24 de setembro de 2010

Porque eu não gosto dos críticos

Vou contar um segredo.

Quando eu tinha acabado de me formar, queria trabalhar com jornalismo musical. Até emplaquei algumas coisinhas nesta área aqui e ali, até que um belo dia a realidade bateu à minha porta e eu caí no jornalismo diário (hoje, sei que foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido).

Numa entrevista recente à revista Piauí, o jornalista e cineasta Luiz Carlos Barreto disse que, antigamente, jornalistas iniciavam a carreira na porta da delegacia. Hoje, o fazem escrevendo resenhas de discos e filmes. É a sentença que exemplifica boa parte do declínio da atividade de jornalista nos dias que correm - e deveria ser levada como um mantra (e um tapa na cara) por boa parte de nossos imberbes coleguinhas.

Nesses dias, eu tô numas de ouvir o "With Teeth", disco do Nine Inch Nails de 2005. Desde aquele ano já gosto do disco, e desde lá venho o ouvindo com certa constância. Mas só agora descobri a música "Beside You in Time", que para mim se juntou a outras (do disco, do NIN e de todos os tempos) como uma das mais fodidas que conheço. Cinco anos depois!



Com outros discos, coisas como essas acontecem o tempo todo. Um barulhinho aqui, outro ali que nunca foram percebidos; ou simplesmente passamos a ouvir determinada música de forma diferente de acordo com nosso humor, estado de espírito ou mudança de visão a respeito das coisas.

Por essas e por outras, me desculpem, mas eu não consigo acreditar que algum ser humano consiga analisar um disco, esmiuçar suas nuances e contextualizá-lo num período histórico-cultural em uma, duas ou, vá lá, três audições. Porque, vocês sabem, o jornalismo é velocidade (ainda mais com a internet, blogs e etc): publicar primeiro é o que vale mais. Conteúdo é o de menos.

O processo todo também é muito injusto com o artista. O cara (dependendo do cara, é evidente) vai lá, escreve as letras, reescreve, elabora a harmonia, os arranjos, às vezes bola um conceito todo fechadinho pro disco, grava, regrava, vai o produtor e amarra tudo: deve ser uma coisa meio desgastante. Repito, pra quem é ARTISTA DE VERDADE.

Aí vai um filho da puta que ganhou o CD de jabá no conforto da sua redação e desce a lenha porque tomou café demais e a gastrite dele gritou. Ou porque levou um pé na bunda da estagiária que estava comendo.

Ou, do contrário: às vezes o cara recebe uma merdinha produzida às pressas para pegar carona no sucesso de alguém que lançou moda, o material vem embrulhado em um belo pacote, com brinde e tudo, fica difícil falar mal.

Sacaram meu ponto? Tudo bem, a crítica tem mesmo que ser subjetiva, mas minha opinião é que essa subjetividade não pode ser "controlada". Você pode ser o crítico mais estudado, íntegro e imparcial do mundo, mas é um ser humano, e qualquer coisa pode influenciar em sua análise.

Inclusive, e principalmente, seu gosto. Infelizmente, muitos críticos, no alto de seus egos, confundem "eu gosto" com "isso é bom" e "não gosto" com "isso é uma merda" e, baseados nisso, fazem suas análises.

Eu mesmo, por exemplo, não gosto de U2. Uma coisinha aqui, outra ali, mas não é uma banda da qual eu compraria (ou baixaria) discos. Não me agrada, ué. Só que eu respeito, e até admiro, pela importância histórica para a música pop, para a indústria do entretenimento e tal.

Não é porque eu não gosto que vou ficar arrumando argumentos para esculachar com os caras. É uma linha muito tênue: muita gente diz "essa música é uma merda", quando o mais correto, ao meu ver, seria dizer "PARA MIM, essa música é uma merda." Faz toda a diferença.

Enfim, falei demais e este é mais um post que ninguém vai ler.

Vou ali ouvir Nine Inch Nails. E procurar uma boa crítica do "With Teeth" para ler.

6 comentários:

marina aranha disse...

eu não gosto de críticos de nada. mas sempre discuto comigo mesma quando leio a crítica de um filme, por exemplo.
e tô viciada em "consolation prize"!

Fabinho disse...

Quem disse que ninguém vai ler, meu?! Taí, assino em baixo cada linha do seu post. É bem isso mesmo. Independente de escrever resenha ou não, muitas vezes o disco é digerido lá na frente. Depois de ouvi-lo N vezes. Ou acontece o contrário também. No começo você até curte. Depois percebe que é modinha que te pegou de calças curtas.

Luís Fernando disse...

É isso aí mesmo, povo. Na verdade, eu até entendo que os críticos, pela prática, saibam de fato analisar as obras: mas pensar nisso me dá pena deles. Se torna algo automático, né? Eles devem perder a paixão pela música. Aí só gostam mesmo quando aparece alguma coisa muito diferente. Esperto é o artista que saca isso.

Unknown disse...

Críticos são todos uns mal comidos. O negócio é resmungar pra si próprio e poupar o ouvido dos outros.

fabebum disse...

PARA MIM, esse seu texto é uma merda.

Luís Fernando disse...

Fabebum, isso está na descrição do blog, cara. Não se faça de vítima.