9 de novembro de 2011

A beleza na tristeza

As pessoas se preocupam com o fato das crianças brincarem com armas e dos adolescentes assistirem a vídeos violentos; temos medo de que assimilem um certo tipo de culto à violência. Ninguém se preocupa com o fato das crianças ouvirem milhares - literalmente milhares - de canções sobre amores perdidos e rejeição e dor e infelicidade e perda. As pessoas afetivamente mais infelizes que eu conheço são as que mais gostam de música pop; e não sei se foi a música pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes. (Nick Nornby, Alta Fidelidade)

Vai, admite: é bonito ser triste. Melhor ainda: é "cool" (eca) ser triste.

Uns tempos atrás, fui assistir a peça "Trilhas Sonoras de Amor Perdidas", da Sutil Companhia de Teatro, dirigida pelo Felipe Hirsch. A despeito da história do plágio e blábláblá, tem um trecho em que o protagonista fala que ouvir músicas melancólicas faz a pessoa parecer mais inteligente. É verdade.

O mesmo deve acontecer com os artistas que compõem músicas tristes. É claro que muitos deles (e nem vou citar nomes) realmente devem sofrer do fundo de suas almas para elaborar suas obras. Alguns até se mataram, afinal de contas. Mas é claro, também, que o mundo artístico está lotado de espertinhos pensando "hum, vou fazer uma música deprê pra ver se conquisto aquela fatia de público dos inteligentes!".

Divago.

Estava pensando em tudo isso depois que conheci essa música:



Por algum tempo, eu já acreditei que ouvir músicas tristes me faria bem. Faria bem para a minha imagem, digo. É por isso, confesso, que eu talvez tenha insistido tanto em tentar gostar de Radiohead e muitas, muitas outras bandas. Mas calma, eu não assim tão superficial: uma coisa foi levando à outra; eu realmente acabei me interessando por esses artistas e hoje vejo que a "tristeza" é só uma característica, às vezes até menor, de suas obras.

Me lembro de já ter pensado que músicas tristes me faziam feliz. Uma grande besteira. E foi justamente a música acima que me fez perceber isso. Conheci-a recentemente, está no disco novo do Wilco, "Whole Love" (uma baita banda, um baita disco, aliás). Como qualquer outra música a qual me apego, ouvi-a incessantemente durante uns dias. E não fiquei muito bem. Não podia ser só coincidência. MÚSICA DO DEMÔNIO! Mas putz, ela é tão bonita...

Músicas tristes vão te deixar triste, mas não é por isso que você precisa deixar de ouvi-las. Em "Uma Delicada Forma de Calor", Lobão diz que "uma chuva, uma tristeza, podem ser uma beleza, e o frio, uma delicada forma de calor" (a beleza na tristeza é, aliás, a temática geral de "A Vida é Doce", um dos discos mais geniais do rock nacional; assim como também está presente em "Beleza Americana", um filme de que gosto bastante também).


Se você quer beleza, procure na tristeza. Mas use com parcimônia.

2 comentários:

Ana Vissotto disse...

Fazia tempo que não lia seu blog.
Espero os textos acumularem, fica mais prático e prazeroso.
Me identifiquei bastante com esse "Beleza na tristeza". Admito que gosto de me sentir triste (as vezes). A tristeza me deixa pensar, parece que ela é mais real do que a felicidade... ela é mais prática.
Não sei desde quando leio seu blog, mas gosto. Sou estudante de jornalismo, do interior de SC. Só pra me identificar mesmo.
Até..

Luís Fernando disse...

Puxa, obrigado, Ana! Tenho escrito muito pouco, né? Tenho algumas ideias de textos engavetados, vou desovando por aqui com o tempo, tá? Não desista do blog! rs...

Eu concordo com você: a tristeza é mais real. Bem mais palpável também. Mais um dia, quem sabe, eu não escreva por aqui sobre a felicidade; também tenho alguns pitacos sobre ela.

Fique à vontade para me seguir no twitter (@lfmanzoli) ou no Facebook (Luís Fernando Manzoli), lá também não sou tão assíduo mas falo bobagem com mais frequência que aqui. Beijo!