8 de maio de 2012

PS

Acho que foi o Jostein Gaarder que escreveu que Deus se diverte observando os humanos e suas pequenas preocupações. Como se fôssemos um conjunto de playmobils, só que articulados e com vontade própria.

(Antes que você pergunte: sim, filosofia infanto-juvenil de boteco é o melhor que temos para hoje)
Adotando essa postura, podemos notar que tudo o que fazemos, ou que um dia ainda possamos fazer, ou que pensamos em fazer, é inacreditavelmente pequeno. E certamente ridículo. Talvez, no máximo, e com esforço, engraçado.
Como num silogismo, chegamos à conclusão: reduzir as expectativas é o segredo da felicidade.
Muito fácil. Muito simples. Só que não.
Porque a revista sugere que você seja bonito e esbelto, experimente aquele novo restaurante cuja cotação do prato é de $$$$ (num máximo de $$$$$), pede que você compre o novo CD do artista que mistura funk, jazz e MPB e resume a modernidade em 12 canções e indica o uso daquele conjunto de calça e paletó que será moda no inverno e custa só R$ 1.999 (preço sugerido).
Porque sempre tem alguém, como que por osmose, como num inception, dizendo que é preciso fazer sempre mais, e melhor. Se o demônio existe, é isso que ele faz por aqui: dissemina essa ideia entre a humanidade.
E aí a gente vai: estuda, trabalha, ganha dinheiro, compra iPhone, abre conta no Twitter e Facebook, compartilha foto e texto espertinho e espera ansioso pelos "curtir"; arruma uma mulher gostosa, não exatamente porque ela é gostosa, mas principalmente pra poder falar pra todo mundo que ela é gostosa; depois arruma outra, mais gostosa. Enfim, faz um monte de coisa porque acha que é o certo, mas não porque é, de fato, o certo.
Está difícil existir, por esses dias. Vamos ver o que dá.

17 de novembro de 2011

A minha banda favorita

Se me perguntam qual é minha banda preferida, eu respondo sem pensar: Radiohead.

Porque é verdade. Tenho todos os discos (pelo menos os lançados no Brasil), conheço todas as músicas (até os lado B), fico procurando vídeos, lendo notícias e, graças ao bom Deus, já pude ir a um show deles.

Mas eu também gosto de muitas outras bandas, e entre elas está o Black Rebel Motorcycle Club. Não consigo me lembrar quando foi o primeiro contato que eu tive com eles, mas deve ter sido na época em que eu achava chique conhecer bandas a torto e a direito, lá pelo início da década passada.

Entre tanta coisa que eu ouvia, o BRMC acabou ficando. E, se for ver bem, eu não sei o porquê. O som não tem muito a ver com mais nada que eu goste, mas... eu gosto. É algo bastante único, pelo menos para mim. É meio sujo, meio blues, meio Joy Division, meio soturno (ignorem a análise, eu não entendo nada de música). Só sei que, no fim das contas, me agrada pacas.

A banda me pegou mesmo pelo "Howl" disco de 2005 que é todo acústico. E, sabem como é, eu adoro o som de um violão. Sério, é um disco que TODO MUNDO deveria ter na cabeceira. O tempo foi passando, novos discos surgiram ("Baby 81", de 2007, também é altamente recomendável), e meu apreço pela banda continuou.

Aqui vale um parênteses: por gostar muito de música, acabo, por tabela, influenciando o gosto de pessoas próximas a mim. Juro que não é intencional (pelo menos não sempre). Minha mulher, por exemplo, já aprendeu a gostar de Radiohead e curte bastante Coldplay, Snow Patrol e Kaiser Chiefs, só para citar alguns exemplos. Cansei de trocar influências com meu amigo de república nos tempos da faculdade Daniel. Mas o BRMC nunca emplacou. Com ninguém. E olha que eu já tentei. Bastante. Ninguém mais gosta dessa merda. Só eu. Fecha parênteses.

Lá pelo meio deste ano, anunciaram que o BRMC iria tocar no SWU, em Paulínia. "Uau!", pensei. Era uma das bandas que figurava na minha lista de shows para assistir. E corri para garantir meu ingresso. Paguei R$ 210, feliz e contente, sem pensar no amanhã. Só depois vi que o festival seria em um feriado prolongado, eu estaria de folga (uma ótima oportunidade para visitar minha família na longínqua Presidente Prudente), não haveria nenhuma outra banda no mesmo dia que atraísse tanto a minha atenção e que eu dificilmente conseguiria uma companhia para o show (o que de fato se concretizou).

Então, tentei vender o ingresso. Obviamente, não tive sucesso.

Perder R$ 210? Não era uma alternativa. Então lá fui eu para Paulínia, em uma tarde chuvosa, encarar a lama, cerveja a R$ 7 e pessoas esquisitas; tudo para ver o BRMC.

E querem saber? FOI LEGAL PRA CARAMBA!


Vejamos: paguei R$ 210 (o maior valor que eu já gastei na vida por um espetáculo musical), enfrentei chuva e aquela dose de desconforto inerente a este tipo de evento só para ver o show dos caras. Então, queira eu ou não, acho que isso me credencia como fã da banda. Ela nem imagina, mas ela é uma das que nunca me abandonou. Em alguns momentos, eu pensava que nada podia ser mais adequado que estar ali sozinho.

A última música foi "Whatever Happened to my Rock and Roll", uma porrada do primeiro disco. Parte do refrão diz: "O que aconteceu com você? O que aconteceu com nosso rock and roll?"

Não sei, BRMC. Mas, de qualquer forma, agradeço.

9 de novembro de 2011

A beleza na tristeza

As pessoas se preocupam com o fato das crianças brincarem com armas e dos adolescentes assistirem a vídeos violentos; temos medo de que assimilem um certo tipo de culto à violência. Ninguém se preocupa com o fato das crianças ouvirem milhares - literalmente milhares - de canções sobre amores perdidos e rejeição e dor e infelicidade e perda. As pessoas afetivamente mais infelizes que eu conheço são as que mais gostam de música pop; e não sei se foi a música pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes. (Nick Nornby, Alta Fidelidade)

Vai, admite: é bonito ser triste. Melhor ainda: é "cool" (eca) ser triste.

Uns tempos atrás, fui assistir a peça "Trilhas Sonoras de Amor Perdidas", da Sutil Companhia de Teatro, dirigida pelo Felipe Hirsch. A despeito da história do plágio e blábláblá, tem um trecho em que o protagonista fala que ouvir músicas melancólicas faz a pessoa parecer mais inteligente. É verdade.

O mesmo deve acontecer com os artistas que compõem músicas tristes. É claro que muitos deles (e nem vou citar nomes) realmente devem sofrer do fundo de suas almas para elaborar suas obras. Alguns até se mataram, afinal de contas. Mas é claro, também, que o mundo artístico está lotado de espertinhos pensando "hum, vou fazer uma música deprê pra ver se conquisto aquela fatia de público dos inteligentes!".

Divago.

Estava pensando em tudo isso depois que conheci essa música:



Por algum tempo, eu já acreditei que ouvir músicas tristes me faria bem. Faria bem para a minha imagem, digo. É por isso, confesso, que eu talvez tenha insistido tanto em tentar gostar de Radiohead e muitas, muitas outras bandas. Mas calma, eu não assim tão superficial: uma coisa foi levando à outra; eu realmente acabei me interessando por esses artistas e hoje vejo que a "tristeza" é só uma característica, às vezes até menor, de suas obras.

Me lembro de já ter pensado que músicas tristes me faziam feliz. Uma grande besteira. E foi justamente a música acima que me fez perceber isso. Conheci-a recentemente, está no disco novo do Wilco, "Whole Love" (uma baita banda, um baita disco, aliás). Como qualquer outra música a qual me apego, ouvi-a incessantemente durante uns dias. E não fiquei muito bem. Não podia ser só coincidência. MÚSICA DO DEMÔNIO! Mas putz, ela é tão bonita...

Músicas tristes vão te deixar triste, mas não é por isso que você precisa deixar de ouvi-las. Em "Uma Delicada Forma de Calor", Lobão diz que "uma chuva, uma tristeza, podem ser uma beleza, e o frio, uma delicada forma de calor" (a beleza na tristeza é, aliás, a temática geral de "A Vida é Doce", um dos discos mais geniais do rock nacional; assim como também está presente em "Beleza Americana", um filme de que gosto bastante também).


Se você quer beleza, procure na tristeza. Mas use com parcimônia.

13 de outubro de 2011

Um país recalcado

Há muito tempo atrás, eu e um grande grupo de amigos tínhamos um blog.

Para resumir, era tudo muito caótico: ele tinha uns 80 posts por dia, a maioria de comentários irônicos e piadas bestas sobre notícias do dia na internet; alguns textos maiores e muita, muita besteira. Mas era bom, podem acreditar.

Em um dos comentários, certa vez, um dos meus colegas me ofendeu, e agora sinceramente não me lembro o contexto. Sei que fiquei meio putinho, e tive vontade de responder "IGUAL NAQUELE DIA QUE EU COMI SUA MÃE DE QUATRO, FILHO DA PUTA", mas fiquei na minha. Posteriormente, em uma mesa de bar, comentei isso com ele e ele disse: "Cara, é esse o espírito! Você deveria ter dito isso!"

A partir desse dia eu tentei não me ofender mais com piadas ou comentários a meu respeito, passei a levar as coisas mais na brincadeira e a responder provocações na mesma moeda, e minha vida mudou deveras para melhor.

Agora, troquem o meu amigo pelo Rafinha Bastos e minha pessoa pelo marido da Wanessa, o Ronaldo e os milhões de brasileiros bundões que se ofenderam com a "piada" (que eu na verdade considero uma tentativa do Rafinha de dizer "ai Brasil olha aí, sou polêmico pra caralho") e vocês terão uma visão completa da minha opinião sobre o assunto.

Mas tudo bem, não dá para esperar muito de um povo que se ofende com episódio do Simpsons, com Robin Willians no David Letterman e com o Stallone fazendo a piada do macaco. E sim, é tudo a mesma coisa. O brasileiro é recalcado e não sabe rir de si mesmo. O humor autodepreciativo passa longe dessas paragens (modalidade que, aliás, é especialidade dos judeus, né Rafinha?). E isso não pode e não deve ser tratado como um assunto menor: diz muito sobre nossa cultura. País de merda.

A situação toda do Rafinha se resolveria com o marido da Wanessa indo ao CQC e dizendo: "Pô Rafinha, minha mulher você pode até comer, mas o bebê vai ter que pagar! Me liga que a gente acerta o preço, falou? Beijo na alma, irmão!" Sonho...

Tchau procês.

16 de julho de 2011

Odeio rodeio

Você já sentiu medo?

Eu já.

O ano era 2006.

Eu trabalhava no jornal Bom Dia, em São José do Rio Preto. Era repórter.

O periódico tinha uma sessão fixa, aos domingos, chamada "Sentindo na Pele", cujo nome, acredito eu, é autoexplicativo. Era o seguinte: o repórter ia lá e passava por alguma situação inusitada, distante do seu cotidiano, para relatar, de um ponto de vista distante, como é aquilo.

Era mais ou menos o que já fizeram Gugu e vários outros, e o que fazem hoje "A Liga" e também alguns outros. Para um jornal impresso, ma minha opinião, não compensa. Mas, às vezes, admito que era divertido.

Do que eu consigo me lembrar, fui vendedor de balas em semáforo, juiz de futebol, maquiador (?), artista de praça (isso mesmo: fiquei tocando violão no calçadão de Rio Preto durante uma manhã) e, pasmem, garoto de programa (fiquei algumas horas da madrugada com um colega, também repórter, em uma esquina, mas não aconteceu ABSOLUTAMENTE nada digno de relato - graças a Deus).


Mas nenhum desses chegou perto, em relação ao temor pela minha própria vida, de quando fui palhaço de rodeio.

Começou assim: um belo dia, precisávamos de mais uma pauta para a malfadada seção. A chefe de reportagem lembrou que naquela semana ocorreria um rodeio na cidade de Palestina, e não hesitou: "O Luís vai ser peão de rodeio!" (Ela era meio louca mesmo). É claro que relutei, assim como toda a redação; para ser peão é preciso preparo, treino, etc. Eu certamente morreria.

Sugeri algumas atividades mais simplórias que poderiam usar o próprio rodeio como cenário: escovador de cavalo, limpador de estábulo, carregador de bota, sei lá. Mas a chefe de reportagem queria sangue. E falou em palhaço de rodeio. Continuei achando deveras perigoso, mas confesso que, na ocasião, conseguia me enxergar no ofício. "Eles só ficam fazendo macaquices, não preciso ser do tipo que entra na frente dos bichos", pensei.

Liguei para o organizador do rodeio explicando a coisa toda, ele me perguntou se eu tinha seguro de vida. Respondi com uma risada, pensando que era piada. Do outro lado da linha, ele ficou mudo. Não era.

No dia combinado, cheguei no lugar, encontrei com o cara e ele: "Hum, você veio mesmo." E me levou até Toba Duro (também autoexplicativo), o cara que coordenava a atividade dos palhaços na ocasião.

Acontece que Toba Duro era uma pessoa que levava seu trabalho realmente a sério, e como ele tinha recebido a ordem de me transformar em um verdadeiro palhaço de rodeio, não hesitou em cumprir todo o script. Primeiro me fantasiou, pintou minha cara e foi me passando instruções.

Foi só ali que descobri que a atividade não tem nada de palhaçada: o palhaço é, na verdade, um guarda-costas do peão. "Como você é novato pode ficar mais afastado. Mas pra parar um boi tem que entrar na frente dele, abrir os braços para parecer maior do que você é e ir cercando."

"Beleza", respondi. "Vai ser fácil", pensei. Ainda não tinha a exata noção do que me esperava. No caminho para a arena (eu participei de toda a cerimônia de abertura, com oração a Nossa Senhora e tudo o mais), vi os boizinhos na área reservada para eles, e que eu não sei o nome (brete?). Os bichos eram muito grandes. "Mas são bois", pensei, tentando provar a mim mesmo que eles respeitariam a hierarquia biológica da cadeia alimentar dali a pouco.

Começou. Arquibancada lotada, o locutor berrando no microfone. Abriu a tal da porteira. E tudo o que eu consigo me lembrar é de um bólido saltitante feito de carne, osso e chifres pesando toneladas que saiu loucamente pela arena. Uma terrível sensação de terror em seu estado puro percorreu meus ossos. Sério, eu nunca tinha sentido e nunca mais senti um troço parecido com aquilo.

Quando vi, já estava pendurado na cerca de proteção, com o boi a bons metros de mim, já controlado. Toba Duro me olhou torto. Continuei ali no canto, controlando meu medo recentemente adquirido. Até que Toba Duro me chamou de canto e disse: "Olha, a plateia não sabe que você está aqui de brincadeira. Se continuar fugindo, fica feio pra gente." Glup.

Nisso, o fotógrafo se mijava de rir, em uma área de segurança. Também me chamou e disse: "Luís, não consegui pegar nenhuma foto que tenha você e o boi no mesmo plano." Tentei me aproximar, mas o máximo que consegui é o que está na foto abaixo.

Esse aí de costas no primeiro plano sou eu

Toba Duro não gostou, me chamou a atenção de novo, como se fosse meu patrão de fato e falou: "Então tudo bem, você vai para o tambor." E me colocou dentro de um barril de aço no meio da arena. Logo entendi que o objetivo era que o artefato, comigo dentro, chamasse a atenção do boi. Sério, se tivessem usado isso como método de tortura na ditadura, os anos de chumbo não teriam durado mais que cinco anos. Não aguentei muito e logo saí. O Toba Duro que se fodesse.

Fiquei ali na arena mais uns bons 20 minutos, fugindo de touros e cavalos alucinados, até o primeiro intervalo da bagaça, quando decidi que já era demais e estava na hora de encerrar a brincadeira. Na saída, duas enfermeiras e um médico que ficavam a postos para atender os peões me abordaram: "você está meio pálido". Expliquei a situação, disse que era jornalista e os três me lançaram um olhar de perplexidade pura.

Que corajoso, hein, Luís? Você deve estar orgulhoso!

NOT!

PS: As fotos me foram gentilmente cedidas pelo Sidnei Costa, grande parceiro dos tempos de Bom Dia. A imagem do juiz de futebol é dele mesmo, a do rodeio é do José Carlos Moreira, um dos caras mais engraçados com quem já trabalhei, e que fez a melhor piada que já ouvi. Mas essa é outra história.

8 de maio de 2011

Banalizaram a desculpa

Vivo pensando a respeito do verdadeiro início das coisas. Por exemplo: quem foi a primeira pessoa que viu um pé de café, olhou para aquela frutinha e disse: "hum, já sei, vou colher, deixar secar, torrar, triturar, fazer uma infusão com o pó e beber!"

É claro que muitos processos que conhecemos hoje são fruto de anos de evolução e de inúmeras experiências na base da tentativa e erro, ou na pura cagada, mas enfim: a alegoria é válida.

Dentro deste contexto, fico imaginando quem teria sido o inventor da desculpa.

Viver em sociedade foi um dos grandes pulos do gato para a evolução e sobrevivência humana. Mesmo assim, acredito que nos tempos antigos não havia muita fineza entre os indivíduos. Deveria existir uma divisão de tarefas, baseada na força, e só. Na minha concepção de antiguidade, ninguém saía dando bom dia ou dizendo "que bonito seu corte novo de cabelo" assim, à toa.

Então, o primeiro sujeito que cometeu um erro na história da humanidade deve ter penado para reconhecer seu erro e, ao mesmo tempo, clamar pela absolvição de seus pares (para mim, essa é a definição perfeita de desculpa - adiante retomaremos). Ou seja, o cara tava lá caçando, jogou uma pedra no faisão pré-histórico mas acabou acertando o companheiro bem no meio da testa: cagada.

Pode ser que a avaliação primitiva de nosso ancestral fosse "ah, tô tentando garantir um almoço, errei o alvo, acontece, foda-se esse mané", mas no íntimo ele certamente sabia que tinha feito uma besteira. E deve ter sido julgado por isso. O neaderthal ferido ficou puto, foi falar com ele; os amigos dele também; as crianças passaram a correr dele. E aí não teve jeito: DESCULPA, GALERA, FOI MAL AÍ!

Mas já era tarde, ninguém engoliu e nosso homem das cavernas foi morto. Com uma pedrada no meio da testa.

Estava feita a merda. A obrigação de se desculpar PORQUE OS OUTROS QUEREM,  e NÃO PORQUE VOCÊ ACHA QUE DEVE, começou a se fixar em nosso DNA.

O resultado disso é que hoje ninguém realmente dá muita bola para os pedidos de desculpa. Pedir desculpa é sempre muito pouco. O prejudicado quer sempre mais. Quer sangue. Não é culpa dele, está em sua memória genética - a religião tem uma boa parcela de culpa nessa história também, mas essa discussão fica pra depois.

Pedir desculpa, como disse acima, é reconhecer seu erro perante o outro, e ao mesmo tempo pedir com que a pessoa ofendida se satisfaça com isso como "moeda" para reparar a falha. Por isso que não vale aquele típico pedido de desculpa do tipo "putz, não sei porque você ficou desse jeito, mas tudo bem, desculpa." Se você não sabe qual foi seu erro, não se retrate por ele. Isso só contribui ainda mais para a banalização do perdão.

Antes, eu via o ato de não se desculpar como atitude de orgulho. Hoje sei que essa minha visão é mero fruto da sociedade onde os pedidos de desculpa se tornaram habituais. Como eu fazia, sei que muita gente por aí acha que é preciso pedir desculpa por qualquer coisa. Por outro lado, também entendo o pessoal que acha que pedir desculpa é humilhar-se e, por isso, jamais se desculpa. Esses associam o ato de pedir perdão com fraqueza, quando na verdade, ele denota força.

A avaliação do pedido de desculpa é totalmente subjetiva. Para quem dá e recebe. Portanto, deve haver responsabilidade em todo o processo. É minha opinião. E, dessa vez, não vou me desculpar por ela.

20 de abril de 2011

Amigos

Ainda me lembro do meu primeiro amigo. Era um menino chamado Gustavo, da minha sala da 1ª série. Quer dizer, eu tinha outros coleguinhas, mas o Gustavo era diferente: era o único, fora da minha família, com quem eu brincava além do horário de aula, na casa dele ou na minha.

Sabe lá Deus onde está o Gustavo hoje - espero que esteja bem.

O tempo vai passando e a gente vai aprendendo que um monte de coisa define um bom amigo. Afinidade, gostos parecidos e uma boa dose de sorte - muitas vezes seu amigo aparece na hora certa, no lugar certo. E há todo um contexto para a amizade engrenar (é por isso que os meus maiores amigos foram adquiridos nos anos da faculdade).

Tem um fator primordial, que passa perto da confiança e da correspondência mútua, mas que pra mim sequer tem nome. É a sensação provocada pela certeza de que determinada pessoa vê em você o que você vê nela, e que vai fazer por você o que você faria por ela, sempre na mesma medida (e sem precisar pedir, é claro).

Isso, meus amigos (ops!), é muito raro. É por isso que eu não acredito em quem diz que tem milhares de amigos. Eu tenho, sei lá, uns... poucos. E olhe lá. É uma pena. Adoraria ter mais.

Nem todos são amigos. Eis uma grande tragédia humana.