Era uma vez um reino muito distante chamado Melíndria.
Os melindrosos viviam em paz e harmonia. Todos eram sempre exageradamente gentis e educados, e ninguém andava pelas ruas imune a um "bom dia, como é especial sua existência para todos à nossa volta" ou a um "uau, que bonita sua roupa! Que roupinha mutcho louca!"
A diversão preferida dos melindrosos era gastar horas na Praça do Elogio Mútuo ou no Self-Promotion Shopping Center. Alguns habitantes, habilidosos com essas coisas de novas tecnologias, tinham até blogs, onde podiam expor, sem muito trabalho, seus cotidianos insignificantes e perfeitamente felizes. Eram devidamente reforçados por comentários incentivadores, jamais questionadores, o que dava à sociedade local uma interessante característica de bem-estar ad infinitum.
Como nem tudo é perfeito, e em toda história há um vilão, um belo dia surgiu em Melíndria um forasteiro, perdido, vindo do condado da Indiferência. Sua morada ficava bem longe do principado da Criticânia ou do reino da Acidézia, mas mesmo assim ele não foi muito recebido.
O rei foi vê-lo e saudou-o com um cordial aperto de mão. "Seja bem-vindo, nobre viajante! Aqui será muito bem tratado! Nos diga, já viste terra mais bela como esta?" No que o forasteiro respondeu: "Não sei". O rei estremeceu e soltou sua mão. A princesa pôs-se a chorar e recolheu-se a seus aposentos. O bobo da corte parou de pular. E todos viram que o aquele homem era diferente.
Os dias se seguiram, com os habitantes de Melíndria reagindo ora com indignação ora com profunda mágoa (sentimento que nunca haviam tido antes) diante das atitudes do forasteiro.
Até que o viajante foi fazer uma visita ao ferreiro. Precisava de uma ferradura, iria finalmente partir dali. "Vieste ao lugar certo! Usamos o mais poderoso metal, para fundir a mais brilhante ferradura! Me diga, o que achas?" Em vez de retribuir com um elogio, o que seria força de hábito a qualquer um ali, o forasteiro soltou um "ih, qualquer coisa aí tá bom".
Teve a cabeça cortada pela mais brilhante espada fundida pelo mais poderoso metal.
Melindre descobrira o ódio. E não permitiria mais visitas.
26 de outubro de 2010
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Um comentário:
muito bom! bem bolado!
gostei mesmo!
mas por que a cidade muda de nome no fim do conto?
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