Vou contar um segredo.
Quando eu tinha acabado de me formar, queria trabalhar com jornalismo musical. Até emplaquei algumas coisinhas nesta área aqui e ali, até que um belo dia a realidade bateu à minha porta e eu caí no jornalismo diário (hoje, sei que foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido).
Numa entrevista recente à revista Piauí, o jornalista e cineasta Luiz Carlos Barreto disse que, antigamente, jornalistas iniciavam a carreira na porta da delegacia. Hoje, o fazem escrevendo resenhas de discos e filmes. É a sentença que exemplifica boa parte do declínio da atividade de jornalista nos dias que correm - e deveria ser levada como um mantra (e um tapa na cara) por boa parte de nossos imberbes coleguinhas.
Nesses dias, eu tô numas de ouvir o "With Teeth", disco do Nine Inch Nails de 2005. Desde aquele ano já gosto do disco, e desde lá venho o ouvindo com certa constância. Mas só agora descobri a música "Beside You in Time", que para mim se juntou a outras (do disco, do NIN e de todos os tempos) como uma das mais fodidas que conheço. Cinco anos depois!
Com outros discos, coisas como essas acontecem o tempo todo. Um barulhinho aqui, outro ali que nunca foram percebidos; ou simplesmente passamos a ouvir determinada música de forma diferente de acordo com nosso humor, estado de espírito ou mudança de visão a respeito das coisas.
Por essas e por outras, me desculpem, mas eu não consigo acreditar que algum ser humano consiga analisar um disco, esmiuçar suas nuances e contextualizá-lo num período histórico-cultural em uma, duas ou, vá lá, três audições. Porque, vocês sabem, o jornalismo é velocidade (ainda mais com a internet, blogs e etc): publicar primeiro é o que vale mais. Conteúdo é o de menos.
O processo todo também é muito injusto com o artista. O cara (dependendo do cara, é evidente) vai lá, escreve as letras, reescreve, elabora a harmonia, os arranjos, às vezes bola um conceito todo fechadinho pro disco, grava, regrava, vai o produtor e amarra tudo: deve ser uma coisa meio desgastante. Repito, pra quem é ARTISTA DE VERDADE.
Aí vai um filho da puta que ganhou o CD de jabá no conforto da sua redação e desce a lenha porque tomou café demais e a gastrite dele gritou. Ou porque levou um pé na bunda da estagiária que estava comendo.
Ou, do contrário: às vezes o cara recebe uma merdinha produzida às pressas para pegar carona no sucesso de alguém que lançou moda, o material vem embrulhado em um belo pacote, com brinde e tudo, fica difícil falar mal.
Sacaram meu ponto? Tudo bem, a crítica tem mesmo que ser subjetiva, mas minha opinião é que essa subjetividade não pode ser "controlada". Você pode ser o crítico mais estudado, íntegro e imparcial do mundo, mas é um ser humano, e qualquer coisa pode influenciar em sua análise.
Inclusive, e principalmente, seu gosto. Infelizmente, muitos críticos, no alto de seus egos, confundem "eu gosto" com "isso é bom" e "não gosto" com "isso é uma merda" e, baseados nisso, fazem suas análises.
Eu mesmo, por exemplo, não gosto de U2. Uma coisinha aqui, outra ali, mas não é uma banda da qual eu compraria (ou baixaria) discos. Não me agrada, ué. Só que eu respeito, e até admiro, pela importância histórica para a música pop, para a indústria do entretenimento e tal.
Não é porque eu não gosto que vou ficar arrumando argumentos para esculachar com os caras. É uma linha muito tênue: muita gente diz "essa música é uma merda", quando o mais correto, ao meu ver, seria dizer "PARA MIM, essa música é uma merda." Faz toda a diferença.
Enfim, falei demais e este é mais um post que ninguém vai ler.
Vou ali ouvir Nine Inch Nails. E procurar uma boa crítica do "With Teeth" para ler.
24 de setembro de 2010
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6 comentários:
eu não gosto de críticos de nada. mas sempre discuto comigo mesma quando leio a crítica de um filme, por exemplo.
e tô viciada em "consolation prize"!
Quem disse que ninguém vai ler, meu?! Taí, assino em baixo cada linha do seu post. É bem isso mesmo. Independente de escrever resenha ou não, muitas vezes o disco é digerido lá na frente. Depois de ouvi-lo N vezes. Ou acontece o contrário também. No começo você até curte. Depois percebe que é modinha que te pegou de calças curtas.
É isso aí mesmo, povo. Na verdade, eu até entendo que os críticos, pela prática, saibam de fato analisar as obras: mas pensar nisso me dá pena deles. Se torna algo automático, né? Eles devem perder a paixão pela música. Aí só gostam mesmo quando aparece alguma coisa muito diferente. Esperto é o artista que saca isso.
Críticos são todos uns mal comidos. O negócio é resmungar pra si próprio e poupar o ouvido dos outros.
PARA MIM, esse seu texto é uma merda.
Fabebum, isso está na descrição do blog, cara. Não se faça de vítima.
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