23 de fevereiro de 2010

A eternidade em 23 minutos

Acontece de repente, e muito de vez em quando. Ultimamente, tem sido muito raro. Nem lembrava quando tinha sido a última vez. Mas eis que eu estou, de novo, apaixonado por uma música.



É o seguinte. Conheci o Luna, autor da pérola (na maior das acepções da palavra) "23 Minutes in Brussels" em um show em Londrina, que, pesquisando no Google, descobri ter ocorrido em 28 de setembro de 2001. Naquela época, uma produtora da cidade, a Madame X, inundava as noites londrinenses com shows de grupos de lo-fi e afins. Eu não conhecia patavinas de Luna, mas fui. E foi bem divertido: vocalista blasé (numa definição positiva, acredite), baixista bonitona blasé ao quadrado, bateirista blasé ao cubo e um guitarrista que não tinha nada de blasé (era, inclusive, um sósia do ET do "Homens de Preto" - sério!). As músicas, desconhecidas, passaram; deu para repetir alguns refrões e tudo bem.

Depois, acabei comprando o CD do show que eles apresentaram - o "Luna Live" - em uma dessas promoções de discos da Trama. Conheci melhor algumas músicas, mas a verdade é que o Luna nunca figurou entre minhas bandas preferidas. E, com o passar do tempo e minha recente desilusão frente à música de forma geral, acabou esquecido no limbo da minha estante de discos.

Até domingo passado. Fui fazer minha caminhada/corrida (?) e me pus a escutar o disco no mp3 player (sim, mp3 player, é um genérico, eu não tenho iPod). Ouvi o disco quase inteiro, me lembrei de algumas músicas, por outras passei insolenemente, até que me deparei com uma bateria e um baixo convidativos. E logo depois uma guitarra displicente. E a bateria explodindo (no máximo que o lo-fi permite "explodir", claro). E a guitarra base, num timbre fantasmagórico. Fora o solo de longos minutos, como se fosse parte da rotina obrigatória de uma boa peça de lo-fi e space rock. "Meu Deus!"

"Left my hotel in the city", começa a música. "Hum, bacana". Ouvi inteira, e tudo bem. Domingo, procurei o vídeo dela no Youtube. E as letras. Ontem, no caminho para o trabalho, foi ela que escutei (levo apenas oito minutos para ir de minha casa até o trabalho; a música tem pouco mais de sete). Hoje, a mesma coisa. E aí, no final da tarde, me veio uma vontade irresistível de ouvi-la. Nunca fiz isso no trampo, mas botei o fone no ouvido esquerdo e mandei ver. A constatação: eu estava apaixonado.

"23 Minutes in Brussels" é absurda de boa. Mas tenho, também, plena convicção de que daqui a uma semana, ou menos, poderei não estar mais achando isso (assim como já aconteceu com tantas músicas pelas quais me apaixonei). Tudo bem, acontece.

Constatar a minha paixão (me deu vontade de usar aspas agora, mas seria um erro) me fez enxergar outra coisa: tenho um sentimento meio contraditório pelo fato de ter, por tanto tempo, alimentado meu "vício" (aqui sim) por descobrir bandas novas. Contraditório porque, não fosse por isso, eu jamais teria descoberto "23 Minutes in Brussels" e outras tantas pérolas perdidas por aí, mas também me parece uma tremenda perda de tempo ter corrido tanto atrás de tantas referências, dicas e etc.

Por isso eu dou risada de gente que se gaba por ter um zilhão de discos. Tipo de gente que eu já invejei. Essa que se gaba pelo "ter", mas que no fundo não sabe admirar de verdade o que possui. Quando muito, mal conhece o que lota suas prateleiras. É com descobertas como a de "23 Minutes in Brussels" que vejo que a música é uma experiência subjetiva, única e insubstituível. E aqui, mais que em qualquer outro contexto, qualidade vale muito mais que quantidade.