pegamos o carro, em duplas. Tínhamos que chegar ao restaurante em Puerto Iguazu, cidade argentina que faz fronteira com Foz. No meio do caminho, uma parada para a troca de motoristas. Neste ponto, mais comida: empanadas argentinas, medialunas (croissants), bolos, refrigerante, café... Não eram nem 12h e eu já tinha feito quatro refeições: café no hotel em São Paulo, café no avião, café no aeroporto em Foz e "lanche da manhã" em um lugar perdido de uma estrada na Argentina. Que beleza.

Lá pelas 13h30, chegamos no tal restaurante. Tínhamos duas opções de prato principal, carne ou peixe. Escolhi (eu e toda a mesa onde estava sentado) a carne. Um bife de chorizo que devia ter, sei lá, uns 400g. Sendo uns 30% de sangue. Para a sobremesa também eram duas opções: umas tais "frutas selvagens" (nada mais que frutas da mata local, que encontramos em qualquer feira aqui no Brasil) ou o "duo de chocolate" (mousse de chocolate com sorvete de chocolate branco). Adivinhem só qual foi a mais popular.

Não perguntei os preços dos pratos, mas uma consulta rápida em guias da internet me mostrou que um prato lá custa, em média, R$ 30. Mais a entrada, sobremesa e bebidas... Bota aí uns R$ 70 por cabeça.

Aí fomos ao hotel em Puerto Iguazu onde seria a coletiva de imprensa, o jantar e onde dormiríamos naquela noite. A diária? Acho que R$ 390, pesquisando no site não tenho certeza de qual foi o tipo de quarto em que eles me puseram. Mas é no mínimo isso. O hotel é cinco estrelas e fica no meio do mato, a 15 minutos das cataratas. No Brasil, acho que a construção dele teria violado umas 585 leis ambientais.

Na cama, tinha uma camiseta com o logo da montadora e do carro e uma cartinha: "Sua presença é muito importante, blá blá blá, fique à vontade para usar essa camiseta na coletiva e no jantar". Na hora, pensei: "Que ridículo, quem vai usar isso?"

Alguns minutos depois, na coletiva, do grupo de 27 jornalistas, pelo menos metade usava. Sei lá, mas eu achei muito constrangedor. Tudo bem que os caras pagaram tudo pra você estar ali, mas acho que não precisa, literalmente, VESTIR A CAMISA. Né? Sobre isso, falamos mais abaixo.

Na coletiva, cada um ganhou seu bloquinho, sua caneta e um pen-drive (4gb de capacidade total; 300mb utilizados - VOCÊS OUVIRAM ISSO?) com fotos e textos sobre o carro. É o kit "agrada jornalista". Você pode pagar jantar, passagem de avião e hotel cinco estrelas, mas se não tiver bloquinho e caneta...

Bom, aí fomos ao jantar. Tudo muito chique - com exceção, é claro, das camisetas que uniformizavam o salão. Coquetel, entrada, e vinho. Muito vinho. Eu, muito burro, não gravei o rótulo. E, depois de umas três taças, isso não seria possível nem mesmo se eu quisesse.

A entrada era... juro que não lembro. Imperdoável. O prato principal podíamos escolher entre duas opções: lombo ao molho de cerveja preta e purê ou ave enrolada na panceta (não se engane: é o popular medalhão de frango com bacon, só que mais chique) com risoto de amêndoas. Pensando agora eu não sei porquê, mas fui na segunda opção. Estava bom, de qualquer forma. De sobremesa, panqueca de doce de leite ou frutas com sorvete de coco. Fui nas frutas - o sorvete estava espetacular, aliás.

Infelizmente, não faço ideia do quanto custaria individualmente esse jantar. No dia seguinte, depois do café da manhã, estava programado um passeio por um tal de Duty Free Shop - é como um free shop de aeroporto, só que não fica no aeroporto. É bem pequeno, e as coisas não eram muito baratas. Preferia ter ido ver as cataratas. No ônibus que nos levou até lá, tinha uma mochila em cada banco - mais um presente da montadora. O indefectível logo cravado e mais uma cartinha de agradecimento.

Aeroporto de Foz, Guarulhos, Ribeirão. Ufa.

Algumas considerações.

Só comigo, pelo que consegui mais ou menos mensurar, gastaram R$ 2,1 mil). Isso exclui os gastos com o jantar; brindes (bloquinho, camiseta, mochila etc.); transporte de ônibus até o free shop; seguro do carro; gasto com pessoal de apoio (era muita gente) etc.

Junto comigo, foram mais 26 jornalistas. O lançamento foi dividido em três dias; cada um deles com 30 jornalistas, em média. Galera de todo o Brasil, é bom que se diga. Vamos supor que fossem todos de Ribeirão Preto: a montadora teria gasto, no mínimo, R$ 189 mil.

É um cálculo bem inocente, claro. Foi muito mais do que isso, e eu nem consigo imaginar quanto (enquanto estava bêbado, perguntei para a assessora de imprensa quanto tudo havia custado; ela riu e disse: "ih, isso tem que perguntar pro meu chefe". Sei...)

Aí vamos a outra questão: o carro custa cerca de R$ 80 mil. Então, basta vender três unidades que tá mais do que pago. Compensa? Claro que compensa!

Simplesmente porque nenhuma forma de publicidade é mais eficiente do que o jornalismo. Ou alguém acha que tinha alguém lá pra fazer jornalismo? É um acordo tácito, e ninguém fala sobre isso, mas todo mundo sabe: a empresa gasta mundos e fundos para agradar os coleguinhas, que em troca vão falar de seu produto. E não precisa nem falar bem, basta apenas FALAR.

De uma forma ou de outra, o produto estará na mídia, sendo visto, e a não ser que ele tenha uma peça autoexplosiva ou explore o trabalho de crianças cegas e amputadas em sua fabricação, a exposição será sempre positiva.

É muito mais eficiente, por exemplo, que a publicidade "direta" - as propagandas em TV, jornais, revistas e grandes portais. Porque dessa forma a empresa acaba gastando bem mais sem a certeza de que vai atingir e seduzir o público.

Os caras do marketing da montadora sabem disso, o presidente da empresa sabe disso, a assessora de imprensa com sorriso maroto sabe disso. Os leitores, consumidores de notícias, é que não sabem, coitados. E acabam comprando como "jornalismo" o que na verdade é a reprodução amplificada, pelos veículos de comunicação, de peças de divulgação criadas pelas empresas. Cada um à sua maneira, com um filtro aqui e outro ali, mas ainda assim, a mensagem inicial da montadora vai estar ali. Bastante eficiente, e porque não dizer, perspicaz.

Os jornalistas são só marionetes no processo. Alguns sabem dessa condição, e simplesmente topam participar do teatro. OK, dá para respeitar. Mas alguns não fazem ideia do que se passa. E aí eu ouço coisas como "ah, vou falar na minha matéria que o carro já foi lançado na Europa faz dois anos, isso eles não colocam no release!" É isso aí, campeão! Bote a boca no trombone! Mude o mundo! E, de quebra, tente aliviar sua culpa por ter comido, bebido e curtido uma jacuzzi de graça.

Mas não esqueça de tirar a camiseta, por favor. É que de vez em quando suja, e precisa lavar.

22 de novembro de 2010

Maus

Estou longe de ser um fã de quadrinhos. Quer dizer, gosto bastante de quadrinhos, mas na minha infância/adolescência só lia mesmo gibi da Turma da Mônica. Nunca tive saco para ler os super-heróis. Tampouco sei a diferença entre Marvel e DC Comics.

Hoje, minha paixão pelos quadrinhos basicamente se resume aos sites de alguns malucos que publicam suas tirinhas por aí (olha no menu "de passar mal" aí do lado pra vocês terem uma ideia).

Existe uma discussão toda séria sobre a subestimação dos quadrinhos - para alguns que trabalham com essa forma de expressão, eles se enquadrariam em uma categoria própria de arte, assim como o cinema e a literatura. Para esses aí, falar que quadrinho se reume a gibi ou coisa de criança, como prega o senso comum, chega a ser ofensa.

Quando morei em Jundiaí, logo no início de minha estada na cidade, dividi o apartamento com um colega que tinha alguns quadrinhos diferentes, maiores - são as chamadas graphic novels. Como ele não tinha televisão nem computador, esses livros eram o meu único passatempo quando eu chegava do trabalho.

Desde quando comecei a morar lá, notei um livro bem peculiar. O título era "Maus", e ele tinha o desenho de uma suástica na capa. Na hora, pensei: "Ih, deve ser essas coisas de violência. Tô a fim não." Um dia, porém, esgotadas todas as possibilidades de leitura naquela casa, não teve jeito. Fui ao "Maus".

Na primeira noite, parei de ler às 4h da madrugada. E só porque precisava realmente dormir. Na segunda noite, terminei de ler o livro às 3h. Minha vida tinha mudado um pouquinho. Fiquei por um tempo meio que pensando: começo a reler agora ou espero até amanhã?

"Maus" (a palavra não é tradução; significa "ratos" em alemão) é de um cara chamado Art Spiegelman. Ele é judeu. O livro conta a história de sobrevivência dos pais dele na 2ª Guerra pelos campos de concentração nazistas. "Ih, mais uma história de holocausto! Já tô cheio disso! Coisa chata, Luís!" É, eu pensei isso quando li a orelha do livro também.

Mas Spiegelman usa recursos interessantes na sua história: desenha os judeus como ratos, os alemães como gatos, os poloneses como porcos e os americanos como cachorros. E enquanto reproduz os relatos impressionantes e assustadores de seu pai, retrata também os diálogos que tem como ele para a produção do livro, as brigas, a culpa que sente pelo suicídio da mãe.

Dessa forma, logo depois de um quadrinho onde o pai de Spiegelman aparece pisando sobre cadáveres para ir ao banheiro em Auschwitz, vem um onde ele, nos dias atuais, aparece reclamando do preço da caixa de cereais. É irresistível.

Na semana passada, durante uma crise de enxaqueca que me acordou na madrugada, li "Maus" pela terceira vez. Os efeitos do livro são assustadores. É foda demais, não dá pra definir melhor.

Spiegelman, que ganhou um Pulitzer com a obra e hoje é editor da revista New Yorker, já recusou "N" convites para adaptar "Maus" ao cinema e à TV. Melhor assim: que ele continue imortalizado no gibi.

4 de novembro de 2010

O Curupira e o mistério do savacu

Quem me conhece bem sabe desta história: no ensino médio, eu gostava bastante de biologia. Na hora de escolher o curso da faculdade, eu cogitava essa área, mas como era (era?) meio bobão pensava: "o que diabos vou fazer com diploma de biologia? dar aulas? tô fora!"

Eu queria uma profissão "de verdade". E aí caí no jornalismo, o limbo daqueles que gostam de história, geografia e de ler. Hoje, estou aqui. Não posso dizer que me arrependo por completo, mas depois de descobrir que podia desenvolver carreira acadêmica, fazer pesquisas ou trabalhar em ONGs que cuidam de tartarugas marinhas, sempre bate uma ideia de "putz, e se eu tivesse feito biologia..."

Como todo frustrado, tento preencher o espaço aberto pelo sonho não realizado das mais diversas formas. Neste caso específico, a principal delas é assistindo documentários sobre a vida animal. Sério, eu sou alucinado por essas coisas. O ciclo reprodutivo do salmão, a batalha dos pinguins imperadores para criar seus filhotes e a emboscada dos crocodilos na caça aos gnus já se tornaram clichês para mim, mas mesmo assim eu nunca dispenso boas imagens do reino animal.

Dia desses, no Curupira, em Ribeirão Preto, notei um pássaro diferente. Sinceramente, não sei dizer se ele já estava lá antes. Faz bem mais de um ano que eu frequento assiduamente o lugar. Contei seis indivíduos da espécie (posteriormente, descobri que são sete - um é jovem, com a penugem diferente).

Já sabia que o Curupira tinha uma família de quero-queros (que, aliás, está prestes a aumentar) e uma garça branca, além de vários outros pássaros menores. Mas igual aquele eu nunca tinha visto. É cinza, tem os olhos vermelhos e um diferencial inconfundível: uma pena branca, alongada, na cabeça. Seu corpo é compacto, a penugem lisa, e não fosse pelas longas pernas e asas, passaria fácil fácil por um pinguim.


Não contente em atormentar minha curiosidade, um deles começou a me provocar. É aparentemente o maior deles, o macho alfa ou coisa do tipo. Passou a se exibir sobre uma pedra naquele lago maior da parte central do parque, e posso jurar que certa vez me encarou e soltou um grunhido, abafado pelas guitarras do Black Rebel Motorcycle Club no meu fone de ouvido.

Um belo dia, munido de minha imponente máquina fotográfica, resolvi registrar um pouco mais dos hábitos desta intrigante ave. Pela manhã, ela vai nos lagos do Curupira em busca de peixes. E haja paciência. Olha, entra na água, brinca de estátua, voa de uma margem para outra e demora pacas para pegar um singelo peixe. Seus ancestrais devem ser praticantes do zen-budismo. E adoram um sashimi.


Embora tenha uma vasta experiência com documentários, jamais vira aquela ave no Discovery, National Geographic ou Animal Planet. Recorri ao oráculo de nossos tempos: o Google. Digitei "pássaro cinza com pena branca alongada na cabeça", mas não obtive sucesso.

Conheci, no entanto, o site Wiki Aves - acredito que o nome seja autoexplicativo. Mas lá também era impossível encontrar o pássaro, diante de tantas opções e tão poucas informações que eu tinha a respeito de meu objeto de admiração. A solução foi enviar um e-mail para o administrador do site, Reinaldo Guedes. Anexei duas fotos e passei uma descrição básica do bicho.

Alguns dias se passaram, nada de resposta. Animado, cheguei a cogitar que tivesse descoberto, quem sabe?, uma nova espécie. Imaginei o chefe do Wiki Aves abrindo meu e-mail, exclamando um "oh, meu Deus!" e apertando o botão vermelho que aciona a mais alta cúpula zoológica brasileira para uma reunião de urgência. Visualizei a mim mesmo recebendo uma medalha ou coisa que o valha da Sociedade Nacional de Ornitologia.

Não foi o caso. Finalmente, o e-mail foi respondido.

Prezado Luis Fernando,

Trata-se de um savacu:
http://www.wikiaves.com.br/savacu

Atenciosamente,
Reinaldo Guedes


Devo confessar que o tom do e-mail não me agradou: mostra um certo desleixo, como alguém que diz "ora, meu filho, isso é só um savacu! não me encha o saco!" Mas não tive tempo para ficar com raiva. Estava muito feliz por finalmente poder dar um nome ao ponto de interrogação que sobrevoava minha cabeça há tanto tempo.

Eu juro que ali ele acabou de pegar um peixe!

Descobri que o savacu tem hábitos noturnos, também é conhecido por uma série de outros nomes (bem menos trocadilhescos, inclusive) e tem como principal "inimigo" os urubus.

Hoje vou mais tranquilo ao Curupira. Já não tenho aquela ansiedade de antes. Mas sempre que vejo as pessoas caminhando, imersas em seus pensamentos, preocupadas com a conta de luz e o IPVA, preciso me controlar para não cutucá-las e dizer: "ei, sabia que aquilo ali é um savacu?"

A ignorância é a felicidade. É o que dizem.

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Bônus: o Curupira é um lugar estranho. Em que outro ponto da face da terra uma árvore é capaz de atravessar um alambrado? Alguém explica?

26 de outubro de 2010

Um indiferente no reino de Melíndria

Era uma vez um reino muito distante chamado Melíndria.

Os melindrosos viviam em paz e harmonia. Todos eram sempre exageradamente gentis e educados, e ninguém andava pelas ruas imune a um "bom dia, como é especial sua existência para todos à nossa volta" ou a um "uau, que bonita sua roupa! Que roupinha mutcho louca!"

A diversão preferida dos melindrosos era gastar horas na Praça do Elogio Mútuo ou no Self-Promotion Shopping Center. Alguns habitantes, habilidosos com essas coisas de novas tecnologias, tinham até blogs, onde podiam expor, sem muito trabalho, seus cotidianos insignificantes e perfeitamente felizes. Eram devidamente reforçados por comentários incentivadores, jamais questionadores, o que dava à sociedade local uma interessante característica de bem-estar ad infinitum.

Como nem tudo é perfeito, e em toda história há um vilão, um belo dia surgiu em Melíndria um forasteiro, perdido, vindo do condado da Indiferência. Sua morada ficava bem longe do principado da Criticânia ou do reino da Acidézia, mas mesmo assim ele não foi muito recebido.

O rei foi vê-lo e saudou-o com um cordial aperto de mão. "Seja bem-vindo, nobre viajante! Aqui será muito bem tratado! Nos diga, já viste terra mais bela como esta?" No que o forasteiro respondeu: "Não sei". O rei estremeceu e soltou sua mão. A princesa pôs-se a chorar e recolheu-se a seus aposentos. O bobo da corte parou de pular. E todos viram que o aquele homem era diferente.

Os dias se seguiram, com os habitantes de Melíndria reagindo ora com indignação ora com profunda mágoa (sentimento que nunca haviam tido antes) diante das atitudes do forasteiro.

Até que o viajante foi fazer uma visita ao ferreiro. Precisava de uma ferradura, iria finalmente partir dali. "Vieste ao lugar certo! Usamos o mais poderoso metal, para fundir a mais brilhante ferradura! Me diga, o que achas?" Em vez de retribuir com um elogio, o que seria força de hábito a qualquer um ali, o forasteiro soltou um "ih, qualquer coisa aí tá bom".

Teve a cabeça cortada pela mais brilhante espada fundida pelo mais poderoso metal.

Melindre descobrira o ódio. E não permitiria mais visitas.

15 de outubro de 2010

A preposição

Eis que um belo dia, no meu trabalho, me deparei com mais uma chamada de capa.

Aquele quadradinho maldito onde as palavras se espremem.

Naquele, especificamente, eu precisava colocar bastante coisa.

O "apertador" de palavras artificial do programa de diagramação não daria jeito.

Aflito, recorri ao menor dos vocábulos, o pai de todos, unanimidade na primeira verbete de qualquer dicionário: ela, a letra "a".

No caso, para desempenhar o papel de preposição (a letra "a" é uma grande atriz, vocês precisam ver): "A repórter do jornal, taxista tentou vender ponto por R$ 120 mil".

Escândalo! Absurdo! Cortem-no a cabeça!

E eu preocupado com o que iriam pensar do editorial...

9 de outubro de 2010

Das coisas que eu odeio

Eu odeio frases que começam com "bom dia pra você que..." no twitter.

Eu odeio frases que começam com "gente que..." no twitter.

Eu odeio, de verdade e com todas as minhas forças, gente que escreve "ri alto" ou "ri litros", no twitter ou em qualquer lugar da face da Terra.

Eu odeio gente que, durante gols em jogos de futebol que passam na Globo, vão lá e tuítam: "gooooool..." ou, como se fosse muito diferente, "puta golaço".

Eu odeio o uso de verbos no imperativo com a terminação "ão": "leião", "vejão", "corrão". Puta merda, é tão difícil escrever corretamente? Eu ainda acho que esse tipo de coisa vai nos tornar uma nação de idiotas mais do que já somos.

Eu odeio quem dá RT em tuítes em inglês. Muito pior se o tuíte foi escrito por um brasileiro. Vai pros EUA ou Inglaterra, bonitão.

Acho que preciso fazer uma faxina na minha timeline.

7 de outubro de 2010

Nick Drake e bolas de capotão

Nick Drake é esse cara aí embaixo.

Infelizmente, o século 21, sob o signo da banalização, criou uma tendência meio besta de definir tudo e qualquer coisa com o adjetivo "gênio".

Bom, esse cara aí é um. De verdade.

Para resumir, Nick Drake foi um puta de um músico fodido da Inglaterra que lançou três discos espetaculares que foram muito mal recebidos pela crítica e público de sua época. Não soube conviver com a frustração e, ainda não se sabe se intencionalmente ou não, morreu por overdose de antidepressivos aos 26 anos, em 1974.

Como naquela velha história de artistas que só são valorizados após sua morte, hoje o Nick Drake vem sendo cada vez mais lembrado e homenageado. Onze a cada dez artistas cool e indies do mundinho contemporâneo o citam como influência (ele deve se revirar no túmulo por isso).

Mas eu não vou me prolongar muito nisso porque o assunto do post é, na realidade, bolas de capotão.

É que ontem eu comprei uma réplica em tamanho reduzido (isso é redundância?) da Jabulani, a famosa bola da Copa. Tirei R$ 13 do bolso e comprei. Assim, pá-pum. E ganhei um bilhete grátis para uma sessão nostalgia.

Quando era criança, podem acreditar, minha brincadeira preferida era jogar bola. Videogame vinha em segundo lugar, e olhe lá. Eu vivia na rua. Até hoje não sei como minha mãe permitia uma barbaridade daquelas. Enfim.

Eu morava com minha família em um bairro meio classe-média baixa na periferia de Presidente Prudente, megalópole no Oeste Paulista, e de fato acho que éramos, digamos assim, um dos mais "ricos" ali da vizinhança. O que quero dizer é que eu meu pai, quando eu precisava, sempre me dava uma bola de futebol - eu tenho quase certeza que, feitas as devidas correções monetárias, elas eram bem mais baratas que a réplica da Jabulani.

As melhores eram as compradas no Bazar Aquariu's, de couro, onde meus olhos brilhavam ao ler termos como "costuradas à mão", "Fifa approved", "9.5 lbs" ou "official size and weight" (vai entender porque alguns termos eram em português e outros em inglês).

Eram as chamadas "bolas de capotão" - uma espécie intermediária entre a Dente de Leite (de borracha, muito leve, que com pouco tempo de uso ficava oval) e as profissionais (extremamente caras, muito duras e pesadas - uma vez ganhei uma da Topper, usada no Brasileirão de 1990, de Natal!).

Quando novas, assim como um sapato, uma calça jeans ou uma namorada, as bolas são bem desconfortáveis. Até você se acostumar, ela faz o pé arder (como o sapato), não se encaixa (como a calça) e é difícil de controlar (como a namorada). Mas quando você menos espera, lá está ela, macia, na textura ideal, pronta para viajar em chutes inacreditáveis, ser milagrosamente defendida por goleiros usando havaianas como luvas e explodir em traves imaginárias em muros de cimento chapiscado.

Com sorte, o relacionamento com uma bola de capotão pode durar bons meses. A "morte natural" de uma bola acontece depois dela perder os gomos de couro (fica só com a parte do tecido exposta), até que a costura abre e expõe a câmara de ar (fenômeno que eu e meus primos carinhosamente chamávamos de "câncer").

Aí, não tem jeito. Ou você encosta a bola e corre pro Bazar Aquariu's ou simplesmente espera a borracha da câmara de ar, pressionada pela costura, encontrar uma pedra ou espinho qualquer que alivie seu sofrimento.

Tragédias também podem acontecer: eu já perdi bolas atropeladas por caminhões (umas três que eu me lembre, pelo menos); furadas na ponta das lanças do portão da minha casa (era uma ótima bola, em processo de amaciamento ainda, até hoje não me perdoo); na torneira do hidrômetro ou para sempre soterradas nos meandros dos esgotos prudentinos (sério mesmo - se bem que eu acho que o cara que disse que era impossível entrar no bueiro entrou lá quando eu já tinha ido embora e ficou com a bola). Teve uma que um moleque roubou no campinho perto da Igreja. Meu pai conhecia o pai dele e o cara foi devolver, cheio de vergonha.




"Life is but a memory
Happened long ago
Theater full of sadness
For a long forgotten show
Seems so easy
Just to let it go on by
'Til you stop and wonder
Why you never wondered why?"

E isso é tudo o que eu tenho a dizer sobre isso.
(A frase é de Forrest Gump, um cara que conheceu muita gente e participou de muitos eventos históricos importantes. No entanto, não consta que ele tenha tido contato com Nick Drake ou jogado uma pelada com bola de capotão)
 

30 de setembro de 2010

Novidade

Meu novo blog já está no ar.

http://testecego.blogspot.com

Dêem uma olhada. E, se gostarem, divulguem.

24 de setembro de 2010

Porque eu não gosto dos críticos

Vou contar um segredo.

Quando eu tinha acabado de me formar, queria trabalhar com jornalismo musical. Até emplaquei algumas coisinhas nesta área aqui e ali, até que um belo dia a realidade bateu à minha porta e eu caí no jornalismo diário (hoje, sei que foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido).

Numa entrevista recente à revista Piauí, o jornalista e cineasta Luiz Carlos Barreto disse que, antigamente, jornalistas iniciavam a carreira na porta da delegacia. Hoje, o fazem escrevendo resenhas de discos e filmes. É a sentença que exemplifica boa parte do declínio da atividade de jornalista nos dias que correm - e deveria ser levada como um mantra (e um tapa na cara) por boa parte de nossos imberbes coleguinhas.

Nesses dias, eu tô numas de ouvir o "With Teeth", disco do Nine Inch Nails de 2005. Desde aquele ano já gosto do disco, e desde lá venho o ouvindo com certa constância. Mas só agora descobri a música "Beside You in Time", que para mim se juntou a outras (do disco, do NIN e de todos os tempos) como uma das mais fodidas que conheço. Cinco anos depois!



Com outros discos, coisas como essas acontecem o tempo todo. Um barulhinho aqui, outro ali que nunca foram percebidos; ou simplesmente passamos a ouvir determinada música de forma diferente de acordo com nosso humor, estado de espírito ou mudança de visão a respeito das coisas.

Por essas e por outras, me desculpem, mas eu não consigo acreditar que algum ser humano consiga analisar um disco, esmiuçar suas nuances e contextualizá-lo num período histórico-cultural em uma, duas ou, vá lá, três audições. Porque, vocês sabem, o jornalismo é velocidade (ainda mais com a internet, blogs e etc): publicar primeiro é o que vale mais. Conteúdo é o de menos.

O processo todo também é muito injusto com o artista. O cara (dependendo do cara, é evidente) vai lá, escreve as letras, reescreve, elabora a harmonia, os arranjos, às vezes bola um conceito todo fechadinho pro disco, grava, regrava, vai o produtor e amarra tudo: deve ser uma coisa meio desgastante. Repito, pra quem é ARTISTA DE VERDADE.

Aí vai um filho da puta que ganhou o CD de jabá no conforto da sua redação e desce a lenha porque tomou café demais e a gastrite dele gritou. Ou porque levou um pé na bunda da estagiária que estava comendo.

Ou, do contrário: às vezes o cara recebe uma merdinha produzida às pressas para pegar carona no sucesso de alguém que lançou moda, o material vem embrulhado em um belo pacote, com brinde e tudo, fica difícil falar mal.

Sacaram meu ponto? Tudo bem, a crítica tem mesmo que ser subjetiva, mas minha opinião é que essa subjetividade não pode ser "controlada". Você pode ser o crítico mais estudado, íntegro e imparcial do mundo, mas é um ser humano, e qualquer coisa pode influenciar em sua análise.

Inclusive, e principalmente, seu gosto. Infelizmente, muitos críticos, no alto de seus egos, confundem "eu gosto" com "isso é bom" e "não gosto" com "isso é uma merda" e, baseados nisso, fazem suas análises.

Eu mesmo, por exemplo, não gosto de U2. Uma coisinha aqui, outra ali, mas não é uma banda da qual eu compraria (ou baixaria) discos. Não me agrada, ué. Só que eu respeito, e até admiro, pela importância histórica para a música pop, para a indústria do entretenimento e tal.

Não é porque eu não gosto que vou ficar arrumando argumentos para esculachar com os caras. É uma linha muito tênue: muita gente diz "essa música é uma merda", quando o mais correto, ao meu ver, seria dizer "PARA MIM, essa música é uma merda." Faz toda a diferença.

Enfim, falei demais e este é mais um post que ninguém vai ler.

Vou ali ouvir Nine Inch Nails. E procurar uma boa crítica do "With Teeth" para ler.

12 de setembro de 2010

Doença

(...)

"Ser marido é como ter uma doença crônica, mas perfeitamente administrável, uma vez que você esteja ciente de sua condição. (...) Comendo direito, praticando exercícios físicos e tomando alguns outros cuidados para amenizar os sintomas, ninguém poderá apontá-lo no meio da multidão e dizer: lá vai um marido."

"(...) descobrir a doença logo no início é a única forma de evitar a piora do quadro, que pode levar à obesidade, uso de chinelos com meia, surdez eletiva, obsessão por piadas infames, trocadilhos pífios, catatonia e, em alguns casos, ao divórcio."

Sério, todo mundo tem que ler o texto inteiro.

Ouso dizer que Antonio Prata é melhor que o pai dele. Faz tempo.

11 de setembro de 2010

Fábula

Me contaram uma piada:

Um homem vai ao médico. Diz que está deprimido. Que a vida parece dura e cruel.

Conta que se sente só num mundo ameaçador, onde o que se anuncia é vago e incerto.

O médico diz: "O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade esta noite. Vá ao show. Isso deve animar você".

O homem se desfaz em lágrimas.

E diz: "Mas doutor... Eu sou o Pagliacci".

(Alan Moore, "Watchmen", capítulo II, págs. 67-68)