Estou longe de ser um fã de quadrinhos. Quer dizer, gosto bastante de quadrinhos, mas na minha infância/adolescência só lia mesmo gibi da Turma da Mônica. Nunca tive saco para ler os super-heróis. Tampouco sei a diferença entre Marvel e DC Comics.
Hoje, minha paixão pelos quadrinhos basicamente se resume aos sites de alguns malucos que publicam suas tirinhas por aí (olha no menu "de passar mal" aí do lado pra vocês terem uma ideia).
Existe uma discussão toda séria sobre a subestimação dos quadrinhos - para alguns que trabalham com essa forma de expressão, eles se enquadrariam em uma categoria própria de arte, assim como o cinema e a literatura. Para esses aí, falar que quadrinho se reume a gibi ou coisa de criança, como prega o senso comum, chega a ser ofensa.
Quando morei em Jundiaí, logo no início de minha estada na cidade, dividi o apartamento com um colega que tinha alguns quadrinhos diferentes, maiores - são as chamadas graphic novels. Como ele não tinha televisão nem computador, esses livros eram o meu único passatempo quando eu chegava do trabalho.
Desde quando comecei a morar lá, notei um livro bem peculiar. O título era "Maus", e ele tinha o desenho de uma suástica na capa. Na hora, pensei: "Ih, deve ser essas coisas de violência. Tô a fim não." Um dia, porém, esgotadas todas as possibilidades de leitura naquela casa, não teve jeito. Fui ao "Maus".
Na primeira noite, parei de ler às 4h da madrugada. E só porque precisava realmente dormir. Na segunda noite, terminei de ler o livro às 3h. Minha vida tinha mudado um pouquinho. Fiquei por um tempo meio que pensando: começo a reler agora ou espero até amanhã?
"Maus" (a palavra não é tradução; significa "ratos" em alemão) é de um cara chamado Art Spiegelman. Ele é judeu. O livro conta a história de sobrevivência dos pais dele na 2ª Guerra pelos campos de concentração nazistas. "Ih, mais uma história de holocausto! Já tô cheio disso! Coisa chata, Luís!" É, eu pensei isso quando li a orelha do livro também.
Mas Spiegelman usa recursos interessantes na sua história: desenha os judeus como ratos, os alemães como gatos, os poloneses como porcos e os americanos como cachorros. E enquanto reproduz os relatos impressionantes e assustadores de seu pai, retrata também os diálogos que tem como ele para a produção do livro, as brigas, a culpa que sente pelo suicídio da mãe.
Dessa forma, logo depois de um quadrinho onde o pai de Spiegelman aparece pisando sobre cadáveres para ir ao banheiro em Auschwitz, vem um onde ele, nos dias atuais, aparece reclamando do preço da caixa de cereais. É irresistível.
Na semana passada, durante uma crise de enxaqueca que me acordou na madrugada, li "Maus" pela terceira vez. Os efeitos do livro são assustadores. É foda demais, não dá pra definir melhor.
Spiegelman, que ganhou um Pulitzer com a obra e hoje é editor da revista New Yorker, já recusou "N" convites para adaptar "Maus" ao cinema e à TV. Melhor assim: que ele continue imortalizado no gibi.
22 de novembro de 2010
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4 comentários:
maus s2! (preciso reler, porque nunca é demais)
Nossa, nunca na vida pensei que poderia ficar com vontade de ler uma graphic novel. Nem sei onde achar. Mas fq curisosa.
Fabi, você acha em livarias. Aqui em Ribeirão, na Fnac e na Saraiva deve ter fácil. Se for ler graphic novels, comece por Maus. Recomendo fortemente.
Legal o post.
Sim, o senso comum prega até mesmo que desenho é uma infantilidade, o que, também do meu ponto de vista é algo bem equivocado, graças aos exemplos clássicos como Pica-Pau, que foram largamente aceitos e popularizados por aqui. Ainda mais aqui no nosso Brasil, que ainda é um país pobre na cultura e onde também há inúmeros outros equívocos. Graças a este senso comum, já vi muitas crianças vendo desenhos inapropriados. Em lugares como o Japão, a realidade é outra, muito diferente. Desenhos são como novela por lá, e tudo é classificado por faixa etária. Muitos trabalhos feitos por lá, seja na forma de quadrinhos, livros ilustrados ou animações, possuem um contexto muitas vezes difícil e sem graça para o público infantil. Isto por si só já evidencia a ideia que desenho não necessariamente é coisa para criança. Já aqui na ma minha cidade, vi filme animado pornográfico categorizado como infantil! Imaginem só...
Em produtos como gibis e filmes animados, o que podemos encontrar é um trabalho que comunica com o povo, utilizando-se de várias formas da informação visual: ideias escritas e desenhadas. Um produto cultural mais vontado para o entretenimento, mas que pode ter impacto psicológico na mente das pessoas.
Quando eu era criança também gostava muito de Turma da Mônica, e acho bacana que isto continua movimentando por aí, pois lembro muito bem como isto estimulou e coloriu minha infância. Quanto aos gibis de super-herois, comuns ainda hoje, me lembro que eram mais caros e eu não tinha condições de comprar. Mas certo dia ganhei uma revista do Superman e fiquei todo alegre: Vou desenhar o Superman! IUHUUU! Mas não conseguia entender direito a estória devido ao vocabulário mais culto e enriquecido. Consultava até dicionário rsss.
Costumo pensar que estas artes existem como se fossem temperos que podem tornar nosso estilo de vida mais divertido. Mas tudo depende muito da cultura que rola no povo. Não adianta uma empresa ou um artista qualquer querer produzir uma obra bem criativa, divertida e educativa, porque se o público alvo não pegar e não gostar... a coisa não vinga. É como dar uma aula de matemática para crianças que não têm um pingo de interesse na aula nem fazem enforço para aprender. Só que matemática é ciência... ooohhh rss. Terão que engolir ela de qualquer jeito.
Quanto a graphic novels, imaginemos um livro de romance, daqueles que podem mexer com nossos pensamentos e sentimentos. A diferença é que o desenho certamente é algo mais valorizado e indispensável na obra. Por isso o leitor tem o privilégio de parecer um espião que pode se deliciar com o cenário da estória.
Abraço!
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