Então é isso. Em pouco mais de um ano, emagreci 20 quilos.
Eu me lembro de ser gordo desde criança. Hoje sei que o que incomodava mesmo eram umas certas gorduras localizadas nas laterais do abdômem (que, é claro, ainda existem). Na adolescência, a falta de atividade física e comida em total descontrole me fizeram um gordo propriamente dito. Mas nunca me preocupei com a balança, saúde ou afins. Nem me pesava. Mas, é claro, me achava inadequado. A coisa continuou degringolada com o início de minha profissional, que estimula o sedentarismo.
E assim foi, basicamente, até o ano passado. Em um belo dia do feriado de Carnaval, fui com minha então noiva comprar o terno que usaria no meu casamento. O maior número da loja ficou apertado em mim. Essa situação, aliás, que não era nada nova em lojas de roupa, mas naquele contexto me serviu de alerta: "Taí a oportunidade". Antes de mudar para uma loja do Gordo Elegante ou coisa que o valha, comprei o terno daquele jeito mesmo e parti determinado a entrar nele até setembro, quando seria o casamento. Eu tinha seis meses.
Minha primeira atitude foi procurar um médico. Cardiologista. Uma grande figura. Expliquei que queria começar a fazer alguma atividade física, ele fez um check-up (não me lembrava de ter feito algum desses até então) e, milagrosamente, meus exames deram tudo OK. Pressão, glicemia, colesterol. Ufa, pelo menos isso.
Entrei, então, para a academia. Ni primeiro dia, subi na balança: 108. Alguns meses antes, quando morava em Jundiaí, me lembro de ter ido a uma farmácia e inventado de me pesar. Deu 113. Então até que estava no lucro. Naquele momento, no entanto, meu IMC ultrapassava a marca dos 30, o que caracteriza a obesidade. Ninguém me chamaria de obeso, acho, mas com certeza me apontariam como referência em uma aglomeração de pessoas: "O banheiro fica ali atrás daquele gordo", ou então "Ah, não conhece o Luís? É aquele gordo..."
A experiência na academia durou pouco. Com incentivo zero e péssimas experiências passadas, não foi pra frente. Fiquei dois meses, acho, mais faltando do que indo, e saí de lá do mesmo jeito que entrei. Com umas gramas a menos, talvez. Então apelei aos químicos. Procurei uma endrocrinologista que me receitou a sibutramina. Era o que eu queria. Afinal, precisava emagrecer rápido (o objetivo mesmo era entrar no terno). O remédio funcionou maravilhosamente, mas até hoje me pergunto se era mesmo efeito dele ou do meu psicológico a falta de fome à noite, horário que sempre foi crítico para minhas aventuras gastronômicas.
Tive o bom senso de usar a sibutramina para mudar alguns de meus hábitos. Passei a acordar cedo (o remédio que tirava o sono mesmo) e a comer melhor (tomar café da manhã, hábito que não cultivava, salada no almoço, lanche leve à noite). Às vezes, não comia nada à noite. Ou comia bolachas. Como estava acordando cedo, passei a fazer caminhadas, se não diárias, quase isso. Me lembro de alguns amigos que me diziam: "esquece, caminhada não emagrece nada!" Pois bem: em quatro meses, perdi 12 quilos. Fui a 95: foi com esse peso que eu casei.
Minha médica dizia que eu poderia continuar tomando a sibutramina até por mais dois anos, se eu quisesse, mas eu não queria. Uma porque o objetivo já estava cumprido, outra porque eu não queria mais ficar me entupindo diariamente com uma substância esquisita e, principalmente, porque o diabo do comprimido FODEU com meu intestino. Sim. O que antes funcionava perfeitamente bem, com produção diária de cocô à vontade, parou. Efeito colateral, dizia a médica. Acontece em alguns casos.
Cheguei a ficar quatro dias sem ir ao banheiro, o que para mim era uma situação desesperadora e inimaginável. E altamente prejudicial também: eu ficava pensando naquele monte de comida acumulado dentro de mim e via minha barriga com o triplo do tamanho real (paranoia total). Quando voltamos da lua de mel, eu e minha mulher, nossa primeira atitude foi entrar na academia. Meu medo era, sem o remédio, voltar a engordar.
Procuramos uma academia bacana, anti-traumas, e deu certo. Felizmente, também consegui manter os hábitos adquiridos na época da sibutramina, e não sofri do chamado "efeito sanfona". Ainda acordo cedo, ainda como direito. Meu intestino ainda falha: contra isso, tomo um suplemento de fibras receitado por um proctologista (sim, eu fui a um).
Na academia, já consigo correr por 30 minutos seguidos (dependendo da animação do dia - assunto para um outro post). Hoje, fiz minha segunda avaliação: 88 quilos, menos porcentagem de gordura, mais músculo. Minhas roupas velhas estão largas. Muitas eu já dei. As que minha mulher me forçou a comprar mais "na medida" estão OK hoje.
Mas ainda assim me considero longe do ideal. Ideal? Não sei mais o que é isso. Ainda tenho barriga, tenho as tais gorduras, mas me sinto bem. Às vezes. Se fico um dia sem ir à academia, logo penso: "merda, engordei uns dois quilos hoje", mesmo comendo pão integral com alface e queijo branco na janta, arroz e frango grelhado no almoço e banana no café da manhã. Para ajudar, sempre tem o churrasco da família, a cerveja com os amigos, o lanche com a patroa para fugir do trivial, a feijoada do sogrão: comer é uma atividade social, e não apenas fisiológica (e disso tudo, nesse tempo todo, eu não abri mão).
Vou continuar com tudo, claro, mas talvez agora não me exija mais tanto. Emagrecer é difícil. A gente se cobra, encana, acha que não está bom, continua se vendo da mesma forma, estabelece metas inatingíveis.
Então, fica assim. A gente se vê nos 80, OK?
PS: O terno precisou ser ajustado. Para um tamanho dois números menor. E ficou sobrando.
6 de maio de 2010
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