Todo jornalista adora o que faz - É um pensamento bem lógico, como um silogismo: "Pessoas trabalham porque gostam ou por dinheiro / Jornalistas ganham pouco e trabalham muito / Logo, jornalistas trabalham porque gostam." Mas, infelizmente, é mentira. A maioria dos jornalistas não faz ideia do que vai encontrar pela frente quando assinala a opção da lista de inscrição do vestibular, e o faz apenas porque acha tudo ligado à profissão muito legal, cool e superbacana. Quem, depois de passar por quatro anos de faculdade, ainda insiste na lida e não arruma marido/mulher ricos, com certeza chega no primeiro dia de trabalho e pensa: "caralho, que merda fui fazer da minha vida?". Esse pensamento vai segui-lo para sempre, simplesmente por preguiça e medo de mudar. Jornalistas são grandes conformistas e acham que não sabem fazer mais nada da vida - talvez porque pensam que sua profissão é boa demais para ser trocada por outra, vai saber. Jornalistas não se submetem à rotina massacrante e sem-graça de salários ridículos porque gostam do seu trabalho, porque na verdade, eles o ODEIAM. E todos eles sabem disso. Aquela satisfação que eles sentem quando emplacam uma machetinha, ou quando dão um furinho na concorrência é só um escape, uma fuga do contexto, um alento, a rosquinha do Homer Simpson, uma falha na Matrix, o doce para o rato no labirinto do laboratório. É uma profissão ardilosa.
Parágrafo único - Você pode virar um William Bonner e ganhar dinheiro pacas, mas ainda assim será um jornalista. Pense nisso.
Jornalista sofre - OK, isso não é um mito, é verdade. Mas eu não entendo porque tem jornalista que ADORA proferir aos quatro ventos que trabalhou demais, escreveu cinco abres com duas subs e uma arte cada, que ficou no pescoção até as 4h da madrugada, que está trabalhando há 30 dias sem folga... Eu mesmo já fui assim. Oras! Se a profissão que você escolheu é uma bosta e você é um fracassado, não tente fazer com que as pessoas tenham pena de você por isso! Não tá gostando sai dessa, cara! Ou então, se quer sofrer de verdade, vá carpir terreno ganhando salário mínimo, vai! Fica aí com a bunda na cadeira ouvindo iPod, ganhando jabá e ainda acha que a vida está ruim, é?
Jornalista é jornalista "24 horas por dia" - Deve ter gente que é mesmo. Eu, graças a Deus, não sou. Nem preciso ser. Até porque é preciso, sei lá, dormir, né? Pelo menos. Tem um pessoal por aí que leva isso tão a sério que acaba levando para a redação hábitos que deveriam deixar só em casa - como produzir merda, por exemplo. Acho que a maioria dos jornalistas que dizem isso o fazem porque acham bonito mesmo. Com um salário de miséria, é como se fosse um diferencial: "minha profissão é tão nobre que não posso desligar por nenhum momento". Grande vantagem!
Jornalista é estressado - É comum associar a imagem do jornalista a café e cigarro. Eu acho que é exatamente por isso que a maioria dos jornalistas bebe café e fuma. Uiuiui! Jornalista A-DO-RA ficar estressado! Faz parte do glamour da profissão. Mas, na verdade, grande parte dos profissionais que conheci ao longo de minha curta carreira são bem sossegados e gente boa. Os mais nervosos são assim não por causa do jornalismo, e aposto que também seriam esquentadinhos se fossem médicos, economistas ou faxineiros.
Jornalista sabe (ou precisa saber) de tudo - Ahan! Essa é uma máscara dos jornalistas que já caiu faz tempo perante a sociedade. Jornalistas são notoriamente conhecidos como os "especialistas em generalidades", aqueles de tudo sabem um pouquinho. Mas é bem pouquinho mesmo. Leem só as manchetes, e mesmo quando se aprofundam por algum tempo em alguma história, ela logo é substituída por outra, quando não por algum assunto de interesse do próprio jornalista (que, vale lembrar, é uma pessoa). Jornalismo é um trabalho, catzo! Ou alguém acha que os jornalistas chegam em casa e pegam um belo livro para ler sobre dengue, a crise da saúde pública ou as nuances da balança comercial? Exceção, claro, para os jornalistas especializados (quem?) - mas estes, coitados, só sabem mais um pouco sobre algo que só a minoria quer saber.
Jornalista é bem informado - É uma variante do item acima. No churrasco com a família, chega o amigo do tio: "Você é jornalista, né? É verdade que o Dunga vetou a entrevista exclusiva com a Fátima Bernardes?". Sei lá eu, oras! Não estava lá! Ou então, no jantar com um amigos, tem sempre um jovem advogado ou alguém que mexe com negócios, um yuppie: "Ih, rapaz, se o dólar continuar caindo assim o mercado não aguenta! Não é, Luís?" Tento encontrar a piada na pergunta, mas eles falam sério. E eu pensando só no próximo lançamento para o Wii...
28 de junho de 2010
21 de junho de 2010
Como joga esse time do Dunga!
Brasil x Costa do Marfim, 20 de junho de 2010, domingo. Seguem alguns comentários que ouvi durante a partida e após o fim dela, ao vivo ou em Twitter e afins:
"Esses negão aí (Costa do Marfim) correm bem mais que os brasileiros."
"Tomara que o Elano tenha quebrado a perna (após receber falta criminosa e ter marcado um dos gols do jogo) para ficar fora da próxima partida."
"Ah, mas esse gol até minha vó fazia (sobre o gol do Elano)."
"O gol do Luis Fabiano foi um golaço. Mas também, contra a Costa do Marfim..."
"Precisa usar a mão pra marcar contra a Costa do Marfim?"
"O jogador da Argentina pediu música do The Killers no Fantástico. O Luis Fabiano pediu Exaltasamba. Somos mesmo melhores em tudo"?
Fazer piada é uma coisa, eu sei. Mas eu não consigo entender porque há tanto pessimismo, tanta autodepreciação em torno da seleção brasileira.
Na seleção, há muito espaço para críticas, principalmente nas atitudes do Dunga e até mesmo na qualidade técnica de alguns jogadores. Mas há muito exagero.
E a única explicação que eu vejo para isso é a mesma da qual todos acusam o Dunga: rancor. Rancor da imprensa por fechar os treinos, blindar entrevistas e evitar a troca de informações de bastidores. Rancor da torcida por não ter levado o Ganso, o Neymar e o Rui do Chapéu.
Você pode adorar o Ganso e o Neymar, mas o fato deles não terem sido convocados não torna seus substitutos (no caso, Julio Baptista e Grafite) automaticamente uns imbecis.
É como aquela coisa do crítico de música: não é porque você não gosta de determinada obra que ela é ruim. Aceite isso. Seria muita arrogância, né? Se você acha que tal jogador é ruim, me dê argumentos que sustente sua tese. Errou um passe? Perdeu um gol? Bom, isso tudo já aconteceu com Ganso, Neymar e até com Pelé. Se não gosta dele, é outra coisa.
Da mesma forma que não gostar do Dunga não tira o crédito de todo o trabalho dele (ele foi o capitão do tetra, porra!) e de toda sua equipe.
Infelizmente, criou-se a ideia geral de que ser crítico, ser "do contra", é sinal de inteligência, de "personalidade".
Os resultados de Dunga e de sua equipe até agora estão aí, inquestionáveis. E eu nem digo que quem fala mal à toa desse time não entende nada de futebol, porque eu também não entendo. É pura questão de confiar e torcer, se ligando nos pontos fortes (eles existem). Com essa seleção aí nem precisa tanto esforço.
Se o Brasil ganhar a Copa (eu acredito que vai - e apenas acredito, sem me basear em elemento científico nenhum), com certeza vamos ouvir "ah, o nível da Copa estava muito baixo, só assim mesmo." E essas mesmas pessoas, daqui a alguns anos, se esquecerão de tudo isso e dirão, orgulhosas: "como jogava aquele time do Dunga!"
Eu prefiro fazer isso agora.
"Esses negão aí (Costa do Marfim) correm bem mais que os brasileiros."
"Tomara que o Elano tenha quebrado a perna (após receber falta criminosa e ter marcado um dos gols do jogo) para ficar fora da próxima partida."
"Ah, mas esse gol até minha vó fazia (sobre o gol do Elano)."
"O gol do Luis Fabiano foi um golaço. Mas também, contra a Costa do Marfim..."
"Precisa usar a mão pra marcar contra a Costa do Marfim?"
"O jogador da Argentina pediu música do The Killers no Fantástico. O Luis Fabiano pediu Exaltasamba. Somos mesmo melhores em tudo"?
Fazer piada é uma coisa, eu sei. Mas eu não consigo entender porque há tanto pessimismo, tanta autodepreciação em torno da seleção brasileira.
Na seleção, há muito espaço para críticas, principalmente nas atitudes do Dunga e até mesmo na qualidade técnica de alguns jogadores. Mas há muito exagero.
E a única explicação que eu vejo para isso é a mesma da qual todos acusam o Dunga: rancor. Rancor da imprensa por fechar os treinos, blindar entrevistas e evitar a troca de informações de bastidores. Rancor da torcida por não ter levado o Ganso, o Neymar e o Rui do Chapéu.
Você pode adorar o Ganso e o Neymar, mas o fato deles não terem sido convocados não torna seus substitutos (no caso, Julio Baptista e Grafite) automaticamente uns imbecis.
É como aquela coisa do crítico de música: não é porque você não gosta de determinada obra que ela é ruim. Aceite isso. Seria muita arrogância, né? Se você acha que tal jogador é ruim, me dê argumentos que sustente sua tese. Errou um passe? Perdeu um gol? Bom, isso tudo já aconteceu com Ganso, Neymar e até com Pelé. Se não gosta dele, é outra coisa.
Da mesma forma que não gostar do Dunga não tira o crédito de todo o trabalho dele (ele foi o capitão do tetra, porra!) e de toda sua equipe.
Infelizmente, criou-se a ideia geral de que ser crítico, ser "do contra", é sinal de inteligência, de "personalidade".
Os resultados de Dunga e de sua equipe até agora estão aí, inquestionáveis. E eu nem digo que quem fala mal à toa desse time não entende nada de futebol, porque eu também não entendo. É pura questão de confiar e torcer, se ligando nos pontos fortes (eles existem). Com essa seleção aí nem precisa tanto esforço.
Se o Brasil ganhar a Copa (eu acredito que vai - e apenas acredito, sem me basear em elemento científico nenhum), com certeza vamos ouvir "ah, o nível da Copa estava muito baixo, só assim mesmo." E essas mesmas pessoas, daqui a alguns anos, se esquecerão de tudo isso e dirão, orgulhosas: "como jogava aquele time do Dunga!"
Eu prefiro fazer isso agora.
3 de junho de 2010
Sobre não fazer nada
Nos meus bons tempos de faculdade, no final de mais uma rodada de War II (sim, sou nerd) madrugada adentro, alguém reclamou que não teria tempo de dormir para a aula (cof, cof) do dia seguinte.
Aí um amigo veio dizendo que uma pesquisa comprovou - como eu não sei - que, a cada hora menos que o necessário que determinada pessoa dorme, ela perde 15 minutos de vida. Um outro amigo, que realmente deveria investir na carreira de stand-up comedy, completou: "Ah, mas aí você ganha os 45 minutos em que ficou acordado, né?"
Foi uma piada, mas o fato é que eu penso assim.
Dormir é o ápice do ostracismo humano. Como não? "É importante para o organismo, descansa. Recarrega as baterias." Sim, claro. Mas produzir mesmo, ninguém está produzindo nada.
Nem os sonhos a gente controla! Respiração? Pfff... Se colocarem veneno no ar, morreremos, tamanha nossa falta de controle da situação - afinal, não podemos fazer NADA a respeito de qualquer coisa que seja.
Mas calma. O presente post não é uma ode à hiperatividade ou a defesa daquela coisa idiota de que #dormirehparaosfracos. Só acho que, se for para fazer nada, que seja com estilo. E acordado.
Acontece que minha definição de fazer nada é bem ampla. Desde muito cedo, e sei lá como, aprendemos que temos que estudar, trabalhar, criar filhos e morrer.
Pois bem: para mim, o que não está relacionado a isso é fazer nada. Cinema + jantarzinho no sábado à noite? Descanso (mesmo com todo o trabalho que dá para arrumar vaga no estacionamento). Almoço intercalado durante dois períodos no trabalho? Tortura medieval. É mais ou menos assim.
A solução aparente seria transformar o trabalho em NADA, mas isso é impossível. E eu não acredito naqueles que dizem: "nossa, adoro meu trabalho".
Você pode integrar o elenco fixo de filmes pornô com a Scarlett Johansson, ou ser degustador de cervejas tchecas, mas sempre vai ter um dia em que vai acordar e pensar: "estou de saco cheio disso aqui! Quero fazer nada!" Como dizem, tudo que vem em excesso faz mal - e o trabalho obviamente se inclui nessa categoria.
Ultimamente, tenho pensado cada vez mais em como seria legal ter mais tempo para fazer nada. Não sei qual religião diz que o paraíso é aquilo que a gente quer que ele seja, mas eu acredito nisso. E quero que o meu seja um monte de nada.
Até lá, vou tentando a sorte na Mega-Sena.
PS: Descobri que esse blog agora tem audiência, já que foi linkado pela Gabriela e consta na lista de favoritos da Marina. Vou tentar tomar vergonha para melhorar um pouco tudo isso aqui. Obrigado, meninas!
Aí um amigo veio dizendo que uma pesquisa comprovou - como eu não sei - que, a cada hora menos que o necessário que determinada pessoa dorme, ela perde 15 minutos de vida. Um outro amigo, que realmente deveria investir na carreira de stand-up comedy, completou: "Ah, mas aí você ganha os 45 minutos em que ficou acordado, né?"
Foi uma piada, mas o fato é que eu penso assim.
Dormir é o ápice do ostracismo humano. Como não? "É importante para o organismo, descansa. Recarrega as baterias." Sim, claro. Mas produzir mesmo, ninguém está produzindo nada.
Nem os sonhos a gente controla! Respiração? Pfff... Se colocarem veneno no ar, morreremos, tamanha nossa falta de controle da situação - afinal, não podemos fazer NADA a respeito de qualquer coisa que seja.
Mas calma. O presente post não é uma ode à hiperatividade ou a defesa daquela coisa idiota de que #dormirehparaosfracos. Só acho que, se for para fazer nada, que seja com estilo. E acordado.
Acontece que minha definição de fazer nada é bem ampla. Desde muito cedo, e sei lá como, aprendemos que temos que estudar, trabalhar, criar filhos e morrer.
Pois bem: para mim, o que não está relacionado a isso é fazer nada. Cinema + jantarzinho no sábado à noite? Descanso (mesmo com todo o trabalho que dá para arrumar vaga no estacionamento). Almoço intercalado durante dois períodos no trabalho? Tortura medieval. É mais ou menos assim.
A solução aparente seria transformar o trabalho em NADA, mas isso é impossível. E eu não acredito naqueles que dizem: "nossa, adoro meu trabalho".
Você pode integrar o elenco fixo de filmes pornô com a Scarlett Johansson, ou ser degustador de cervejas tchecas, mas sempre vai ter um dia em que vai acordar e pensar: "estou de saco cheio disso aqui! Quero fazer nada!" Como dizem, tudo que vem em excesso faz mal - e o trabalho obviamente se inclui nessa categoria.
Ultimamente, tenho pensado cada vez mais em como seria legal ter mais tempo para fazer nada. Não sei qual religião diz que o paraíso é aquilo que a gente quer que ele seja, mas eu acredito nisso. E quero que o meu seja um monte de nada.
Até lá, vou tentando a sorte na Mega-Sena.
PS: Descobri que esse blog agora tem audiência, já que foi linkado pela Gabriela e consta na lista de favoritos da Marina. Vou tentar tomar vergonha para melhorar um pouco tudo isso aqui. Obrigado, meninas!
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